Com raízes no bairro Lomba do Pinheiro, zona leste da Capital, Vinícius "Lok Dog" Oliveira mandou um aviso ao mundo do MMA no último dia 26 de setembro. Participante do Dana White's Contender Series, evento que serve como uma espécie de seletiva para o UFC, o gaúcho de 27 anos nocauteou o mexicano Victor Madrigal aos três minutos do primeiro round.
Na tribuna do UFC Apex, em Las Vegas, o presidente do UFC, Dana White, ficou espantando com o gancho brutal de esquerda aplicado por Oliveira. Enquanto o brasileiro comemorava com seus treinadores Rafael "Sombra" e Anderson Segatto, sabendo que o contrato com a maior organização de MMA do planeta era questão de tempo, médicos do Ultimate tentavam reacordar seu rival.
Dias depois do retorno dos Estados Unidos, GZH entrevistou de forma exclusiva Vinícius Lok Dog, Rafael Sombra e Anderson Segatto. Confira abaixo os principais trechos dessa conversa:
Vinícius, como tu te sentiu sabendo que o presidente do UFC estava ali no Apex e tu precisava impressionar para conseguir o contrato?
Eu sabia que sairia vitorioso daquela luta. Não fiquei surpreso com a reação dele. Tudo o que aconteceu lá não foi nada de diferente do que imaginava, do que treinei com a minha equipe. Quando estou lá (no cage), os organizadores já sabem que verão um show da minha parte.
Como funcionou a estratégia pra essa luta com o Madrigal?
Sombra: Foram 60 dias de trabalhos em cima do oponente. A ideia era respeitar a distância e procurar o nocaute, independente do round. Analisando vários vídeos do nosso adversário, vimos que ele aceitava muito os golpes, então era questão de tempo para a mão entrar e acabar com tudo.
Ainda sobre a preparação, como tu se sentiu na pré-luta e com o corte de peso (peso-galo até 61,2kg)?
Vinícius: A parte mais difícil foi a adaptação do treino. Eu gosto de contato físico, de "porrada". Tínhamos uma estratégia de sempre tocar no outro lutador e evitar ser tocado por ele. Mas de forma inteligente, fizemos um camp mais leve, até pra evitar lesões e o cancelamento da luta.
A maioria dos lutadores tem um começo difícil. Recentemente, em uma conversa com a Denise Gomes (gáucha que também está no UFC), ela disse que chegou a entregar panfletos para poder levar comida pra família. Como foi o teu início nas artes marciais? Lá atrás tu imaginavas que poderia chegar onde está?
Vinícius: Sempre tive o pensamento de ser um vencedor e de poder estar entre os melhores. No início, não tinha muitas condições, caminhava 34km por dia (ida e volta) para conseguir treinar na academia (Sombra Team). Depois de um tempo, o mestre Sombra me deu dinheiro pra comprar um bicicleta, o que facilitou muito o deslocamento de casa até os treinos. Com o dinheiro que ganhava dando aulas na academia, pude comprar comida e roupas, coisas que por muito tempo não tive condições de fazer. Mas, acima de tudo, o mestre Rafael Sombra nunca me desamparou. Foi ele que me disse o "tamo junto" mais sincero que ouvi até hoje.
No início, não tinha muitas condições, caminhava 34km por dia (ida e volta) para conseguir treinar na academia (Sombra Team). Depois de um tempo, o mestre Sombra me deu dinheiro pra comprar um bicicleta, o que facilitou muito o deslocamento de casa até os treinos
VINÍCIUS "LOK DOG" OLIVEIRA
Lutador gaúcho
Nada mais justo do que ele (Sombra) siga hoje ao teu lado desfrutando deste momento importante. Como que vocês se sentiram depois que a luta do Vinícius terminou? Qual o sentimento?
Segatto: Foi uma explosão. Dois meses acumulando diversos treinos e, até agora, o pessoal não entendeu a proporção do que isso significa. O Vinícius é o único porto-alegrense que está no UFC. Ele mora e treina aqui, e agora vai nos representar lá. É histórico. Primeiro grande lutador foi o Werdum, que saiu daqui e foi treinar fora. Mas o tamanho do Vinícius é algo inimaginável. Ele é o show, ele chama o público. Tem o "thrash talking", ele é o futuro dos grandes eventos.
O UFC já abriu conversas para a estreia do Vinícius?
Sombra: Surgiram boatos de que ele poderia lutar no UFC São Paulo em novembro, mas isso está totalmente descartado. Na luta contra o Madrigal ,ele machucou pé, então precisa descansar e recuperar a condição física. Nossa ideia é que no UFC 296, em dezembro, o Vinícius faça parte do card.
Tem muita gente boa nessa divisão dos galos. Vinícius, tem alguém que tu gostaria de enfrentar já na estreia?
Vinícius: Eu quero o Cristian Quiñonez. Nos encontramos pela primeira vez em 2018 no México, quando acabei "roubado" pelo Combate Americas (organizador do evento). Fizemos um primeiro round intenso, então estávamos muito cansados. No segundo round, quando estava na grade trocando golpes com o Cristian, este árbitro simplesmente interrompeu a luta do nada e todo o ginásio começou a vaiar a decisão dele. Disseram que perdi por "fadiga", nunca vi isso na vida. Então, temos algo para acertar, eu e Quiñonez. Nada contra ele, mas não terminamos aquela luta como queríamos.
O Vinícius é o único porto-alegrense que está no UFC. Ele mora e treina aqui, e agora vai nos representar lá. É histórico. O tamanho do Vinícius é algo inimaginável. Ele é o show, ele chama o público, ele é o futuro dos grandes eventos.
ANDERSON SEGATTO
Treinador de Vinícius
Entrou agora no UFC e sonha ser campeão. Vinícius, que legado tu queres construir daqui pra frente?
Eu sou a luta, e ela representa tudo para mim. É a história da minha vida. Foi uma luta para sobreviver e chegar até aqui. Se eu consegui, todos vocês conseguem também. Vão atrás dos seus sonhos sem ficar dando desculpas.