"Entrou Figueroa, atirou de cabeça. Gooooooooooool do Internacional! O capitão Elias Figueroa de cabeça cumprimentou Raul. Agora é um mar vermelho no Beira-Rio!"
"Renato cruzou. Atenção, entrou César de cabeça. Gooooooooooool do Grêmio! César. Eu disse que acreditassem. Eu pedi que acreditassem!"
As narrações do primeiro título brasileiro do Inter e da primeira Libertadores do Grêmio, entre tantas outras memórias produzidas pela voz de Armindo Antônio Ranzolin, fazem parte de um acervo com mais de 400 áudios. O conteúdo estará, a partir desta quinta-feira (17), ao alcance da quem quiser relembrar ou conhecer a história e as narrações de um dos maiores narradores esportivos do Brasil.
O projeto idealizado pela família será lançado no dia em que se completa um ano da morte de Ranzolin. O site memoriaranzolin.com.br contará com narrações marcantes de jogos da dupla Gre-Nal e da Seleção Brasileira, em grandes partidas que vão desde o Gauchão até final de Copa do Mundo.
A página também disponibilizará galeria de fotos, reportagens de coberturas marcantes e outros materiais. Também contará com depoimentos de personalidades que tiveram suas carreiras contadas por meio das narrações de Ranzolin, como Valdomiro, Figueroa, Falcão, Renato Portaluppi, Tarciso, Yura e colegas como Lauro Quadros, Pedro Ernesto Denardin, Kenny Braga, João Carlos Belmonte e Antônio Carlos Macedo, entre outros.
— O pai sempre dizia que, quando se aposentasse, gostaria de escrever um livro contando histórias que viveu ao longo dos seus 50 anos de carreira. Mas no fim, a memória começou a falhar e não foi possível. Então, resolvemos que faríamos isso por ele, mas de um jeito ainda mais especial, não usando palavras e páginas, mas a própria voz dele, que tanto encantou torcedores e ouvintes e que, felizmente, estava muito bem guardada nos arquivos das rádios por onde ele passou — destaca Cristina Ranzolin, jornalista e apresentadora do Jornal do Almoço, da RBS TV.
Como locutor, Ranzolin narrou mais de 140 Gre-Nais, deu voz a títulos nacionais de Inter e Grêmio, além da Libertadores e do Mundial vencidos pelo Tricolor em 1983. Também deixou para a eternidade o tetracampeonato da Seleção Brasileira, quando enfatizou que "se Baggio errar, não precisa mais cobrar", antes do chute que deu o título ao Brasil.
Os 50 anos de carreira no jornalismo foram além dos relatos do que ocorria nos gramados do Brasil e do Mundo. Seu último jogo foi a final do Mundial de Clubes de 1995, quando o Grêmio foi derrota pelo Ajax nos pênaltis. Ranzolin também relatou outros fatos marcantes da vida nacional e mundial, transmitidos pelas ondas das rádios Diário da Manhã (de Lages/SC), Difusora (hoje Bandeirantes), Farroupilha, Guaíba e Gaúcha, nas quais foi locutor, comentarista, apresentador e diretor.
— A ideia é que o site e as postagens nas redes sociais sejam dinâmicas e recebam atualização constante. Há, ainda, muitos depoimentos de colegas da imprensa e muito material para ser adicionado. Interessante é que cada pessoa com quem conversamos para fazer o projeto trouxe algum elemento novo, fotos, áudios e vídeos. Agora, com o lançamento do site, penso que este fenômeno deve se multiplicar ainda mais — acrescenta o o advogado Ricardo Ranzolin, filho do comunicador.
O projeto contou com a participação de amigos como Flávio Dutra e Luciano Klöckner e teve criação e produção de Bruno Chaise, design de Cauê Meneghelli e pesquisa de Ciro Götz e Marcello Campos. A página não tem fins lucrativos e conta com o apoio da Tramontina. Qualquer renda será revertida para o Asilo Padre Cacique, instituição apoiada por Ranzolin.
Nesta quinta-feira, às 18h, também será celebrada uma missa na Igreja São Manoel, por um ano de falecimento de Ranzolin.
A carreira de Armindo Antônio Ranzolin
Nascido em Caxias do Sul em 8 de dezembro de 1937, Ranzolin se mudou aos dois anos para Lages-SC. Foi na cidade catarinense em que a vocação para os microfones apareceu em narrações de partidas de futebol de botão junto com o irmão Ivan e amigos.
Seu primeiro contato com a profissão aconteceu aos 16 anos. Ainda adolescente, o futuro narrador escrevia uma coluna de crônicas sobre o campeonato amador local para o Correio Lageano. Dois anos depois, se tornou apresentador de uma resenha esportiva na Rádio Diário da Manhã. Na época, também atuou como como locutor comercial e como apresentador de programa regionalista, além de animar um show dominical de calouros no cinema da cidade.
A estreia como narrador se deu em 18 de março de 1956. No ano seguinte, chegou a Porto Alegre, onde se formou Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em 1959, ingressou na Rádio Guaíba para ser locutor comercial e redator. A primeira passagem pela Caldas Júnior durou pouco. No mesmo ano, foi contratado pela Difusora para ser utilizado como repórter e, em seguida, como principal narrador esportivo.
O novo capítulo da carreira começou em 1964 como gerente de esportes e, depois, como diretor artístico da Rádio Farroupilha. Em 1969, após atuar como superintendente da TV Piratini, voltou à Guaíba para integrar o elenco de narradores ao lado de nomes como Pedro Carneiro Pereira e Milton Jung, permanecendo na emissora até 1984, como gerente de esportes e principal locutor. A parte final da carreira foi na Rádio Gaúcha, vindo a se tornar o diretor do sistema de rádios do Grupo RBS.
Após abandonar as transmissões esportivas em 1995, seguiu como diretor da rádio e apresentador do programa Gaúcha Atualidade. Se aposentou em 2006. Em 17 de agosto de 2022, aos 84 anos, o narrador dos gaúchos faleceu em Porto Alegre. Ele deixou a esposa Yara, os filhos Ricardo e Cristina e os netos Henrique, Manoela e Antônia.