A Corregedoria da Brigada Militar decidiu, nesta terça-feira (31), afastar pelo menos quatro policiais envolvidos nas supostas agressões ao torcedor do Brasil-Pel, Rai Duarte, internado em estado grave há 30 dias devido a uma lesão no intestino. O número de brigadianos afastados ainda não foi definido. Rai está internado na UTI do Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre, sob sedação e ventilação mecânica e já realizou quatro cirurgias.
Os policiais ficarão fora de serviço e à disposição da Corregedoria-Geral da Brigada Militar, que está conduzindo a investigação com acompanhamento do Ministério Público. Desta forma, fica mais fácil chamá-los para novos depoimentos e até acareações.
GZH apurou que a decisão tem como base elementos já coletados em depoimentos e também em laudos médicos, que indicam que os torcedores foram agredidos. No meio do mês de maio, a Corregedoria-geral da Brigada Militar e o Ministério Público começaram a colher depoimentos das testemunhas sobre o caso. Na última segunda, GZH teve acesso com exclusividade a um dos testemunhos da oitiva audiovisual realizada em 18 de maio, quando a Corregedoria da Brigada Militar e o Ministério Público se deslocaram a Pelotas para ouvir os demais envolvidos na confusão após o jogo São José 0 x 0 Brasil-Pel, em 1º de maio, pela Série C do Brasileirão, e apurar novas informações para a conclusão do inquérito.
Em um dos depoimentos, uma das testemunhas relatou suposto abuso de violência física e também reclamou do atendimento do Hospital Cristo Redentor devido a ameaças dos PMs.
Doze torcedores do Brasil-Pel foram detidos pela Brigada Militar após uma briga entre a torcida Xavante e a do São José no Estádio Passo D'Areia. Entre eles estava Rai Duarte que, desde então, está internado em estado grave na UTI do Hospital Cristo Redentor, sob sedação e ventilação mecânica. Testemunhas afirmam que ele foi agredido por PMs em um espaço dentro do estádio, assim como os demais presos.
Enquanto 11 torcedores foram detidos ainda na arquibancada do estádio, Rai Duarte foi retirado por dois policiais da Brigada Militar de um ônibus de excursão que estava próximo ao Passo D'Areia e voltaria para a Zona Sul do Estado. A cena foi registrada por um dos passageiros.
Deslocamento ao hospital
Na noite de 1º de maio, os 12 detidos foram distribuídos nos porta-malas com grades de dois carros da Brigada Militar e levados ao Hospital Cristo Redentor. O espaço pequeno obrigou os presos a ficarem encolhidos, apertados e com dificuldade de respiração, conforme o relato do torcedor, e houve dificuldade para o fechamento da porta da viatura.
"No deslocamento para o hospital, estávamos que nem bichos. Éramos cinco na viatura e a porta não estava fechando, mas botaram o Rai por cima de mim. Era um por cima do outro. Nessa hora, o rosto dele tava perto do meu e ele não piscava o olho, só gemendo" garantiu o o torcedor, afirmando que eles receberam ameaças durante todo o deslocamento: "Falavam que iriam tirar nossa camiseta, nos largar em um lugar e dizer que éramos de outra facção. Sempre rindo. Também alavam que estavam esperando o final do jogo Inter (diante do Avaí, que havia começado às 21h daquela noite) para a torcida deles nos agredir."
Conforme imagens exclusivas obtidas por GZH, os detidos chegaram ao Hospital Cristo Redentor às 20h02min. Rai Duarte desce algemado da viatura número 11261, da Força Tática do 11º Batalhão de Polícia Militar, e chega a cair dentro do veículo.
"Quando chegamos no hospital, Rai foi o primeiro retirado. Os policiais disseram que iam parar de bater, pois haviam muitas câmeras. Eles diziam que nós não podíamos dizer que estávamos mal, pois eles sabiam o nosso endereço e nos ameaçavam", falou o torcedor ouvido pela investigação.
Segundo o testemunho, os torcedores que não aparentavam lesões mais graves não receberam o atendimento médico. Ameaçados pelos policiais, eles preferiram não relatar as lesões.
"Estava todo mundo machucado. Eu dizia que não estava escutando, mas eles diziam que não poderíamos falar. Minha mão estava inchada. Eles (policiais) estavam todo tempo do lado dos médicos. Se a médica se aproximasse de mim, ela veria que eu estava lesionado. Mas ela não foi até nós. Eles nos ameaçavam para não falar. Só foi atendido quem estava visivelmente machucado. Se eles se levantassem da cadeira e tirassem nossa camiseta, iriam ver as lesões", declarou em parte da oitiva.
Nota da BM
Durante a tarde desta terça-feira (31), a Brigada Militar emitiu nota sobre o caso:
A Brigada Militar informa que, em relação ao Inquérito Policial Militar que investiga os fatos ocorridos na partida de futebol entre o Esporte Clube São José e Grêmio Esportivo Brasil (Brasil de Pelotas), os trabalhos estão sendo realizados dentro dos parâmetros legais exigidos, tendo o acompanhamento do Ministério Público RS, OAB/RS e Defensoria Pública RS.
O procedimento está na fase de análise das mídias colhidas dos locais onde os fatos ocorreram. Nesta semana, foi obtida a relação de funcionários do Hospital Cristo Redentor que atenderam os torcedores do Brasil de Pelotas, a partir da qual deverão ser realizadas novas oitivas. Os Policiais Militares envolvidos já encontram-se afastados das funções que desempenhavam na Força Tática do 11º BPM, passando a desenvolver suas atividades no policiamento ostensivo geral do Batalhão. Outras medidas poderão ser adotadas no desenrolar das investigações.