O caso da morte de Juan Izquierdo, aos 27 anos, após ter uma arritmia cardíaca no Estádio Morumbi, gerou muitos questionamentos. O uruguaio caiu subitamente, aos 39 minutos do segundo tempo, da partida entre São Paulo e Nacional, pela Libertadores.
Vendo isso, o árbitro fez um gesto com os braços cruzados chamando atendimento médico. A ambulância do estádio entrou no gramado em poucos segundos.
Em entrevista exclusiva ao ge, o médico André Pedrinelli, que estava trabalhando no jogo como o oficial médico de campo da Conmebol explica pontos do primeiro atendimento, que revelam a complexidade do caso.
— No momento da queda do Izquierdo, um jogador do São Paulo recebia atendimento na lateral, e a imagem que recebemos no tablet no momento, não focou o momento exato da sua queda — disse o médico sobre um dos maiores problemas.
— Essa imagem que recebemos no tablet tem três segundos de delay, que é para termos a oportunidade de rever um lance no aparelho o mais rápido possível. No dia do jogo havia cinco médicos no campo. Além do pessoal do Nacional, havia o colega médico do São Paulo e o emergencista da ambulância. O responsável pelo primeiro atendimento é sempre o corpo médico do clube, no caso do Juan, o Nacional. Mesmo com tantos profissionais, as decisões não são fáceis, comunicação rápida e contínua, treinamento constante e coordenação, são fundamentais nestes casos — comentou Pedrinelli.
Nas competições organizadas pela Conmebol existe um oficial médico responsável pela vistoria do estádio e verificação e treinamento de todos os profissionais de saúde envolvidos para garantir o melhor atendimento possível em emergência.
— Tudo foi feito corretamente, de acordo com os protocolos pré-estabelecidos pela Conmebol. Antes da partida é realizado o treinamento com a equipe da ambulância para, caso fosse preciso ela entrar em campo, entrar no local correto e o mais rapidamente possível, e foi isso que aconteceu. Outro ponto que treinamos foi a comunicação com o árbitro. Ele faz um sinal apontando a emergência também, e até isso é treinado. Tudo isto agiliza a comunicação interna, que é feita via rádio, para a maior agilidade e clareza das ações.
Pedrinelli alega que não é possível comparar o caso de Izquierdo com o do dinamarquês Christian Eriksen, que sofreu uma parada cardiorrespiratória em campo durante a Eurocopa 2021.
— É difícil a comparação do caso do Juan com o Eriksen. Ele teve o seu episódio acontecendo na lateral do campo, com as câmeras de televisão visualizando a jogada em si. No caso dele, o reconhecimento do quadro foi muito mais claro e rápido do que o do Izquierdo.
O médico explica que a principal diferença foi que Eriksen teve uma parada cardíaca de rápido reconhecimento.
— Ele cai e fica imóvel no chão. No caso do Juan tem pontos duvidosos que indicavam uma possível parada cardíaca e outros pontos que geram fatores clínicos divergentes. Ele teve um quadro convulsivo intenso e apresentava pulso e respiração quando entrou na ambulância. A decisão clínica não é nada fácil de ser tomada e não é questão apenas de conhecimento técnico — analisou Pedrinelli.
Tudo dentro da lei, mas é preciso mudar
Pedrinelli afirma que estava tudo dentro do regulamento.
– Se tudo está dentro da lei, e estava dentro da lei, fica difícil mudar alguma coisa, porém isso poderia ser resolvido repensando alguns pontos. Nos jogos da Fifa, por exemplo, existe uma equipe médica centralizada no campo, para entrar imediatamente em caso de emergência. É preciso repensar algumas regras e preparar melhor os profissionais que atuam nos jogos — explicou.
O médico ortopedista Pedro Pedrinelli faz parte da comissão médica da Conmebol desde 2014 e é diretor do Centro Médico de Excelência da FIFA, com mais de 30 anos de experiência em medicina do esporte.
— Sempre o médico da equipe tem prioridade de decisão sobre as outras pessoas. A gente pode aconselhar e ajudar se reconhecemos alguma situação, mas um "injury spotter" (observador de lesões) ajudaria muito, e isso está no processo de implementação da Conmebol, que já usa o tablet com os três segundos de delay para dar tempo de a gente checar o lance — opinou.
O objetivo dessa mudanças é único: proteger a saúde dos atletas.
— Na Fifa, assim como no rugby e na NFL, existe esse profissional que fica focado nesse tipo de lance, na lesão de um jogador e nos fornece informações preciosas em tempo real . Isso nos ajuda muito na tomada de decisões mais rápidas e corretas enquanto estamos realizando o atendimento — finalizou Pedrinelli.