Grêmio e Inter se preparam para voltar aos treinamentos na próxima terça-feira (5), quando entrará em vigor o decreto assinado pelo prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior, que permite a retomada das atividades físicas de atletas profissionais, desde que obedecidas recomendações específicas. Em entrevista ao programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha, neste domingo (3), o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Fernando Spilki, opinou sobre o reinício dos treinos.
— São dois universos diferentes, a sociedade em geral e a bola rolando. Com acompanhamento um pouco mais aprimorado, o futebol pode voltar, neste momento, com treinos em pequenos grupos, até porque sabemos que isso pode influir também na questão do humor das pessoas que estão em quarentena. Mas ele vai ter que voltar com muito cuidado. O risco zero é praticamente impossível de se alcançar — contou.
O pesquisador ressaltou a dificuldade de aumentar a flexibilização para outras atividades. Em uma área específica, é possível aplicar um protocolo rígido de segurança e fiscalizá-lo. No entanto, ele reforça que de forma alguma o futebol pode ir contra as normas preconizadas pelas autoridades.
— Para o resto da sociedade, existem outras implicações, como a questão numérica e a viabilidade, que é muito diferente. Tem de ter um cuidado enorme, não se pode permitir aglomerações. Não pode o futebol ser um chamariz de disseminação da doença em outros públicos. Vamos ver como vai ocorrer essa volta aos treinamentos — destacou.
A dupla Gre-Nal já realizou a compra de kits para a testagem dos jogadores e funcionários. No Grêmio, serão testes rápidos que avaliam a presença de anticorpos no organismo. O Inter não informou qual produto foi adquirido. Na modalidade escolhida pelo Tricolor, Fernando destaca os cuidados que devem ser tomados.
— Ela (modalidade de testes rápidos) tem de ser utilizada com cautela e de forma complementar. O IgM (anticorpo produzido no início da infecção viral) tem demorado um pouco para ser detectado, então nem sempre vai ser logo nos primeiros dias. Com isso, se corre o risco de ter um falso negativo. Os anticorpos da classe IgG aparecem mais tardiamente (significa que a pessoa já teve contato com a doença), onde tu já tens a cura ou a eliminação da infecção viral. Tem que ser tomado muito cuidado com os sinais clínicos e o histórico de contato com outras pessoas — afirmou.
A Federação Gaúcha de Futebol ainda estuda como serão feitos os exames dos profissionais dos clubes do Interior. Uma das possibilidades é a realização da testagem por amostragem, o que, segundo Fernando, seria inútil.
— Testar um pouquinho é o mesmo que não testar. Para um retorno adequado, será necessário que todos os jogadores sejam testados. Testar só os times mais ricos não vai adiantar, tem que ser algo universal. No caso de grupos pequenos, é complicado fazer uma testagem por amostragem. Os testes tem um índice de falha alto, imagina fazer por amostragem — finalizou.