O Brasil vai voltar a ter um piloto na Fórmula 1 depois de oito anos. Nesta terça-feira (6), Gabriel Bortoleto, 20 anos, foi anunciado como piloto da Sauber para a temporada 2025 da principal categoria do automobilismo mundial.
Será a primeira vez que um competidor representará as cores do país como titular na principal categoria do automobilismo desde Felipe Massa, na Williams, em 2017. Ele fará dupla com o experiente piloto alemão Nico Hülkenberg, que deixará a Haas no fim do ano para se juntar à equipe suíça.
Membro da academia de desenvolvimento de pilotos da McLaren desde o início de 2024, Bortoleto é considerado um dos principais talentos do automobilismo brasileiro nos últimos anos. Sua carreira é gerenciada por Fernando Alonso, bicampeão mundial nos anos 2000 e atual piloto da Aston Martin.
— Ele (Fernando) me dá várias dicas. São sempre coisas muito técnicas, sobre pilotagem, posicionamento do carro em pista, negociação de ultrapassagens, gerenciamento da degradação dos pneus — explicou Bortoleto, em conversa com o Estadão em 2023.
Título e liderança
Gabriel começou a carreira no kart. Antes de ir para as categorias de acesso à Fórmula 1, pilotou na F-4 italiana e em campeonatos europeus de kart.
E a ainda curta carreira de Bortoleto no automobilismo já tem taça no armário. Logo na estreia na Fórmula 3, na temporada 2023, ele ficou com o título pilotando pela equipe Trident.
— Nunca desistir é o que mais eu aprendi neste ano, principalmente depois de começar a temporada da F-2 como eu comecei. Caí para o 15º lugar e agora estou liderando o campeonato e é muito especial. Então, a lição é nunca desistir, manter o foco, cabeça baixa, sempre trabalhando, que as coisas vão dar certa — disse o brasileiro.
O desempenho o levou até a F-2, categoria de acesso para a Fórmula 1. E, nela, Bortoleto segue mostrando seus predicados, ao pilotar pela Invicta. Faltando duas etapas para o fim do campeonato, o brasileiro lidera, com 169.5 pontos, contra 165 do segundo colocado, o francês Isack Hadjar.
Trajetória
Quando não está na pista ou se preparando para entrar no carro, o brasileiro continua conectado ao automobilismo.
— Atualmente, meu maior hobby tem sido praticar a minha pilotagem em meu simulador de casa. Mas curto também outros tipo de jogos eletrônicos. Temos um grande grupo de amigos, quase todos pilotos, e jogamos outros jogos também que não sejam de corrida.
Nascido em São Paulo, Bortoleto vive na Itália desde 2017, quando se mudou com apenas 12 anos para a pequena cidade de Desenzano Del Garda, perto de Veneza — atualmente mora em Milão. O brasileiro começou no kart aos seis anos, por influência do irmão mais velho, Enzo. Ele obteve diversas conquistas na modalidade no Brasil antes de fazer a grande aposta em solo italiano, tradicional destino de aspirantes às grandes categorias do automobilismo.
— Comecei no automobilismo quando tinha seis anos, nos kartódromos da Granja, Aldeia da Serra e Interlagos. Quando comecei, não tínhamos (família) uma condição financeira muito boa. Meu pai criou uma empresa de telecomunicações que, na época em que comecei no kart, era muito pequena. Não tínhamos condições de pagar tudo — lembrou o brasileiro, em entrevista ao canal SBT.
Bortoleto revelou que se mudou para a Europa com apenas 11 anos, e sem avisar sua mãe.
— Ela não iria me deixar ir. Sempre foi muito apegada. Então, meu pai disse: "Daqui a um mês, vocês vão pegar um voo, e eu só vou contar que você não vai voltar quando já estiver lá". Quando chegamos, ele disse: 'Aluguei uma casa pequena, e eles vão ficar direto'. Minha mãe ficou um mês sem falar com meu pai. Quase deu término de casamento — contou.
Ele também disse que seu irmão chegou a sonhar com a carreira de piloto, mas desistiu porque a família não tinha condições de bancar duas carreiras no automobilismo.
— Meu pai adorava (F-1), sempre acompanhou o Senna. Ele vem de uma condição bem simples, então nunca pôde competir, mas sempre foi uma paixão dele. Meu irmão, seis anos mais velho do que eu, começou a competir antes e foi até os 16 anos. Mas teve que parar porque ele não tinha condições de manter os dois ao mesmo tempo — declarou.
Longe do Brasil, Bortoleto se destacou em palcos maiores, como o Campeonato Europeu e o Mundial, entre 2017 e 2019. O ano de 2020 marcou sua transição para as primeiras competições de monoposto. Ele terminou a Fórmula 4 italiana no quinto lugar. Em 2021, deu novo salto: entrou na Fórmula 3 Europeia, a antessala da F-3, na qual entrou e foi campeão logo em sua primeira temporada.
Agora na F-2, ele é o grande favorito a levantar o troféu. Antes de iniciar a preparação para a estreia na F-1 em 2025, Bortoleto tem pela frente ainda duas etapas para a conclusão da temporada: no Catar e nos Emirados Árabes Unidos, nos dois primeiros fins de semana de dezembro.