Depois de Renan Dal Zotto, Paulão, André Heller, Gustavo Endres, Murilo, Thiago Alves, Thales e Lucão, outro gaúcho começa a trilhar seu caminho na seleção brasileira masculina de vôlei. Trata-se do caxiense Fernando Kreling, 23 anos. Apesar da pouca idade e da baixa estatura para os padrões atuais da modalidade — 1m85cm —, Cachopa, como é chamado desde as categorias de base por causa da vasta e estilosa cabeleira, já leva no currículo quatro títulos da Superliga e dois Mundiais pelo Sada Cruzeiro, time em que virou titular pela primeira vez na última temporada.
Nesta sexta-feira (12) , às 19h, o levantador é uma das armas do Brasil contra o Irã, pelo segundo jogo da fase final da Liga das Nações, em Chicago, nos Estados Unidos. O SporTV2 transmite. Com a derrota para a Polônia na estreia, a seleção precisa vencer para avançar à semi – reserva de Bruninho, Cachopa deve começar no banco.
Fernando Gil Kreling tinha 12 anos quando ia às arquibancadas da Universidade de Caxias do Sul (UCS) para ver seu irmão, Felipe Gil Kreling, o Feijão, jogar no time da Serra pela Superliga. Apesar da proximidade com as quadras, Cachopa não queria saber de vôlei. Na época, jogava futebol nas escolinhas do Juventude como volante. O problema é que tinha mais habilidade com os braços do que com as pernas. Não demorou para passar em uma peneira na UCS e começar a trocar os pés pelas mãos no esporte.
Mas, por pouco, Cachopa não largou o vôlei para estudar. Quando estava no segundo ano do Ensino Médio, em 2011, passou em primeiro no vestibular para Administração na UCS. Na mesma época, uma convocação para as categorias de base da seleção brasileira — e o prêmio de melhor levantador do Campeonato Sul-Americano — o convenceram a continuar nas quadras.
— Foi aí que pensei: "Quero essa parada para mim". Em seguida, recebi uma proposta do Cruzeiro e as coisas se encaminharam — relembra Cachopa, de Chicago, na concentração da seleção.
Em 2014, foi contratado pelo Sada Cruzeiro. Atuou como uma espécie de oitavo titular durante quatro temporadas, até assumir de vez a posição em 2018/2019 e ser convocado por Renan Dal Zotto para a seleção brasileira. A equipe adulta pode até ser novidade para Cachopa, mas vestir a camisa verde e amarela, não. Em 2013, com apenas 17 anos, o gaúcho, ao lado de Lucarelli — seu companheiro atual no time principal —, conquistou o Mundial Sub-23 em Uberlândia. Depois disso, mais títulos pelas categorias de base, que lhe deram bagagem para chegar à equipe adulta.
Nesta temporada, a comissão técnica do Brasil utilizou a fase inicial da Liga das Nações para promover testes na equipe, visando uma renovação para competições como o Pré-Olímpico, em agosto, a Copa do Mundo, em outubro, e os Jogos Olímpicos, em 2020. Cachopa ganhou espaço com estas experiências. Aproveitou o período de descanso do levantador titular Bruninho — que em maio havia conquistado a Liga dos Campeões pelo Civitanova, da Itália — para se consolidar como a primeira alternativa de Renan Dal Zotto e do auxiliar Marcelo Fronckowiak na equipe.
— Sonho em estar em uma Olimpíada desde que comecei a jogar, mas acho que tem muita coisa para acontecer. Foi uma temporada de bastante aprendizado — contava Cachopa, até ser interrompido por Renan Dal Zotto, que passou ao lado do levantador enquanto concedia entrevista a GaúchaZH:
— Está sendo — corrigiu o técnico.
— Verdade. Está sendo uma temporada de bastante aprendizado. Foi mal, professor — desculpou-se, aos risos.
Precisão e simplicidade são marcas do levantador
Cachopa estreou na seleção adulta em 31 de maio, na Polônia, pela primeira rodada da Liga das Nações, em uma vitória por 3 a 0 sobre os EUA. Aos poucos, ganhou confiança e passou a desempenhar, com o time adulto, o que há tempos já fazia nas categorias de base e no Cruzeiro. Para Marco Freitas, comentarista de vôlei dos canais SporTV, o gaúcho larga na frente de nomes como o de Rapha, 40 anos, e Thiaguinho, 25, em busca de uma vaga na equipe para a Olimpíada de Tóquio 2020.
