
Alguns dos principais clubes do futebol gaúcho se mostraram favoráveis ao Projeto de Lei aprovado pela Assembleia Legislativa na terça-feira (15) que prevê ingressos a baixo custo em jogos de futebol no Rio Grande do Sul. A medida, para ser transformada em lei, ainda precisa ser sancionada pelo governador Eduardo Leite.
O texto estabelece que 5% dos ingressos destinados aos não sócios devem ter custo popular para que pessoas de baixa renda tenham condições de irem ao estádio. Para ter direito, será preciso estar inscrito no Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal. Essa modalidade de entradas deverá custar, no máximo, 20% do valor mais baixo cobrado pelos bilhetes. Jogos em que há lotação somente com a presença de associados não serão impactados.
— É um assunto mais de gestão dos clubes. Os projetos sociais são sempre vistos com bons olhos. Só é preciso ter cuidado se não há uma interferência estatal na gestão dos clubes. Em um primeiro momento, o impacto é benéfico — analisa Luciano Hocsmann, presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF).
O projeto, de autoria do deputado Juliano Franczak, o Gaúcho da Geral (PSD), define que clubes com programas de ingressos a valores populares não precisam se adaptar à nova diretriz, caso do Inter. A categoria "Academia do Povo" prevê o pagamento de R$ 10 de mensalidade e mais R$ 10 pela entrada. O Estatuto prevê 500 ingressos disponíveis na modalidade por partida. A demanda, de acordo com Victor Grunberg, vice de administração colorado, tem sido, na média, acima desta quantidade.
O Grêmio ainda não conta com este tipo de programa. Em contato via assessoria, a Arena Porto-Alegrense, responsável por determinar a política de vendas de ingressos do estádio gremista, disse que aguarda a lei ser sancionada para realizar as adequações necessárias.
O Brasil-Pel é outro clube que não precisará se enquadrar à nova legislação. Desde o início do ano, 200 torcedores desempregados entram de graça a cada jogo disputado no Bento Freitas. O cadastro é feito com carteira de trabalho e há rodízio entre os cadastrados. Se a procura for elevada, o torcedor que assiste a uma partida nas arquibancadas vai para o fim da fila no próximo confronto.
— O Brasil apoia a ideia. O futebol ficou elitizado, infelizmente muitas pessoas não têm condição de ir ao estádio. Locomoção, lanche, ingresso... isso pesa muito, e estamos saindo da crise da covid agora mergulhados em outros problemas que irão afetar o mundo devido à guerra — avalia Vinicius Colvara, diretor de marketing xavante.
Companheiro do Brasil-Pel na Série C do Brasileirão, o Ypiranga aprovou a ideia. O clube ainda não conta com um programa que contemple os torcedores de baixa renda, mas a direção e a prefeitura de Erechim dialogam para viabilizar uma nova modalidade associativa.
— Creio ser uma boa ideia para atrair o público de baixa renda. Nós temos um estádio grande com bastante espaço, já tivemos projetos próprios de locais com ingressos a valores populares. Em princípio não vejo problemas com o projeto, só ver os detalhes para operacionalizar adequadamente — explica o presidente Adilson Staniewicz.
Classificado para a disputa da Série D, o Novo Hamburgo tem posição similar. A direção não acredita que a medida possa interferir de forma negativa no clube.
— Em primeiro momento não vejo problemas ao nosso clube. Se beneficia o torcedor menos favorecido. Sou a favor desde que tenhamos regras —afirma o presidente Raul Hartmann.
Com as disputas da Série A do Brasileirão e da Copa do Brasil pela frente, o Juventude se mostrou favorável à ideia. No entanto, espera a sanção do governador para tomar conhecimento dos parâmetros e se adequar. O Caxias, que jogará a Série D em 2022, afirmou, por meio do presidente Paulo Cesar Santos, concordar com medidas que facilitem o acesso de torcedores de baixa renda aos estádios. Contudo, aguarda mais detalhes para avaliar o impacto da iniciativa.
Dos clubes consultados por GZH, o Aimoré foi o único que demonstrou alguma preocupação com o Projeto de Lei. Há o medo de que a arrecadação caia ainda mais nas partidas no Cristo Rei. O clube, segundo o presidente Werner Carvalho, teve a pior média de público pagante desta edição do Gauchão.
Os Boletins Financeiros disponibilizados pela FGF apontam que o único jogo em que o Aimoré atuou como mandante e conseguiu arrecadar algum valor foi quando recebeu o Grêmio. Nos outros confrontos, o clube teve prejuízo financeiro ao sediar a partida.
— Acho importante que todos tenham acesso ao futebol e essa lei é uma aproximação do público, sobretudo aos grandes clubes da Capital, de estádios maiores e torcida de baixa renda muito apaixonada. Para clubes menores do Interior, como o Aimoré, que teve a pior média de público pagante do Gauchão 2022, e teria dificuldades de operacionalizar e controlar quem possui direito ou não ao benefício, vejo com temeridade. Afinal, abre uma brecha para que se tenha ainda menos arrecadação — lamenta Carvalho.
A posição dos clubes
- Aimoré: contra
- Brasil-Pel: já tem um programa social
- Caxias: aguarda mais detalhes para avaliar o impacto da medida, mas é favorável à iniciativas que propiciem o acesso de pessoas de baixa renda aos estádios
- Grêmio: se adequará ao projeto
- Inter: já tem um programa social
- Juventude: favorável
- Novo Hamburgo: favorável
- Ypiranga: favorável