O empresário de 45 anos que teria entregue documentos paraguaios falsos a Ronaldinho e seu irmão, Roberto de Assis Moreira, é um homem misterioso: Wilmondes Sousa Lira reside em Brasília e tem parcos registros sobre sua trajetória em bancos de pesquisa oficiais e na internet.
Nos arredores da capital Assunção, ao deixar o hotel paraguaio em que foi detido com os irmãos Assis Moreira, Lira foi escoltado por agentes de segurança e tinha a cabeça coberta por um saco preto, para não mostrar o rosto. Não havia fotos suas na internet até quinta-feira (5), quando o Ministério Público do Paraguai publicou a imagem acima. O empresário, único detido até o momento, negou-se a falar em depoimento. De acordo com o seu advogado, Marcos Estigarribia, o brasileiro irá falar nesta sexta-feira (6).
Lira está registrado como proprietário de pelo menos três empresas, todas com sede em Brasília: Global Assessoria e Soluções em Seguros, W & P Serviços de Limpeza e Comércio e W.S. Lira Apoio Administrativo. As duas últimas têm os nomes fantasias Multserv e Khronos Enterprise. Por omissão de declarações às autoridades, a Multserv está com situação cadastral "inapta" na Receita Federal.
As três empresas apresentam longas listas de atividades econômicas no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), como representação comercial, serviços de tecnologia da informação, corretores e agentes de seguros, gestão empresarial e locação de automóveis, entre outros. A sede das empresas é a mesma e, na verdade, trata-se de um endereço residencial no setor de mansões Park Way, em Brasília.
Embora o empresário seja morador da capital brasileira, o documento de identidade de Lira foi emitido no Estado do Tocantins. Essa informação consta em um contrato assinado por ele com a prefeitura de Parauapebas, no Pará, em 29 de julho de 2016. Neste ato, Lira atuou como representante da organização social Gamp, instituição filantrópica que assina contratos de gestão terceirizada de postos de saúde e hospitais, recebendo recursos do SUS para executar a tarefa.
Pelo contrato assinado com a prefeitura, a Gamp, representada por Lira na ocasião, receberia R$ 96,6 milhões por ano para fazer a gestão do Hospital Geral de Parauapebas (HGP).
Em janeiro de 2017, um novo governo assumiu a cidade paraense e houve intervenção no HGP, com afastamento da Gamp sob alegação de descumprimento de contrato e suspeitas de irregularidades.
Na lista de devedores da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), Lira figura entre os inscritos em dívida ativa, com passivo de R$ 41,4 mil. O cadastro não explica a origem do débito, mas eles se referem, em geral, a pagamentos devidos à União em impostos, tributos, multas, contribuições trabalhistas e previdenciárias.
Na Justiça, os registros são igualmente escassos. Lira e uma empresa de material hospitalar já responderam a processo na 1ª Vara de Palmas, no Tocantins, mas o caso acabou suspenso. No Tribunal de Justiça do Distrito Federal, o sistema de busca mostra a existência de um processo contra Lira, resguardado em segredo de justiça, o que impede acesso a qualquer informação.