Já classificada para a Olimpíada de 2016 na categoria até 75kg da luta olímpica, Aline Silva conversou com ZH por telefone e falou sobre a polêmica envolvendo o sparring e marido, Flávio Ramos, e a Confederação Brasileira de Lutas Associadas.
De que forma a Confederação tentou resolver a situação? Eles te ofereceram algum outro atleta como sparring? Por que não aceitou?
O Flávio é meu sparring desde o ano passado. Compramos esta briga por falta de parceiro de treinos. O meu clube, o Sesi, contratou o Flávio para treinar comigo, mas a Confederação continuava relutante. Eles explicaram que não podiam levar o Flávio porque gerariam problemas com as outras meninas que namoram lutadores e poderiam querer levá-los também. O empecilho maior era pelo fato dele ser homem e meu marido. A Confederação tentou outras pessoas, mas é diferente com o Flávio, porque o sonho é nosso. Mesmo nos dias em que ele está dolorido, ele treina igual. A gente não ia encontrar outra pessoa tão comprometida como ele.
E como surgiu a decisão de fazer a vaquinha para bancar as viagens do Flávio?
A ideia surgiu porque eu não tinha resposta da Confederação. No Pan, eu senti muita falta do meu parceiro de treino, tentei treinar como técnico e fui bem prejudicada por isso. Para o Mundial, a gente conseguiu o dinheiro da passagem emprestado e estadia com amigos. Bancamos tudo e funcionou, conquistamos a vaga olímpica. Ficou claro que eu preciso dele para treinar comigo, o resultado é muito melhor, e que não poderia esperar por ninguém para me ajudar. Então vi uma matéria sobre financiamento coletivo e achei que essa seria a saída. A arrecadação não está do jeito que eu esperava, mas talvez a gente consiga outros ganhos. A Confederação já fechou com a gente, vai ajudar. Depois da campanha, eles prometeram levar o Flávio a várias competições-chave do ano que vem, ainda não definiram quantas e quais, e vão ajudar ele com um salário mensal.
Esta polêmica com a Federação tem te atrapalhado de alguma forma?
Não posso creditar as falhas de preparação a isso, mas que fez falta para me deixar melhor, fez. Para um atleta de alto rendimento, cada detalhe faz a diferença. Os dias que eu perdi treino por não estar com ele, podem ter influenciado em uma possível melhora. Não posso culpar, mas que influencia, influencia.
O quanto treinar com um homem como sparring influencia no seu desempenho?
Se não for com um homem, eu teria que treinar com as outras meninas da seleção. Eu peso 80kg fora do período de competição, a menina mais pesada depois de mim tem 74kg. Por ser uma luta sem quimono, conta muito o peso e a força do adversário. Para eu treinar com as outras meninas, eu tenho que tomar cuidado, nunca treino forte. Quando eu treino com um homem, quem tem que dosar a força é ele. Eu treino no meu máximo todos os dias, faço o máximo de força todos os dias.
Já estar garantida na Olimpíada te dá mais tranquilidade ou a pressão só aumenta?
É muito bom por já poder treinar focada para os Jogos Olímpicos. Tenho mais tranquilidade quanto ao planejamento da preparação e para estudar adversárias. Mas a pressão é grande, porque sou a única classificada até agora. Tem que responder com muito trabalho, mais forte e mais focado.
O que a gente pode esperar da Aline no Rio 2016?
Eu vou dar tudo de mim. Já estou dando tudo de mim hoje. Se eu quero a medalha ano que vem, não vai ser no dia que vou conquistar. Vai ser hoje, amanhã, no dia a dia de treinos.
*ZERO HORA