Duas pessoas morreram na quinta-feira no desabamento de um trecho da Ciclovia Tim Maia, que liga os bairros do Leblon e São Conrado e foi inaugurada pela prefeitura do Rio de Janeiro há três meses. Até o fim da quinta-feira, bombeiros procuravam uma pessoa desaparecida. Especialistas consideram que houve uma falha na construção, um dos legados da Olimpíada de 2016, mas caberá à perícia avaliar se o problema aconteceu no estudo da área, no projeto ou na execução.
O engenheiro Antonio Eulálio Pedrosa, do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-RJ), acredita que o desabamento tenha sido motivado pela falta de planejamento adequado da obra.
– Ela (a ciclovia) não estava preparada para esse impacto. Não se previu a força excepcional da onda – avaliou.
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Também o especialista em análise de risco e segurança Moacyr Duarte, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), considera que uma falha em algum momento do projeto de construção deve ser analisada. E criticou o fato de a ciclovia não ser interditada em casos de ressaca e ventania.
– O guarda-corpo dela nem é muito alto. O simples fato de a água chegar à pista já assusta as pessoas. Elas podem cair lá embaixo ou se acidentar na pista mesmo e se machucar – explicou.
Após o acidente, a área foi interditada, assim como a Avenida Niemeyer, sem previsão de liberação. Esse não foi o primeiro problema na ciclovia. Passados seis dias da inauguração, em 17 de janeiro, foram detectadas falhas no guarda-corpo de estrutura metálica da via. Também houve queixas de assaltos.
As mortes
O engenheiro Eduardo Marinho de Albuquerque, 54 anos, e Ronaldo Severino da Silva, 60, aproveitavam o feriado de sol, às 11h, quando foram tragados pelas ondas do mar de São Conrado, que estava de ressaca. A busca por uma possível terceira vítima prossegue nesta sexta. A Polícia Civil abriu inquérito para investigar a ruína.
Ondas de quatro metros
As ondas chegavam a quatro metros de altura e batiam no costão da Avenida Niemeyer. Uma corrente de água, vinda de baixo para cima, levantou o leito da passarela e derrubou um trecho de 50 metros, por onde passavam ciclistas e pedestres.
A dona de casa Karina Vianna, 38 anos, contou que pedalava sua bicicleta quando parou por causa das ondas. Logo, viu uma onda mais forte arrancar a pista construída sobre pré-moldado, cerca de 20 metros à frente, onde estavam dois homens.
– Parei para me segurar, e, quando eu olhei, não tinha mais (o trecho) – relatou, emocionada.
– Tremeu, tremeu muito – completou.
A prefeitura evitou adiantar hipóteses sobre o que teria ocasionado a ruína. A GeoRio (órgão da Secretaria Municipal de Obras responsável pela contenção de encostas) vai se reunir com o engenheiro que fez a obra e a empresa para cobrar causas e responsabilidades. O secretário executivo de Coordenação da prefeitura, Pedro Paulo Teixeira, chegou a culpar inicialmente a ressaca, mas, confrontado com o fato de que a área costuma apresentar o fenômeno, preferiu "evitar especulações".
A obra foi realizada pelo consórcio Concremat-Concrejato, que prometeu "trabalhar incessantemente" para chegar às causas da tragédia. "A empresa segue todos os protocolos e normas de segurança, utilizando-se das mais modernas técnicas e equipamentos." O consórcio ainda ressaltou que a prioridade agora é "garantir o atendimento às vítimas e seus familiares".