Porto Alegre teve um dia olímpico nessa quinta-feira. A passagem da tocha dos Jogos do Rio pela cidade levou milhares de pessoas às ruas, a fim de saudar o símbolo da união entre os cinco continentes. A chama, que deixou o Templo de Hera, em Olímpia (Grécia), 77 dias atrás, chegará ao Maracanã para acender a pira olímpica e dar o início oficial aos Jogos, no dia 5 de agosto. Às 21h, a ex-ginasta olímpica e campeã mundial Daiane dos Santos acendeu a pira da capital gaúcha, instalada no Largo Glênio Peres, em frente ao Mercado, simbolizando a espera da cidade pela Olimpíada 2016.
O Parque Moinhos de Vento foi o palco oficial do início do desfile da tocha em Porto Alegre – antes, porém, o judoca Felipe Kitadai e a nadadora Graciele Herrmann carregaram a tocha na Avenida Ceará, em frente a um dos patrocinadores do Revezamento da Tocha. O fato de se começar pelo Parcão foi também uma homenagem ao Grêmio – já que a Arena não foi incluída do percurso –, uma vez que a Baixada, o primeiro estádio do clube, se localizava onde hoje fica o Parcão. Por isso, lá, o condutor do símbolo olímpico foi o técnico gremista, Roger Machado.
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Com um atraso de uma hora, o percurso no bairro Moinhos de Vento começou às 16h15min. Milhares de pessoas acompanharam a chama desde o início na cidade. Telefones celulares em punho, todos queriam fotografar a tocha, que se tornou objeto de culto na Capital.
– Nasci nesse bairro. Vivi a infância e a adolescência jogando bola no Parcão. É algo muito significativo para mim. Que o espírito olímpico, o da união entre os povos, possa estar presente em nosso país – disse Roger.
Manifestações estavam previstas e até eram esperadas no roteiro da tocha em Porto Alegre. O primeiro deles ocorreu quando o cortejo parou em frente à agência bancária de um dos patrocinadores do tour da chama olímpica, na Avenida Independência. Naquele ponto, houve um protesto contra o governo de Michel Temer, com um grupo de pessoas mostrando cartazes e com gritos de ordem.
Na retomada do trajeto, a tocha foi conduzida pelas ruas Miguel Tostes – nesse ponto, o folclórico taxista Nilton Boa Nova passou a seguir a chama, ao lado da corrente humana dos agentes da Força Nacional de Segurança, com uma "tocha alternativa", feita em casa, e imitando a original –, Vasco da Gama e Fernandes Vieira, no Bom Fim, até ganhar a Avenida José Bonifácio e o Parque Farroupilha, quando os campeões olímpicos começaram a receber a tocha. Primeiro, Paulão, medalha de ouro no vôlei, nos Jogos de Barcelona, em 1992. Depois, o seu companheiro de time na Olimpíada espanhola Marcelo Negrão.
– É uma alegria muito grande conduzir a tocha. É um símbolo maravilhoso, que sempre traz coisas positivas. O revezamento da tocha significa o trabalho em equipe. É um símbolo forte demais para que deixássemos passar em branco – comentou Paulão, que contou com o auxílio dos filhos Pietra e Pedro Henrique, na condução.
– Trata-se de um momento emocionante. Pessoalmente, serve para que possa coroar todo um esforço feito na carreira – afirmou Marcelo Negrão.
Em frente ao Monumento ao Expedicionário, quando houve mais uma parada da comitiva, uma jovem com uma cartola na cabeça tentou apagar a tocha, atirando água na direção do fogo olímpico. Não teve sucesso e acabou detida por dois agentes da Força Nacional de Segurança. Em seguida, teve a mochila revistada pela Brigada Militar e foi liberada. Nessa parada, os policiais que estavam nas motos tiveram dois minutos cronometrados para irem aos banheiros químicos instalados na Redenção.
A chama então seguiu por dentro da Redenção, ao som do Hino Rio-grandense, cantado à capela pelos agentes que faziam a segurança da chama, e ganhou definitivamente o centro da cidade, através da Avenida João Pessoa – onde surgiu mais uma manifestação, dessa vez, contra o governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori. E, quase ao final da João Pessoa, mais um susto: um estudante conseguiu furar a barreira da Força Nacional e atirou um copo com água na tocha – que não apagou, devido ao gás, que manteve a chama acesa. O jovem foi imediatamente detido pelo policiamento.
O ingresso do cortejo nas avenidas Salgado Filho e Borges de Medeiros foi um dos trechos de maior preocupação para a EPTC, por ser o momento mais crítico do trânsito, uma vez que os veículos não puderam acessar às vias e mais de 120 linhas de ônibus precisaram ser desviadas, por aproximadamente 40 minutos. Ao passar sob o viaduto da Borges, a tocha foi saudada por um grupo de bombeiros que, descendo de rapel, estenderam uma enorme faixa com os dizeres "Porto Alegre na torcida pelo Brasil". Os soldados do Corpo de Bombeiros, que seguiam o cortejo olímpico desceram a Borges de Medeiros entoando músicas gauchescas como Querência Amada e Eu Sou do Sul.
Em seguida, a caravana ganhou o rumo do Beira-Rio, rebatizando o Caminho do Gol para Caminho da Tocha. Antes de chegar no estádio, porém, a chama foi celebrada pela banda da Marinha, em frente ao Parque Marinha do Brasil. A judoca Mayra Aguiar, bronze nos Jogos de Londres, e esperança de ouro no Rio, carregou a tocha nas em frente ao parque. Sete condutores depois, foi a vez de Paulo César Tinga, bicampeão da Libertadores com o Inter, levar a tocha em frente ao Beira-Rio, aos gritos de "Tinga, Tinga, Tinga", pelos colorados.
– Estar à frente do Inter já representa muito mais que conduzir a tocha. Fiquei muito emocionado por ter sido escolhido – afirmou Tinga, que conduziu a tocha até o Asilo Padre Cacique.
Já no trecho final da Avenida Edvaldo Pereira Paiva, o esgrimista paraolímpico Jovane Guissone foi um dos condutores da tocha. Na etapa "gaudéria" do trajeto, o presidente da Ordem dos Cavaleiros do Rio Grande do Sul, Airto Timm, levou a chama, a cavalo, até as mãos do músico Renato Borghetti.
De volta ao Centro, e nas cercanias do Largo Glênio Peres, outro campeão olímpico do vôlei recebeu a tocha: Tande.
– Vinte e quatro anos depois, é a união da medalha com a tocha – disse ele, que exibia corajosamente a medalha de ouro conquistada em Barcelona no peito.
Depois, foi a vez de Tande entregar aos irmãos e músicos Kleiton e Kledir a chama. A dupla dividiu a tocha pela Avenida Siqueira Campos. Na reta final do tour da tocha por Porto Alegre, a apresentadora da Rede Globo Patrícia Poeta carregou o símbolo até a ginasta Daiane dos Santos. E coube à ginasta campeã mundial de 2003 ser a 77ª pessoa a conduzir a tocha pela cidade e acender a pira de Porto Alegre, sob aplausos de uma multidão, que a aguardava em frente ao Mercado Público.