A questão agora é saber se o raio vai cair de novo em algum lugar. A nona medalha de ouro em nove provas disputadas em Olimpíadas veio com lua cheia no Engenhão, na vitória da Jamaica no 4x100m. Usain Bolt alcançou o que parecia inalcançável: o triplo tri. Agora, ele é tricampeão nos 100m, 200m e no revezamento. Terá o Rio de Janeiro sido palco da última vez da lenda, do apagar das luzes do maior velocista de todos os tempos, enfim, da aposentadoria de um mito do esporte?
Há controvérsias, eu diria. Mas antes, a prova.
Dos três tricampeonatos, este talvez tenha sido o mais difícil por um motivo. Não dependeu só dele, embora o quarteto jamaicano seja um timaço, com Asafa Powell, Yolan Blake e Nickel Ashmeade. Ocorre que Bolt se basta. Ele recebeu o bastão na última passagem no meio do bolo, mas quando engatou uma quinta, ocorreu o de sempre. Ele ligou um turno e saltou à frente. Finalizou a prova com muita vantagem para os outros mortais.
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O ótimo público presente ao Engenhão, que novamente não lotou, causando constrangimento aos organizadores, o curtiu como nunca. A Jamaica ficou com a medalha de ouro graças ao tempo de 37seg27, deixando a surpreendente prata para os japoneses (37s60). O bronze ficou com o Canadá (37s64, após a eliminação da equipe dos Estados Unidos, devido à invasão de Trayvon Bromell na raia de Bolt pouco antes da chegada – o americano caiu logo após completar a prova.
O Brasil de Ricardo de Souza, Vitor Hugo dos Santos, Bruno Barros e Jorge Vides finalizou no sexto lugar, devido à eliminação de americanos e do time de Trinidad e Tobago, mas só de terem corrido ao lado do Raio já está de bom tamanho. Poderão contar para os netos que eram rápidos ao ponto de ter o privilégio de correr uma final ao lado dele. E que ouviram a torcida gritar "Brasil!" ao menos quando entraram na pista.
Depois, o show foi todo de Bolt, que deixou as bandeiras da Jamaica com seus companheiros e ficou com uma do Brasil. Os jamaicanos arriscaram até samba na comemoração. A prudência manda seguirem no reggae. Bem, voltemos a aposentadoria do jamaicano.
Como eu disse, há controvérsias, na medida em que ele tem dado entrevistas dúbias ao final de cada uma de suas provas no Rio, ora falando em tom de despedida, ora dizendo que enquanto suas pernas deixarem seguirá correndo por aí. Fui a todas elas. O que parece definitivo em uma muda de figura na seguinte.
Antes do Rio 2016, ele cravou que seria a última vez. Depois, voltou atrás e admitiu prosseguir mais um pouco, ainda que seja muito difícil ir até Tóquio 2020. Então, não importa o que ele diga nos próximos dias, o mistério permanecerá: o raio cairá noutro lugar outra vez. O Rio não tem do que se queixar. No Engenhão, caiu três vezes.