A partida entre Brasil-Far e Juventude, pela segunda rodada do Gauchão Feminino, ficou marcada por um episódio triste no domingo (21), no estádio das Castanheiras.
No confronto, a zagueira Beta, do Ju, relatou ter ouvido injúrias raciais de torcedores adversários. Uma pessoa que estava na arquibancada teria chamado a jogadora de "torresmo" em algumas oportunidades durante a partida.
"Aos 39'56" do segundo tempo, um torcedor do Brasil me chama de torresmo, me direcionei ao primeiro assistente e relatei o que ouvi. Minha colega Gabi Rech, lateral-esquerda, também ouviu e disse para o assistente: "Foi mais de uma vez, você não vai fazer nada?" O mesmo disse que tinha ouvido também e que relataria em súmula. No fim da partida, fui até o árbitro principal falar a respeito do ocorrido, e o mesmo afirmou para mim que colocaria em súmula, mas foram omissos e não relataram nada. Eu não consegui identificar o torcedor que cometeu a injúria contra minha pessoa, me senti impotente.
Venho a público relatar o acontecido para que não caia no esquecimento e não fique impune", disse a atleta em relato divulgado pelo Sindicato dos Atletas do Rio Grande do Sul.
Em súmula, a arbitragem relatou o acontecido da seguinte forma:
"Após o término da partida, a atleta de número 4, Roberta Cristina Silva da Rosa, da equipe do Juventude, relatou que a torcida desferiu a seguinte palavra "torresmo". A mesma sentiu-se ofendida, participo que nenhum membro da equipe de arbitragem ouviu tal palavra".
Por meio de nota oficial, a Federação Gaúcha de Futebol também se manifestou:
"A Federação também espera que as entidades policiais e desportivas apurem o caso e apliquem as penalidades cabíveis aos responsáveis. O episódio foi relatado na súmula da partida".
O Juventude afirma que o jurídico do clube está apurando o que será feito na sequência, e que a atleta não fez boletim de ocorrências após o acontecido. Por meio de nota oficial, o clube também se manifestou:
"O Esporte Clube Juventude não aceita e não se calará diante de qualquer tipo de ato ou manifestação de cunho preconceituoso ou racista, destacando que seguirá atento em relação a este e outros casos que por ventura possam ocorrer".
O Brasil-Far emitiu nota oficial sobre o assunto, repudiando o ato:
"A SERC BRASIL vem a público reafirmar que repudia veementemente todo e qualquer ato racista ou de qualquer forma de preconceito"
A FGF explica que, como foi registrado em súmula, o caso deve ser julgado no TJD.
Confira a nota do Juventude na íntegra
"O Esporte Clube Juventude vem a público repudiar as manifestações preconceituosas que partiram de um torcedor do Brasil de Farroupilha durante partida realizada na tarde deste domingo (21/08), pelo Campeonato Gaúcho Feminino, dirigidas à atleta Roberta Cristina Silva da Rosa, a Beta, capitã do Juventude na partida diante do Brasil de Farroupilha. Na ocasião, insultos foram ouvidos pelas atletas em campo e estão registrados pela transmissão oficial dos canais da Federação Gaúcha de Futebol. Há, também, o relato do ocorrido na súmula da partida.
Vale ressaltar que o futebol feminino está em franco desenvolvimento no Brasil, sendo que ainda há uma série de obstáculos a serem ultrapassados por atletas e profissionais envolvidas no trabalho junto à modalidade. Desta forma, toda e qualquer manifestação preconceituosa dirigida a uma atleta, que está em busca de seu sonho, enfrentando uma série de dificuldades, ganha ainda mais gravidade, pois torna-se mais uma lamentável, dura e condenável barreira a fim de desencorajá-la neste processo.
O Esporte Clube Juventude não aceita e não se calará diante de qualquer tipo de ato ou manifestação de cunho preconceituoso ou racista, destacando que seguirá atento em relação a este e outros casos que por ventura possam ocorrer".
Confira a nota do Brasil-Far na íntegra
A SERC BRASIL vem a público reafirmar que repudia veementemente todo e qualquer ato racista ou de qualquer forma de preconceito.
Somos uma entidade de 83 anos, fundada por descendentes de imigrantes que vieram de outras cidades estados e até continentes, trabalhadores das ferrovias oriundos de todas as regiões e de todas as etnias. E desde os primórdios aprendemos a conviver e a respeitar toda e qualquer diferença. Hoje somos uma Sociedade esportiva, recreativa e também cultural, por isso a igualdade sempre será o nosso principal pilar.
Nos consideramos referência na modalidade feminina no futebol do interior do nosso estado, modalidade esta que luta a cada dia por direitos e igualdade, combatendo preconceitos. Fazemos isso com total convicção e nunca por obrigação.
Diante dessa ideologia, estaremos sempre atentos a todos os fatos que forem levantados que possam representar algo controverso a essa ideologia, e com postura firme e responsável os apuraremos de maneira rígida e eficaz.
"Somos Rubro-verdes no coração, mas amamos e respeitamos todas as cores"