Tinha 19 anos quando enfrentei Pelé pela primeira vez. Foi no Pentagonal Cidade de Buenos Aires, em 1968. Jogava no Nacional, de Montevidéu. Na estreia, perdemos para o Boca Juniors por 4 a 0, fiquei no banco. Então, Zezé Moreira, treinador da época, me colocou no jogo seguinte, contra o Benfica. Ganhamos por 1 a 0, e muitos disseram que fui o melhor em campo.
Na sequência, vinha o Santos. Empatamos em 2 a 2, acho que joguei bem. Imagina, eu tinha 19 anos, e em dois dias enfrentei só Eusébio e Pelé. Quer mais? (risos)
A verdade é que aqueles jogos moldaram meu jeito de atuar. Aprendi que futebol é futebol, não violência ou grito. Respeitava os adversários e eles me respeitavam. Jogava tecnicamente, não batia em ninguém. Claro, fazia faltas, mas isso é do esporte.
O futebol sempre teve e ainda tem grandes jogadores. Mas Pelé era completo. Chutava de esquerda, de direita, cabeceava, saltava, driblava. Era rápido, mas sabia dosar o ritmo. Pelé é a imagem do futebol.
No meu primeiro contato com Pelé, tive a impressão de ser um homem respeitador. Só ouvi-lo em campo já era um aprendizado.
O Emilio Alvarez, zagueiro do Nacional, me disse que isso tudo seria bom para a adaptação ao Brasil.
Realmente, quando cheguei aqui, mantive contato com Pelé. Posamos para fotos. Nos enfrentamos algumas vezes e aprendi uma coisa: não deveríamos bater nele. Porque era esperto, quando percebia que só paravam assim, ia para perto da área e ficava esperando para levar falta.
Uma das faltas que fiz nele até ficou famosa. Foi na Copa do Mundo de 1970. Caímos os dois e levantei antes. Estiquei a mão para ajudá-lo a se erguer. Quando ele estava agradecendo, chegou a falar “Obriga…”, veio o Fontes e pisou na mão dele. Pelé ficou louco, começou a xingar. Pedi calma, falei para deixar assim… mas Pelé deu aquela cotovelada nele, fazer o quê?
Claro, vocês querem saber daquele outro lance. Foi assim: Tostão pegou a bola e tinha espaço. Tive de sair da nossa linha de defesa. Com o espaço que se abriu, ele jogou entre mim e o Matosas, onde entrava o Pelé. Era uma jogada ensaiada. O Mazurkiewicz foi na direção dele e senti que ia dar aquele drible. Corri desesperado para fechar o gol. Como era veloz, sabia que conseguia chegar na linha, só não tinha certeza de como ia fazer para frear. Nessa hora, vi que Pelé levantou a cabeça e hesitou por um instante. Mais tarde, ele mesmo me confirmou isso. Achou que o gol estaria vazio, e quando me viu por lá, tentou chutar por trás de mim. Passei correndo. Dizem que se a bola fosse no gol, pegaria no meu calcanhar. Melhor assim, não precisamos saber.
Se eu queria que tivesse sido gol? Mesmo passados 50 anos, digo: que bom que não foi gol! Se tivesse sido, não apareceria tanto. E, principalmente, não ia me render, até financeiramente. Veja como é curioso. Pelo quarto lugar na Copa do Mundo, ganhei uma medalha e US$ 2 mil. Aí, em 2006, a Volkswagen resolveu editar o lance. Eles tinham um slogan: “O gol que todo mundo sempre quis ver”. Repetiam tudo, mas dessa vez a bola entrava. Por esse comercial de 30 segundos, Mazurkiewicz e eu ganhamos R$ 20 mil.