A possibilidade levantada pela Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf) de adaptar emergencialmente a norma para que os times joguem a cada 48 horas — e não mais 66 —, para conseguir concluir em tempo o calendário nacional pode levar os clubes a fazer um rodízio ainda maior em 2020. Treinadores costumam já fazer o que os europeus chamam de "turnover", ou seja, preservar algumas peças mais desgastadas, mas se o intervalo entre partidas diminuir, a necessidade de usar bastante o grupo vai ser ainda mais séria.
Com base nessa hipótese, fizemos um levantamento de qual seria o time reserva de Grêmio e Inter, além dos principais adversários da Dupla — ou seja, os representantes brasileiros na Libertadores. Quais deles têm mais qualidade do que os gaúchos? Onde estão os pontos fracos e fortes de todos? Veja a seguir.
GRÊMIO
O Grêmio fez sete contratações para a temporada 2020, e cinco delas ganharam lugar já no time titular, ou pelo menos estão perto disso. O goleiro Vanderlei, os laterais Victor Ferraz e Caio Henrique, o volante Lucas Silva e o atacante Diego Souza saíram jogando na partida mais importante da temporada, o Gre-Nal da Libertadores. Além deles, Orejuela ficou como opção para o lado direito da defesa e Thiago Neves é a alternativa para o meio-campo.
As saídas de alguns jogadores como Michel, Galhardo e o impasse com Ferreira diminuíram as possibilidades de troca para Renato Portaluppi, e o esboço do Grêmio do "12 ao 22" seria: Paulo Victor, Orejuela, Paulo Miranda, David Braz e Cortês, Thaciano, Darlan, Jean Pyerre (que tem sido reserva de Lucas Silva); Thiago Neves, Pepê e Luciano. Ainda há Patrick, Rodrigues, Léo Gomes em vias de voltar, Júlio Cesar e meninos que sobem das categorias de base. E até André, que negocia sua saída. Quase todos, portanto, acostumados a jogar, inclusive em partidas decisivas.
— Estamos satisfeitos com o grupo — ressalta o vice de futebol gremista, Paulo Luz.
Para Arnaldo Ribeiro, comentarista do SporTV, o Grêmio se somou a Palmeiras e Flamengo como os que mais (e melhor) investiram no grupo. Depois de penar com um elenco desequilibrado entre 2017 e 2018, quando perdia muitos jogos do Brasileirão quando precisava tirar seus titulares, o ano de 2020 prometia ser de mais qualidade para Renato Portaluppi.
— O Grêmio tem seu melhor elenco nos últimos anos, mais completo. E fez isso reforçando também no titular — avalia.
Segundo ele, a retomada do futebol após a pandemia vai escancarar ainda mais a necessidade de montar grupos fortes, algo que o Palmeiras fez em 2018, quando mesmo jogando com reservas em grande parte do Brasileirão, conquistou o título, crescendo a partir da eliminação na Libertadores. Em sua visão, a questão do "time suplente" é algo importante, "até decisivo" em uma temporada.
Além dos jogadores que fazem parte costumeiramente do grupo principal (e, aos de cima, some-se Frizzo, Lucas Araújo, Guilherme Guedes e Ruan, que jogaram em 2020), outros meninos devem ganhar espaço. É o caso do atacante Elias e do volante Diego Rosa, promessas das categorias de base. Elias fez parte do grupo vice-campeão da Copa São Paulo e Diego Rosa integrou a seleção brasileira sub-17 que conquistou o Mundial da categoria.
Para o ex-lateral-esquerdo Rubens Cardoso, que oscilou entre titular e reserva no Grêmio campeão da Copa do Brasil em 2001, a rotação vai ser maior:
— Para quem não está jogando, não sai entre os 11 escolhidos é uma ótima oportunidade para mostrar o valor. O reserva tem de estar pronto. Em um tempo mais curto, vai ter uma possibilidade mais frequente para atuar, mostrar seu potencial.
INTER
O Inter mudou a forma de jogar, tanto de formação quanto de estratégia, e isso promoveu uma série de alterações na equipe. Eduardo Coudet fixou o time no 4-1-3-2 e nele encontrou uma escalação, fixada no Gre-Nal da Libertadores. Nela, figuras da estirpe de D'Alessandro acabaram no banco, como até já era esperado, e consolidou uma renovação no estilo.
A última partida antes da parada pela covid-19 d deu aos colorados a esperança de reverem Nonato, inicialmente cotado para ser titular, mas que não havia começado bem a temporada 2020. Assim, o técnico ganhou mais uma opção para a equipe. De todos os contratados, cinco viraram titulares: Rodinei (ou Saravia), Moisés, Musto, Boschilia e Thiago Galhardo.
Para Arnaldo Ribeiro, comentarista do SporTV, o Inter está em uma segunda prateleira na questão time reserva. Em sua opinião, Flamengo, Palmeiras e Grêmio ocupam o topo, tendo grupos mais fortes e equilibrados. O Inter ficaria atrás do São Paulo, seguindo de perto.
