É dos pés e do talento de uma jovem de 17 anos que está depositada a esperança do futuro do futebol feminino da Colômbia. Já comparada a Neymar por seus dribles e jogadas, Linda Caicedo é uma das estrelas que vem chamando atenção na disputa da Copa América. A atacante será adversária do Brasil na decisão pelo título, no próximo sábado (30), em Bucaramanga.
Aos poucos, as estatísticas dentro e fora de campo apresentam a dimensão da joia que vem se desenvolvendo. Na última segunda-feira, foi com gol da camisa 18 que a seleção colombiana garantiu a passagem para a finalíssima ao eliminar a Argentina na semifinal. Além da conclusão certeira para o gol, a atacante se destaca pela precisão nos passes: aproveitamento de 84% somente neste jogo.
Grandes passes e jogadas de efeito são características observadas desde o seu início profissional no América de Cali, aos 14 anos. À época, foi chamada de Neymar por seus dribles e alegria no campo. O gol logo na estreia foi apenas o primeiro dos sete marcados, que garantiram a artilharia e o título nacional. As boas atuações logo geraram interesse de outros clubes locais. Chegou ao Deportivo Cali em 2020, seu clube atual, para realizar o sonho de disputar a primeira Libertadores.
Entre adversários e competições, Linda já atuou em mais de 50 jogos como profissional. Sua capacidade tática e técnica mesmo tão jovem já tem a colocado em patamares de melhores do mundo no futuro, conforme indica David Felipe Ocampo, jornalista da Red Sonora Radio Cali, da Colômbia, ouvido pela reportagem de GZH.
— Acho que falo pela grande maioria da mídia e das pessoas em geral que Linda é mais que uma promessa, é uma realidade. Sua capacidade de jogar, correr e até mesmo marcar gols fazem dela um elemento importante, não apenas para a seleção colombiana, mas também para sua equipe, o Deportivo Cali. Muitos a listam como uma das melhores do mundo no futuro, e esperamos que sim. É, sem dúvida, uma jogadora diferente — afirma.
A briga pela taça diante do Brasil não será a única. A atacante ainda terá pela frente as disputas dos Mundiais das categorias sub-17 e sub-20. A palavra "pressão" parece ser desconhecida por ela.
— Ela conseguiu lidar com a pressão de ser uma das melhores, e o que se espera daqui para o futuro é que ela continue assim, principalmente quando ir para o Exterior. Às vezes, pelo jeito que ela joga e pelo jeito que se espalha em campo, não parece que ela se sente pressionada. Pelo contrário, mostra o quanto se diverte jogando — destaca Ocampo.
Mesmo com as classificações asseguradas para a Copa do Mundo de 2023 e os Jogos Olímpicos de Paris em 2024, a Colômbia segue a busca pelo título inédito da Copa América. Em suas melhores participações até aqui ficou com o vice-campeonato, em 2010 e 2014.
Situação do futebol feminino colombiano
Mesmo com a juventude, Linda já tem aprendido a lidar com a falta de investimento de sua modalidade e tem lutado com outras companheiras por valorização. Logo na estreia da competição, todas as jogadoras da seleção protestaram diante das incertezas da realização do campeonato profissional no segundo semestre.
A situação não é um caso atípico de 2022. Todos os anos as jogadoras vivem o cenário de dúvida em relação à principal competição do país. O problema não está ligado apenas aos posicionamentos das organizações, mas dos próprios clubes locais.
— Na Colômbia, todos os anos há incerteza se haverá ou não uma Liga Profissional. E se o problema não é a liderança do futebol, são os próprios clubes. São poucos os times que têm um projeto real para o futebol feminino. Eu diria entre seis e oito clubes — aponta David Felipe Ocampo.
Pelas redes sociais, a ex-jogadora colombiana Melissa Ortiz divulgou um vídeo de união das atletas reivindicando melhores condições:
— Embora nos falte garantias, temos muito amor por esta camisa, por isso nos unimos à ilusão do trabalho em equipe, equidade nas condições de trabalho e competição.
Ainda segundo o relato de Melissa, as jogadoras da seleção estão recebendo cerca de 22 dólares (cerca de R$ 115 pela cotação atual) por dia, algo que é, por exemplo, seis vezes menos em comparação ao que é recebido pelas atletas da Venezuela.