— Minha mãe está bem orgulhosa, e isso me deixa feliz, porque ela batalhou muito pra eu ir.
É dessa forma que o estudante Claiton Farias, 14 anos, que pratica judô desde os sete, se refere à sua mais recente conquista no esporte. No sábado passado, o guri garantiu a medalha de ouro no Pan-Americano de Judô Sub-15 (categoria para atletas com 44 quilos), que ocorreu nos dias 8 e 9 de novembro na cidade de Guadalajara, no México.
Na edição de 26 de agosto, o Diário Gaúcho contou a história do judoca da Vila Vitória da Conquista, localizada perto do Porto Seco, no bairro Santa Rosa de Lima, na Capital. Sem recursos, o atleta e sua mãe, a auxiliar de produção Cláudia Farias, 40 anos, buscavam apoio para pagar pelos custos da competição internacional (cerca de R$ 10 mil).
Após a publicação da reportagem, o valor arrecadado na vaquinha online saltou de R$ 600 para R$ 2,5 mil. Além disso, a família promoveu um galeto solidário e uma rifa. Contando com a solidariedade de amigos e parentes, Claiton conseguiu levantar a quantia necessária para competir no México.
— Achei que a gente não conseguiria o dinheiro e fiquei muito feliz quando conseguimos. Me senti na obrigação de ganhar, porque muita gente me apoiou. Isso me incentivou bastante — relata o judoca, que garantiu o primeiro lugar em sua categoria.
Trajetória
Claiton, que conheceu a arte marcial por meio de um projeto social do bairro Rubem Berta, hoje treina de forma gratuita, como bolsista, no Grêmio Náutico União — referência para o esporte no Rio Grande do Sul. Para participar dos treinos, o guri utiliza, todos os dias, quatro linhas de ônibus, além de intercalar as atividades de atleta com a escola.
A rotina é pesada, mas isso não o faz desanimar. Obstinado, ele tem alcançado bons resultados dentro dos tatames: além da recente conquista no Pan-Americano — a mais importante de sua carreira –, Claiton também já saiu vitorioso de dezenas de competições estaduais e foi ouro no Campeonato Brasileiro de Judô Sub-15.
— Quando comecei, achava que ia ser só um passatempo, uma brincadeira. Hoje, sei que vou levar o judô pra minha vida. Quero chegar a uma olimpíada e me tornar campeão mundial — sonha o estudante, que também planeja cursar Odontologia.
"Sabe onde quer chegar"
Para a sensei Carla Oliveira, 40 anos, uma das treinadoras do jovem, o resultado obtido no Pan-Americano do México é apenas um reflexo da trajetória que Claiton vem construindo dentro do esporte:
— Eu já sabia que ele iria lá para ganhar. O campeonato, ele conquistou no dia a dia, a cada treino. Lá, ele foi apenas para buscar a medalha. Ficamos (o clube) muito felizes, porque o Claiton vem de uma realidade humilde, mas é comprometido e sabe onde quer chegar. Ele ainda tem um caminho longo para percorrer, mas com essa determinação, tem muito futuro pela frente.
Experiência fora do país
Além da chance de representar o Brasil na competição, que reuniu atletas de todo o continente americano, Claiton também pôde realizar sua primeira viagem internacional. Das ruas da Vila Vitória da Conquista, marcadas por disputas entre facções do tráfico de drogas, o menino desembarcou no México após cerca de 14 horas de viagem.
Segundo o garoto, a experiência foi muito legal. O ponto alto, porém, foi na volta pra casa, no reencontro com a família, já com a medalha de ouro no pescoço.
— Quando cheguei no aeroporto, minha mãe e minha dinda me receberam gritando “parabéns”. Fiquei muito feliz e, ao mesmo tempo, encabulado — relembra.
Passado o êxtase da vitória, Claiton já se prepara para encarar as próximas lutas. Hoje, ele embarca para Blumenau (SC), onde participa dos Jogos Escolares da Juventude, competição promovida pelo Comitê Olímpico do Brasil. Confiante, já almeja mais uma conquista.
Produção: Camila Bengo