— O quarto seria o São Paulo porque fez esse investimento em grupo no ano passado, pensando em 2020, trazendo Daniel Alves, Juanfran, Vitor Bueno, Alexandre Pato. O Inter estaria mais próximo ao São Paulo do que os demais oponentes, mas sem tantos jogadores de tão bom nível. O Athletico-PR fica mais atrás, e o Santos é o último, porque perdeu muito em qualidade.
O vice de futebol colorado concorda que Palmeiras e Flamengo têm as melhores condições financeiras para montar um elenco tão vasto.
— O resto precisará usar atletas das categorias inferiores — diz Alessandro Barcellos.
Assim, a tendência é de que o Inter aproveite ainda mais os jovens. No Gauchão, Coudet deu oportunidade para guris como os volantes Johnny e Praxedes, o zagueiro/volante Zé Gabriel, o atacante Guilherme Pato, o zagueiro Carlos Eduardo e outros. O atacante João Peglow deve entrar nessa lista quando se recuperar da lesão que o afastou dos gramados em 2020. Outro que aparecerá, certamente, é Rodrigo Dourado. Além deles, o fim da categoria sub-23 deve fazer mais quatro promessas, que estavam no título da Copa São Paulo, se juntarem ao grupo profissional: o volante Juliano Fabro, os meias Cesinha e Matheus Monteiro e o atacante Léo Ferreira. Os torcedores podem se acostumar a ver uma equipe ainda mais jovem em campo no segundo semestre.
Rubens Cardoso, que foi campeão da Libertadores e do Mundial com o Inter em 2006, aponta para um aspecto a ser levado em consideração quando há muitas trocas de jogadores:
— O coletivo sofre muito, o time não tem o entrosamento adequado. A equipe considerada ideal, mesmo que tenha alguns desfalques, parte de uma base. A segunda equipe tem sempre um rodízio grande, não tem uma sequência. Para fazer um grupo forte, precisa fazer um individual bem e um coletivo. É mais fácil se destacar quando a equipe está entrosada.
ADVERSÁRIOS
O crescimento do Flamengo fica mais claro ainda quando há comparação entre os times reservas. Do grande time de 2019, dizia-se que não tinha tanta qualidade no banco. Pois as contratações de 2020 mudaram os suplentes de patamar. Com Gustavo Henrique, Thiago Maia, Pedro Rocha, Michael e Pedro, o atual campeão brasileiro e da Libertadores reforçou ainda mais as possibilidades de Jorge Jesus, enfim, rodar o grupo.
O Palmeiras, tradicionalmente forte, também dá a Vanderlei Luxemburgo um leque qualificado, principalmente na defesa e no meio-campo. As saídas de Borja, Deyverson e o doping de Rafael Papagaio reduziram as alternativas ofensivas.
Entre os demais participantes da Libertadores, fica mais perceptível a queda de qualidade quando saem os titulares. Santos, Athletico-PR e São Paulo, com menos condições do que os demais, apresentam nomes menos badalados.
— Sem condições financeiras de fazer contratações de peso, o 2020 do Santos é de aposta nos meninos do base. O grupo carece de reforços, e isso fica claro quando olhamos para o banco. A equipe perdeu jogadores importantes — avalia Bruno Lima, repórter do jornal A Tribuna de Santos.
Caso semelhante ocorre no Athletico-PR. Para a repórter Monique Vilela, da Rádio Banda B, de Curitiba, o Furacão perde força quando saem os titulares:
— O grupo do Athletico é enxuto, e o reserva fica muito distante do principal. Há muita diferença de qualidade nas laterais.
OS TIMES
PALMEIRAS: Jailson; Mayke, Luan, Vitor Hugo e Diogo Barbosa; Patrick, Zé Rafael e Lucas Lima; Raphael Veiga, Gabriel Verón e Wesley.
FLAMENGO: César; João Lucas, Thuler, Gustavo Henrique e Renê; Thiago Maia, Diego; Pedro Rocha (Piris da Motta), Vitinho e Michael; Pedro.
SANTOS: Vladimir; Madson, Luiz Felipe, Wagner Leonardo (Alex), Jean Mota (Tailson); Jobson, Sandry, Evandro (Jean Mota); Raniel, Uribe, Kaio Jorge.
GRÊMIO: Paulo Victor; Orejuela, Paulo Miranda, David Braz e Cortez; Lucas Silva (Maicon ou Jean Pyerre), Darlan, Thaciano, Thiago Neves e Pepê; Luciano.
INTER: Danilo Fernandes; Saravia (Rodinei), Rodrigo Moledo, Roberto e Uendel; Rodrigo Lindoso, Nonato, D'Alessandro, Patrick; Pottker, Gustavo.
ATHLETICO-PR: Jandrei, Jonathan, Lucas Halter, Felipe Aguilar e Abner Vinicius; Lucho, Fernando Canesin e Marquinhos Gabriel; Pedrinho, Vitinho e Jajá.
SÃO PAULO: Lucas Perri, Igor Vinícius, Anderson Martins, Walce e Léo; Liziero, Shaylon, Everton e Toró; Pablo e Tréllez.