Sorrindo, plena. Foi assim que Marlei Willers, 45 anos, cruzou a linha de chegada da 38ª edição da Maratona Internacional de Porto Alegre na manhã deste domingo (4), após percorrer 42 quilômetros por ruas da Capital e vencer a disputa feminina em duas horas, 40 minutos e 59 segundos. Depois, ao vibrar com a torcida, comemorar com a família e os amigos, dar entrevistas e, por fim, descansar, a atleta, que mora em Morro Reuter, seguiu com o bom humor intacto.
Nascida em Planalto, no Paraná, Marlei se considera gaúcha. Chegou, inclusive, a cantar a famosa música gaudéria Querência Amada logo depois de vencer a corrida.
— Toda prova é emocionante, mas em casa… Queria muito deixar isso para o Rio Grande do Sul — afirma ela, que mora aqui há 30 anos.
— Sou natural do Paraná, trago o Paraná no meu coração, com muito carinho. Mas com 15 anos vim morar para cá. Estou aqui há 30, construí minha história, minha vida, conheci o universo das corridas dentro do Rio Grande do Sul. Não tem como a gente dizer que não é gaúcha, que não é daqui. Foi muito emocionante.
Marlei começou a correr há pouco mais de cinco anos, quando tinha 39, de "maneira despretensiosa".
— Nunca imaginei que ia chegar nesse patamar profissional e competitivo. Mas as coisas foram acontecendo, foram fluindo, e fui aproveitando, abraçando uma coisinha de cada vez — explica.
Ainda assim, sua relação com o esporte é antiga: vem da infância, com influência do pai.
— O esporte sempre trouxe muito equilíbrio para a minha vida. Mas eu não tinha almejado: "Vou ser uma atleta". Muita coisa foi acontecendo, as pessoas foram se aproximando, os resultados foram vindo. Aí eu pensei: "Por que não?". Acho que a vida é assim, não tem um tempo certo, uma idade certa. Quando acontece, a gente tem que estar aberto e abraçar. E acreditar, principalmente — aconselha.
Foi acreditando que Marlei ultrapassou a queniana Vivian Jeftanui Kiplagati, uma das favoritas para o prêmio deste domingo, no final da corrida.
— A gente tem consciência disso, da superioridade delas. Mas eu tenho que fazer o meu e depois ver o que acontece. Foi o que eu fiz hoje. Eu sabia que ia ser uma prova muito difícil, mas eu sabia que ia ter todo o carinho da torcida. E a prova foi fluindo, foram acontecendo as coisas e eu aproveitei o momento — reflete.
A atleta alcançou a concorrente perto do 30º quilômetro.
— Eu me mantive muito próxima dela, dentro do universo da corrida. Às vezes eu pensava: "Meu Deus, será que eu vou aguentar o ritmo?”. Mas a gente tem consciência do que está fazendo e treina muito para esse momento. E eu fui me mantendo. Aí, no 30º quilômetro, eu percebi que ela começou a olhar muito para trás. Quando o corredor começa a olhar para trás, é porque está cansado. Percebi que meu ritmo estava normal, me aproximei cada vez mais. Senti que ela reduziu um pouco o ritmo e eu encostei nela. Aí pensei: "Agora vou aproveitar, depois a gente vê o que faz" (risos) — conta.
Com a vitória, Marlei faturou R$ 30 mil.