— Ele é um levantador muito preciso, inteligente taticamente, que joga com simplicidade, sem firula. Para um cara atuar no nível que ele jogou na seleção brasileira, tem de ser especial e ter personalidade. Não dá para imaginar um grande levantador sem grande personalidade. Não se intimidou, talvez pelo fato de já conhecer este universo (de seleção) desde garoto – entende Marco Freitas.
Enquanto Bruninho esteve fora, Cachopa começou jogando nas vitórias contra Austrália, Polônia, Irã, Japão e Argentina. A velocidade e a precisão nos levantamentos, suas principais características desde quando jogava em Caxias, foram determinantes para colocar três jogadores do Brasil no top 15 em aproveitamento no ataque na competição: Lucarelli (1°), Wallace (7°) e Leal (12°).
— Estava nervoso no começo. Mas isso durou um set. Depois, as coisas ficam tranquilas e a gente desempenha o que treina — conta o levantador.
Com o retorno de Bruninho, Cachopa e o titular da posição se revezaram até o final da primeira fase da Liga das Nações, garantindo a primeira colocação geral e a classificação da seleção para a fase final.
O objetivo do gaúcho, agora, é se firmar cada vez mais como a segunda opção da equipe para, quem sabe, no futuro, assumir a titularidade, assim como fez no Cruzeiro.
— Ele é discreto. Seu jeito de jogar, sua simplicidade e sua liderança me lembram a Fofão. Isso é uma arte. Tudo na vida é equilíbrio. Se você tem um levantador que é intenso o tempo todo como o Bruninho, vai querer que o seu reserva seja mais tranquilo, sereno, para fazer um contraste — opina Marco Freitas.
Ex-levantadora da seleção brasileira, campeã olímpica em Pequim 2008 e sete vezes vencedora da Superliga, Fofão, 49 anos, também elogiou a personalidade de Cachopa. Chamou a atenção da ex-jogadora, que se aposentou em 2015, a tranquilidade com que o gaúcho entrou na seleção:
— Na primeira vez como titular, sempre dá uma ansiedade, nervosismo. Normalmente você se perde um pouco, mas isso não aconteceu com ele. Significa que estava trabalhando demais por esse momento. Está muito consciente do que tem de fazer. Essa postura, para um levantador, é fundamental. O mais importante é você transmitir essa tranquilidade — afirma Fofão.
Ao que tudo indica, Cachopa fez a escolha certa. Desistiu do futebol e até da Faculdade de Administração para apostar no vôlei. Quase uma década depois, o levantador colhe os frutos da sua aposta e se aproxima, cada vez mais, de disputar a sua primeira Olimpíada.
— É estranho. O Cachopa do segundo ano do Ensino Médio não imaginava isso. Até hoje não consigo entender o que isso tudo significa. Foge do que a gente projeta. Nunca tive essa visibilidade que estou tendo agora. Não tenho tempo de responder o monte de gente que me manda mensagem de apoio. É uma coisa muito grande — finaliza o levantador.
A Liga das Nações
REGULAMENTO
- A Liga das Nações foi criada em 2017 para substituir a Liga Mundial.
- Na primeira fase, durante cinco semanas, 16 países foram divididos em quatro grupos de quatro e se enfrentaram dentro de cada chave.
- Os cinco primeiros foram à fase final com os EUA, país-sede.
- A partir de então, as seis seleções são divididas em dois grupos Os dois melhores de cada chave avançam à semifinal.
PROGRAMAÇÃO
QUARTA-FEIRA (10)
Grupo B — Brasil 2x3 Polônia
(25/23, 23/25, 25/21, 21/25 e 15/9)
Grupo A — EUA 3x1 França
QUINTA-FEIRA (11)
Grupo B — Irã x Polônia
Grupo A — Rússia x França
SEXTA-FEIRA (12)
Grupo B — 19h — Brasil x Irã (SporTV2)
Grupo A — 22h — EUA x Rússia (SporTV2)
SÁBADO (13)
Semifinais — 19h e 22h (SporTV2)
DOMINGO (14)
Final — 20h (SporTV2)