Aos 29 anos, a goleira Bárbara Arenhart vai defender a seleção brasileira de handebol em sua primeira Olimpíada. Natural de Novo Hamburgo, ela começou a praticar o esporte aos 11 anos, na escola. Após se aventurar na linha, encontrou-se embaixo das traves. Em sua trajetória, Babi rodou a Europa: já jogou na Espanha, Noruega, Áustria, Romênia e Dinamarca. Na seleção brasileira, ela atua desde as categorias de base. No entanto, para sua surpresa, Babi foi cortada dos Jogos de Londres, em 2012, por uma opção técnica do treinador Morten Soubak. Ela tirou uma lição do episódio: passou a jogar para si mesma, sem preocupar-se da aprovação dos outros. Deu certo: em 2013, foi campeã mundial com a seleção e escolhida a goleira da competição.
Você atua na Europa desde 2007, quando se transferiu para o Parc Sagunto, da Espanha. Quais foram as dificuldades que você teve fora do país?
Minha dificuldade maior foi o nível: levei um choque. Aqui nós jogamos de uma maneira, que lá é completamente diferente. Minha treinadora era muito braba e gritava "você não vai pegar nenhuma bola?", além de dizer que eu era muito ruim. Depois de um mês, ela queria me devolver, mas não fui. Em dois meses, a goleira titular da equipe machucou o quadril, e joguei sozinha a Copa da Rainha, campeonato muito importante na Espanha. Nós ganhamos, e fui escolhida a melhor goleira do torneio.
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Em 2013, você conquistou o mundial defendendo a seleção brasileira. Além do título, você ganhou o prêmio de goleira da competição. Foi campeã austríaca também. Aquele foi o melhor ano de sua carreira?
Profissionalmente foi. Em 2012, fui cortada da Olimpíada de Londres, o que foi bem forte para mim. No ano seguinte, o técnico do meu clube (Hypo Niederösterreich) era o Morten (Soubak), que também era o treinador da seleção desde 2009. Só que minha mãe faleceu em setembro. Graças a ele pude vir para o Brasil e voltar. Três meses depois nós fomos campeões mundiais. Sempre falo que foi um ano de choques para mim: por um lado foi muito triste; por outro, foi o ano mais feliz da minha vida.
Como você fez para superar o corte dos Jogos Olímpicos de Londres? Foi uma surpresa muito grande na época?
Eu tinha convicção que ia, talvez esse tenha sido o meu erro. Três dias antes de um amistoso contra Cuba, Morten começou a fazer reuniões individuais para comunicar quem ia ou não para a Olimpíada. Antes da partida, já no ônibus, perguntei: "Tu não vai falar comigo?". Ele respondeu que depois do jogo a gente conversaria. Chegamos ao hotel, na hora do jantar, Morten me chamou no quarto e simplesmente falou: "Você não vai para a Olimpíada". Eu comecei a rir, "Como assim eu não vou?". Fiquei sem reação.Passaram três meses e a gente só foi conversar novamente antes de uma partida da Champions League que ele foi assistir na Áustria. Morten me explicou que foi uma opção técnica, que eu era muito parecida com a primeira goleira da seleção, Chana Masson. E a Mayssa, que hoje é a minha companheira, tem um estilo muito diferente. Como estávamos todas no mesmo nível, ele optou por levar ela.
Como essa experiência te mudou?
Quando jogava, era muito insegura: achava que precisava jogar para os outros. Mudei, passei a ser feliz dentro da quadra, a entender que as coisas só fluem quando estou sendo eu mesma. Não preciso da aprovação de ninguém. Compreendi que o clube é onde jogo por profissão, e a seleção é onde eu jogo por amor. Se tiver a possibilidade de estar na seleção, sempre vou dar meu melhor porque amo defender o meu país.
Tu sentes alguma pressão pelo fato da Olimpíada ser aqui no Brasil?
Depois daquele Mundial, as pessoas esperam que a gente seja campeã olímpica.O que é um pouco surreal, para ser bem sincera. É o nosso objetivo, sabemos da nossa responsabilidade, até para elevar a atenção ao handebol no Brasil, mas nós somos um bebê a nível mundial, só temos um título. No último, em dezembro, perdemos nas oitavas para a Romênia. A Noruega tirou a gente nas quartas em Londres 2012. A Espanha nos eliminou no mundial de 2011. Todas essas seleções estão no nosso grupo da Olimpíada. Então, temos essa pressão de ganhar de quem nos tirou das competições passadas.
É melhor enfrentar as pedreiras logo de cara? Como é essa estratégia?
Nos últimos três mundiais, assim como em Londres, nós nos classificamos em primeiro do grupo, mas perdemos quando não podíamos. Então, agora nossa estratégia é saber que podemos perder no grupo, mas se classificar em quarto e ganhar nas fases seguintes. Acho que passando as quartas só vai.
*ZHESPORTES