Pouco antes do início dos Jogos Olímpicos, os comentários mais tranquilos na internet eram mais ou menos assim: "Apaga a tocha!", "Olimpíadas é roubalheira!" ou "vai ser um vexame!". Esses eram os mais tranquilos, os mais raivosos desejavam a morte de todos os que conduziram a tocha olímpica e aguardavam ansiosos um atentado terrorista. O lado zoeiro da Internet fazia o "bolão do atentado", tentando adivinhar em que dia aconteceria a tragédia. Muitos comentários sobre a água podre da baía de Guanabara, muitos comentários sobre a mediocridade da seleção brasileira de futebol, muitos comentários sobre o zika vírus.
O discurso foi mudando, os atletas foram conquistando algumas medalhas e emocionando o mais descrente. Deu pra ver direitinho como o jogo virou no momento que o nadador americano disse que tinha sido assaltado e todo mundo disse que é mentira. "Aqui não tem assalto!", "quem é você pra nos difamar", "volta pra casa, americano! Aqui é brasil-sil-sil!". O jogo tinha virado. Todo mundo tinha virado patriota e não tinha água verde que nos fazia ter vergonha do primeiro país sul-americano a sediar uma Olimpíada. Éramos os maiores anfitriões do mundo, amados por gringos, elogiados por Bolts e Phelps e ídolos de todos os cantos do mundo.
Leia mais:
Brasil consegue melhor desempenho da história, mas falha em meta de top 10
Chuva e vento no Rio causaram transtornos antes da cerimônia de encerramento da Olimpíada
Choro do bicampeão Serginho emociona o Maracanãzinho
Mas nem tanto ao Leme nem tanto ao Pontal. Não era difícil prever que a Olimpíada seria um sucesso de público (a Copa foi exatamente igual) assim como não é difícil prever o que vai acontecer a partir de agora: o estado do Rio de Janeiro terá sérias dificuldades financeiras, em um ano teremos instalações olímpicas abandonadas, a insegurança vai voltar depois que os 80 mil policiais voltarem para o massacrante dia a dia, o investimento no esporte deve continuar parecido com o que era antes dos Jogos. É um roteiro terrivelmente previsível: odiamos os Jogos, amamos os Jogos, sofremos as consequências dos Jogos, ignoramos causas e consequências.
A mais significativa competição começa agora: chama-se eleições. São jogos chatíssimos, com atletas despreparados, a cobertura jornalística é péssima (inclusive, porque a lei eleitoral impõe uma série de limitações). Mas é a competição mais importante, aquela que vai definir se estaremos vaiando ou aplaudindo as decisões mais importantes da próxima década, dos próximos cinquenta anos. Uma sequência de boas eleições podem nos ajudar a ter orgulho de outras coisas, não só de medalha de ouro.
Os jogos foram lindos, como era óbvio que seriam. O Brasil é um país incrível. Uma pena lembrarmos disso tão de vez em quando. Vai demorar muito até uma próxima Olimpíada ser realizada aqui de novo, pra gente sentir esse orgulho novamente. Seria bom termos outros motivos.
*ZHESPORTES