Depois de um mercado com transferências de grande repercussão midiática, a abertura do campeonato saudita de futebol, nesta sexta-feira (11), desperta um interesse até então inédito pelo torneio, mas também críticas ao país, acusado de querer melhorar a sua imagem graças a este tipo de operação no esporte.
Vários clubes sauditas conseguiram se apossar de grandes craques do futebol mundial nas últimas semanas, do francês Karim Benzema aos brasileiros Fabinho e Roberto Firmino, passando pelo senegalês Sadio Mané. Mas tudo começou seis meses antes com a contratação do português Cristiano Ronaldo pelo Al Nassr, em janeiro passado.
Em julho, o Al Hilal chegou a oferecer 300 milhões de euros (R$ 1,6 bilhão na cotação atual) para contratar o craque francês Kylian Mbappé, mas o astro do Paris Saint-Germain se recusou a se encontrar com os dirigentes daquele clube.
— A Arábia Saudita sonha em se tornar a Premier League inglesa. A imprensa está atenta a isso e alguns torcedores se perguntam em qual canal poderão acompanhar a Saudi Pro League — explica Simon Chadwick, professor de economia do esporte na Skema Business School, em Paris.
Apenas cinco anos depois de abrir suas fronteiras para turistas não-muçulmanos e permitir que as mulheres dirijam, a Arábia Saudita está tentando abrir sua sociedade conservadora, há muito fechada para influências estrangeiras.
O maior exportador de petróleo do mundo gastou centenas de milhões de dólares para ganhar destaque no esporte. A contratação de Cristiano Ronaldo, o Grande Prêmio de Fórmula 1 em Jidá e o lucrativo circuito de golfe LIV Series são alguns dos exemplos.
"O mercado mudou"
Essas iniciativas fazem parte dos grandes projetos do príncipe herdeiro Mohammed Ben Salman que visam modernizar a economia saudita e reduzir sua dependência do petróleo.
O reino quer que "a bússola do futebol profissional aponte para o Oriente Médio e o mundo árabe", segundo Moqbel Al Zabni, editor-chefe do jornal Al Riyadiah.
A contratação do craque Cristiano Ronaldo, em janeiro, pelo Al Nassr, da capital Riad, já chamou a atenção mundial para a até então desconhecida Saudi Pro League.
A Arábia Saudita continua oferecendo salários tentadores para outros grandes nomes do futebol, tanto craques veteranos quanto jogadores em plena evolução. Também conseguiu atrair treinadores para montar as peças.
—Trabalho no esporte há quarenta anos e nunca vi um projeto tão grande e ambicioso— disse à BBC o britânico Peter Hutton, que faz parte do conselho de diretores da liga saudita.
Pep Guardiola, técnico do Manchester City, afirmou que o campeonato saudita "mudou completamente o mercado" e antecipou que outros jogadores seguirão esta tendência.
"Esperar de cinco a dez anos"
Os 18 clubes da Saudi Pro League podem ter oito jogadores estrangeiros cada, então a margem ainda é ampla.
Os investimentos realizados também têm sido frequentemente interpretados como parte de uma estratégia para desviar a atenção da situação dos Direitos Humanos no país.
— A maioria das manchetes se concentra nas contratações de grandes jogadores na Arábia Saudita e não nas longas sentenças de prisão dadas aos ativistas — disse à AFP um diplomata ocidental radicado em Riad, sob condição de anonimato.
Segundo o professor Simon Chadwick, o futebol saudita ainda tem um longo caminho a percorrer.
— Provavelmente teremos que esperar de cinco a 10 anos para determinar se vai ocorrer uma mudança sustentável — avalia.
* AFP