A jamaicana Elaine Thompson-Herah reviveu neste sábado (31) o sabor da glória olímpica, impressionando o mundo na final dos 100 metros, cinco anos após sua conquista na Rio-2016. Mas a rainha do atletismo fez uma longa viagem para chegar até aqui, vinda de um distrito pobre do centro de sua ilha, onde cresceu com a avó.
- Banana Ground -
Elaine Thompson-Herah é natural do distrito agrícola de "Banana Ground", um lugar marcado por uma grande pobreza, situado no coração da ilha, entre as paróquias de Manchester e Clarendon.
"Nada é suficientemente bonito para Elaine. Darei a ela tudo o que tenho", contou em 2015 ao jornal jamaicano The Gleaner sua avó Gloria, que se encarregou de grande parte da educação da atleta desde que tinha apenas sete meses.
"Quando ela voltava da escola muito pequena, eu sempre preparava um bom jantar. Mesmo que tivesse que pedir dinheiro emprestado para isso", relata com orgulho.
"Sua mãe teve apenas uma filha e eu dizia que essa menina ia tirar sua mamãe da pobreza. Essa filha é uma bênção", acrescenta.
- Juvenil discreta -
No país do sprint, onde o atletismo de velocidade é muito praticado nas escolas, Thompson-Herah foi uma jovem de bom nível, mas ninguém poderia imaginar que chegaria tão alto ou que conseguiria um status de estrela no país do todo-poderoso Usain Bolt.
Em 2009, com 17 anos, conseguiu um grande resultado no campeonato de escolas do ensino médio. Foi a última a se classificar para a final, mas superou a si mesma para alcançar o quarto lugar nos 100 metros, com um tempo de 12 segundos e 1 centésimo, a meio segundo da ganhadora Deandre Whitehorne, que nunca chegou a brilhar em nível internacional. A segunda e a terceira classificada também não conseguiram este feito.
Em 2011, seu último ano na escola Manchester High terminou mal: foi afastada da equipe de atletismo por razões disciplinares.
"Todos os dias, digo a mim mesma que não esperava ter tanto sucesso no esporte", explicou à AFP. "Estou muito feliz por ter conseguido", celebrou.
- Shelly-Ann Fraser-Pryce e Stephen Francis -
Foi uma conversa com seu futuro treinador, Stephen Francis (ex-treinador de Asafa Powell), o que mudou tudo.
"Participei de uma competição (...) sem me destacar. Ele me disse que eu não estava mais na escola, que tinha que ser séria, porque corria contra campeãs naquele momento. Isso me estimulou", lembra.
Em seu grupo de treinamento, encontrou a bicampeã olímpica de 100 metros Shelly-Ann Fraser-Pryce, a atleta a quem superou na corrida deste sábado, e quem Thompson-Herah considera como "uma mentora e uma amiga".
"Quem mais a motiva é Shelly-Ann Fraser-Pryce. Fala dela sem parar", confirma sua avó.
- Cores vivas, mas discreta -
Na pista, sua imagem nos últimos anos foi marcada por cores vivas e mudanças de 'look', com colares, coroas de flores, lábios pintados da cor violeta...
No entanto, a própria Thompson-Herah insiste que é bastante discreta e tranquila.
"Depois dos meus títulos olímpicos (três ouros na Rio-2016), nada mudou, fora o fato de que agora tenho mais seguidores. Saio pouco de casa, na verdade", afirma.
E avisa: "Atenção, embora sorria o tempo todo, sou dura na pista. É algo que carrego aqui dentro".
* AFP