Esqueça aquele jeitão completamente descolado de muitos atletas. Não faz parte do perfil de Eduardo Menezes, único representante gaúcho no hipismo no Rio 2016. Empresário e poliglota, o cavaleiro nascido em Santa Maria e que hoje reside na Califórnia não foca apenas na rotina de atleta. Nas "horas vagas", ainda tem seu próprio negócio com um sócio mexicano. Mas, quando a competição iniciar, garante:
– Vou dar 1000% para trazer a medalha.
É sua primeira Olimpíada. O momento requer que tipo de atividade?
Começamos a juntar a equipe em Valkenswaard, na Holanda, onde são as coxeiras do Doda (um dos integrantes da equipe brasileira). Os veterinários checam os cavalos e veem se está tudo bem. No nosso esporte sempre é momento dos animais, eles são as verdadeiras vedetes, então a atenção neles é 100%.
E os atletas?
Cada atleta tem uma preparação diferente. Eu tenho preparação física, psicológica, para estar preparado para a hora certa.
O desejo de participar de competições importantes no hipismo é antigo?
Pratico há 31 anos. Comecei com cinco, na Brigada Militar de Santa Maria, por convite de um general amigo do meu pai, que soube que eu gostava de cavalo. Montei um período lá e depois, aos oito anos, fui para a Estância do Minuano. Nunca parei. Aos 14, falei para o pai que o que eu queria definitivamente era isso, e não tinha volta. No começo me apoiaram muito, mas sempre se levanta dúvidas quanto ao futuro. Pediram para eu acabar colégio, fazer vestibular, mas fui morar na Bélgica, no dia 2 de janeiro de 1999. Então minha faculdade é a do cavalo.
Mas como você foi parar lá?
Meu cavalo morava em Porto Alegre e eu em Santa Maria. Eu tinha aula com um instrutor argentino que tinha contatos na Bélgica e sabia que para me profissionalizar precisava disso.
Sofreu muito?
O começo foi duro. Meus pais me deram o bilhete do avião, porque no começo fui como estagiário e não recebia nada. Meus pais ajudavam com dinheiro para comer. Fiquei seis meses e depois com um amigo em comum recebi proposta para morar em Monterrey (no México), onde comecei a carreira profissional e aí tive vida mais tranquila. Dois anos depois, voltei para a Europa porque senti falta. Fui para a França e depois para a Cidade do México. Montei meu negócio e hoje tenho sócio mexicano, patrocinadores mexicanos. Depois, fui para os Estados Unidos (para San Diego, onde tem uma hípica privada) com meus sócios mexicanos.
Essas escolhas mostram que você amadureceu cedo.
Não sei se tinha amadurecido cedo, mas é como se fizesse um plano de voo. Como gostaria que a coisa fosse. Mas sempre surgem mil adaptações daí. Eu sentia que era importante sair da asa dos meus pais, me virar e aprender um pouco do mundo real, para ver se era isso mesmo que eu queria.
Aprendeu quantos idiomas com tantas viagens?
Quando saí para a Bélgica, não falava o idioma local. Eu falava um pouco de inglês, por causa da escola, e na Bélgica só falavam francês, que depois aprendi. No México, só tinha tido contato com espanhol por causa do professor argentino. Hoje, eu falo bem português, francês, inglês e espanhol. Ajuda bastante porque viajo muito e faço negócio com pessoas de outros países. Gostaria de falar alemão, falo um pouco da língua em assuntos ligados a cavalos, mas é o que falta para mim.
Além do idioma, quais foram as principais dificuldades que você enfrentou?
O maior aperto foram as lesões. Entre 2002 e 2003, um cavalo deu um coice no meu joelho, fiz cirurgia de ligamento. Fiquei quatro meses fora e depois o cavalo passou por cima do tornozelo, deu uma volta e quebrou tudo, arrebentou um tendão que era meio chato de recompor. Fiquei quatro meses sem montar e corri o risco de ter que parar.
Há quatro anos você não disputou a Olimpíada. Por quê?
Na última Olimpíada não tinha experiência nem cavalo do nível para ir. E nesse esporte não adianta só o atleta estar pronto. É uma coisa de conjunto.
É sua melhor fase?
Profissionalmente, meu melhor momento. Meu cavalo eu não trocaria por nenhum outro da Olimpíada. Vou dar 1000% para trazer essa medalha.
*ZHESPORTES