Desembarcar no Rio de Janeiro é desembarcar no Brasil. O Brasil é essa nação cheia de sotaque, culturas diferentes, mil referências, mas pro gringo o Brasil é o Rio de Janeiro. Essa terra de samba, natureza, perigo. Uma cidade sem lei. Cada lei, aqui, não é uma lei, é uma sugestão. Não pode estacionar na calçada, mas se precisar manda ver. Não pode furar sinal, mas se precisar tá de boa. Não pode ambulante na praia, mas se bater aquela fome tá ok.
No Rio tudo pode: pode natureza, pode favela; pode praia, pode entulho; pode loja oficial dos produtos olímpicos, e pode camelô a cem metros dali. Que outro lugar do Brasil, talvez da América do Sul, pra fazer uma Olimpíada?
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Tem que ser no Rio. Com problemas estruturais, ecológicos, de mobilidade. Mas tem que ser no Rio. A representação do Brasil, pro bem e pro mal. Não dá pra ser em outro lugar. Não existe outra cidade mais interessante no país. Para alguns um piada pronta. Pra outros, a terra do Cristo, da bossa nova, do futebol. Desembarcar no Rio de Janeiro é meio que desembarcar no Brasil.
Ao chegar no aeroporto Santos Dummond – aquele em que os pilotos do avião fazem uma manobra de aterrisagem e mostram a beleza de Botafogo, Flamengo, e o bondinho do Pão de Açúcar pra quem estiver do lado direito, na janela e longe a asa – você tem três opções de transporte: um trem VLT (veículo leve sobre trilhos) que anda apenas 18 km até a rodoviária; táxis especiais amarelos que cobram um pouco mais para qualquer trajeto; ou chamar um Uber, o aplicativo de motoristas particulares, que acabou de inaugurar um quiosque em pleno shopping Bossa Nova, anexo ao aeroporto.
No quiosque o cliente encontra wi-fi gratuito, água e bala oferecidos sem custo, espaço pra sentar e esperar o carro, além de atendentes que podem auxiliar em qualquer dúvida. Além disso, diversos carros da empresa ficam parados ao lado do quiosque, agilizando a chamada. Acostumado a ser abordado com aquele ímpeto assustador toda vez que chegava ao Rio, a novidade é um alento.
No primeiro dia de Rio de Janeiro eu precisava validar minha credencial. Me falaram de uma linha de metrô que levava até a vila olímpica, mas não permitiram minha entrada sem credencial validada. Me falaram de um shuttle especial para imprensa, mas ninguém soube me informar exatamente como isso funcionava. Para chegar até o ponto de validação da credencial, optei por um táxi. Cerca de uma hora e meia de viagem ao custo de 90 reais.
Mesmo que eu tivesse pegado a linha de metrô exclusiva, teria que fazer baldeação para um ônibus BRT, e andar cerca de 500 metros até a Vila Olímpica. Não existe uma forma simples de se locomover pelo Rio durante os Jogos, a não ser que você esteja em um carro credenciado. Estes podem andar em uma faixa exclusiva, pintada de verde, que facilita o trânsito de atletas e comitivas. Ainda assim, a faixa aparece e desaparece em diversos pontos da cidade, deixando todo mundo confuso.
Um colega jornalista que teve a oportunidade de usar carros credenciados conversou com o motorista, que deixou escapar:
– Um carro deste credenciado pode tudo. A gente não toma multa nenhuma, nem por estacionamento e nem por excesso de velocidade.
Quem manda no Rio nos próximos vinte dias é o COI.
*ZERO HORA