O gaúcho Ivan Pacheco, um dos 180 médicos (56 brasileiros) que irão coletar amostras para testes de dopagem dos atletas durante os Jogos, está confiante. Ele entende que esta pode ser a Olimpíada mais limpa dos últimos tempos. É que o remédio amargo da exclusão de boa parte da delegação russa, imposto pela Agência Mundial Antidoping, deve provocar cautela nos que planejam arriscar o uso de substâncias proibidas.
– E ainda tem os exames direcionados. Se você percebe algo diferente em um atleta, na prova ou a partir de informações pregressas, podemos solicitar. E o faremos sem receio, se entendermos necessário – avisa Ivan, que deve ser escalado para a final do futebol, entre outros esportes.
O rigor será extremo: esse foi o tom do encontro realizado nesta quarta-feira com todos os médicos envolvidos em um hotel do Rio de Janeiro. A reunião de alinhamento foi comandado por outro gaúcho, Eduardo de Rose, responsável por todo o controle da Rio-2016. A conta final da Olimpíada baterá em 5 mil exames nas 42 modalidades. Todos os medalhistas serão submetidos.
Leia mais:
Árbitro espanhol apita estreia do Brasil no futebol masculino
Dinamarqueses sofreram furtos dentro da Vila Olímpica, diz chefe da equipe
Equipe de futebol feminino da Alemanha estreia na Olimpíada com goleada por 6 a 1 sobre Zimbábue
Quanto aos outros, aí dependerá de sorteio. Testes de urina, sempre. Mas também de sangue. Estes serão escolhidos aleatoriamente, por meio de um programa no sistema da Wada. Um medalhista, portanto, pode ter de recolher urina e sangue, enviados para análise ao Laboratório Brasil, o antigo Ladetec. O laboratório carioca chegou a ser descredenciado, mas recuperou a chancela do Comitê Olímpico Internacional (COI). Os resultados saem em 48 horas.
– Os médicos são experientes, escolhidos a dedo. Sabem identificar quando algum atleta está diferente só pelo comportamento. Se precisar, podemos pedir exames de todos os participantes de uma prova – explica Ivan, membro da comissão da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem e condecorado no ano passado pelo COI, na Suíça.
O lado obscuro do esporte é uma ciência. Há centenas de laboratório clandestinos pesquisando e sintetizando novas drogas para melhorar o rendimento. Drogas que escapem ao controle. Uma medalha de ouro movimenta milhões. Perde-se os escrúpulos por elas. Mas, além do castigo russo, também aí Ivan acredita numa Olimpíada um tanto mais limpa. É que os retestes – exames feitos muito tempo depois em frascos com material antigo coletado – estão metendo o medo nos mais ousados, os chamados cientistas do doping. E se a droga for nova e não detectável hoje, mas cair na malha fina no próximo ciclo olímpico?
– Acredito que os resultados positivos fiquem mais ou menos no mesmo patamar de sempre, entre 2% e 3% do total, mas com boa chance de cair um pelo cenário de que o cerco está se fechando – resume Ivan Pacheco.
*ZHESPORTES