O clima é olímpico, mas os Jogos são Pan-Americanos. A competição esportiva mais importante das Américas será aberta oficialmente às 21h desta sexta-feira (25) em Lima, com atenções e expectativas já voltadas para Tóquio 2020. Faltando menos de um ano para o megaevento japonês, a disputa em terras peruanas é encarada como uma espécie de preparativo de luxo para os atletas de alto rendimento do Brasil.
A delegação brasileira não será a maior que o país já levou ao Pan, mas o desafio ainda é gigante: manter-se entre as três potências esportivas do continente — com Estados Unidos e Canadá. Serão 484 competidores brasileiros, 106 a menos se comparado ao Pan de Toronto 2015, quando 590 atletas se classificaram. Mas a queda de contingente não frustrou o Comitê Olímpico do Brasil (COB).
Dentro de uma nova realidade de investimentos no esporte do país, a entidade planeja classificar o máximo de representantes possível para os Jogos de 2020. No Peru, 22 modalidades garantem vagas ou somam pontos para a próxima edição da Olimpíada.
— Não encaramos como uma redução drástica. Encaramos como uma redução normal a um patamar de participação equilibrada do Brasil nos esportes. Estamos indo com uma qualidade de atletas muito boa. Nosso objetivo é buscar as classificações olímpicas, principalmente nos esportes onde ocorre qualificação direta — garantiu Jorge Bichara, diretor de esportes do COB.
Se a meta da entidade é classificar atletas para a Olimpíada e colocar o Time Brasil entre as três primeiras nações no quadro de medalhas do Pan, no que depender dos gaúchos, o Comitê pode sentar, relaxar e curtir a competição acompanhado de um belo balde de pipoca. Dos 484 atletas da delegação brasileira, 30 nasceram no Rio Grande do Sul ou representam clubes do Estado. E grande parte desse contingente tem chance de voltar do Peru com medalha na bagagem. O carro-chefe da gauchada é uma das modalidades individuais mais tradicionais do Estado: o judô.
Com quatro atletas, a Sogipa garantiu um time dos sonhos em um dos esportes que mais angaria medalhas para o Brasil na história dos Jogos Pan-Americanos. Com 13 pódios em 2015, o judô ficou atrás apenas da canoagem (14) e da natação (26).
— A equipe é jovem, mas já tem rodagem. É praticamente a base da seleção que vai ao Mundial e da que foi ao Campeonato Pan-Americano de judô deste ano, que foi uma boa prévia do que nos espera nos Jogos. Estamos confiantes de que podemos melhorar alguns resultados — destaca Ney Wilson Pereira, gestor de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ).
Entre as maiores esperanças de ouro do Brasil, a experiente Mayra Aguiar é uma dos 11 medalhistas olímpicos que representarão o país no Peru. A porto-alegrense é a personificação do judô gaúcho e brasileiro. Bicampeã mundial, a meio-pesado de 27 anos vai para seu quarto Pan-Americano com um único objetivo: a medalha de ouro. Missão que garante não ser uma obsessão.
— Sei o quanto eu quero isso, e quero muito. Mas é uma coisa saudável, gostosa. É algo que eu quero curtir muito todos os momentos e dar o meu máximo. Só quero sair de lá sabendo que dei tudo e fiz tudo o que tinha para fazer, mas não é uma obsessão. Para mim, é assim: se eu estiver bem, ganho de todo mundo. Se estiver mal, vou perder de todo mundo — conta a judoca, em meio a gargalhadas.
Só quero sair de lá (Peru) sabendo que dei tudo e fiz tudo o que tinha para fazer
MAYRA AGUIAR
Bicampeã mundial de judô
Mayra inspira tranquilidade em meio à ansiedade dos novatos. No Aeroporto Internacional Salgado Filho, no próximo dia 5 de agosto, além da multicampeã, embarcarão três estreantes em Jogos: os também porto-alegrenses Aléxia Castilhos (-63kg) e Daniel Cargnin (-66kg), e o paulista Rafael Macedo (-90kg). Leonardo Gonçalves (-100kg), também da Sogipa e convocado para o torneio, foi cortado na noite desta quinta-feira (25) devido a uma lesão no cotovelo.
Reunido no dojô da Sogipa para a foto que estampa esta matéria, na última quarta-feira (24), o quarteto de judocas esbanjou confiança nos discursos.
—Minha expectativa é ser campeão. Fui campeão no Pan-Americano de Judô, então tô com uma expectativa bem boa. Estou preparado para o que vier, estou com o psicológico em dia e bem fisicamente — afirmou Daniel Cargnin, 21 anos.
As palavras do peso meio-pesado pareciam replicar no tatame do clube gaúcho.
— Acredito em pódio e que posso ser campeã. Sei que estou bem preparada e vou chegar forte para os Jogos. Estou feliz e ansiosa, mas é uma ansiedade boa. O clima é bem parecido com o da Olimpíada, então vai ser bom para nos prepararmos — disse Aléxia, 24 anos.
A confiança é justificada por resultados. Todos os sogipanos são os brasileiros mais bem colocados de suas respectivas faixas de peso no ranking mundial. Mayra é número 1 do mundo na categoria até 78kg. Cargnin e Macedo já foram campeões mundiais sub-21. Aléxia é campeão brasileira e coleciona pódios internacionais. Currículos que garantem o Brasil em boas mãos.
— Eles estão com a cabeça superboa. Já competiram bastante internacionalmente, mas claro que é um pouco diferente por conta de ter a mídia mais em cima. O psicológico fica mais à flor da pele. O negócio é ter tranquilidade, tentar ao máximo ficar focado. A gente faz isso todos os dias, né? Então é dar o melhor de si para voltar para casa feliz, independentemente do resultado e, tomara, com uma medalha — finaliza Mayra.
É pelo amor ao esporte, ao judô e ao Brasil que experiencia se une a juventude na busca por representar da melhor maneira possível uma história vitoriosa. A nós, cabe a torcida para que sigam levando a bandeira brasileira ao pódio pan-americano da forma que sempre fizeram tão brilhantemente.