O Gre-Nal 421, disputado no último sábado (20), mudou a vida de uma família de Cachoeirinha. Não pelo resultado da partida, mas pelos incidentes ocorridos após o jogo. Taís Dias, torcedora gremista hostilizada ao lado do filho após o clássico, no Beira-Rio, conversou com o programa Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta quinta-feira (25).
— Não me eximo da minha culpa por ter feito aquilo. Peço desculpas, de coração, para a torcida colorada que possa ter se sentido ofendida com meu ato. Em momento algum foi provocação, porque foi para a torcida do Grêmio. E agradeço, de coração, à torcida colorada que está mandando mensagens muito legais para nós — disse Taís.
Encerrado o jogo válido pela 11ª rodada do Brasileirão, Taís balançou a camisa do Grêmio em direção à torcida tricolor, posicionada na área visitante do Beira-Rio, e se viu cercada por alguns torcedores do Inter, sendo xingada e até mesmo empurrada por uma colorada na presença do filho.
— Foi um turbilhão de insultos, não só dela, mas daqueles outros torcedores que estavam com ela. Não sei nem quem disse o quê, mas ela queria a camisa. Disse que eu não iria sair com aquela camisa porque ela iria queimar. Um funcionário do clube me conduziu até as escadarias e, no corredor entre os portões, ela desceu e começou a gritar que eu era gremista e era para o pessoal me pegar. Foi onde me deu mais medo, porque tinha mais gente naquele túnel e, a partir dali, o segurança não me acompanhou mais. Então, eu dei uma apertada no passo e corri para encontrar meu marido. Depois, outro funcionário nos conduziu até o Gigantinho (ginásio) para resgatar as nossas camisas — descreveu ela, desmentindo que tenha ganho a camiseta de algum atleta gremista, como chegou a se espalhar pelas redes sociais.
Segundo Taís, a escolha pelo local onde assistiram ao jogo se deu porque a família é dividida entre os dois clubes. Ela e o filho mais novo são tricolores, os dois mais velhos (assim como o marido) são colorados. Por isso, a intenção inicial era comprar ingressos para a torcida mista. Mas, como nenhum deles é sócio do Inter, não conseguiram adquirir os bilhetes para o setor. A torcedora contou que a família se separou já na entrada das equipes em campo, quando os jogadores tricolores foram vaiados, provocando o choro do pequeno gremista. Para acalmá-lo, ela resolveu ficar embaixo da torcida do Grêmio, mas distante do marido e dos outros dois filhos.
— A gente não estava com medo. Estava um ambiente até acolhedor. Em todo o período do jogo, as camisas estavam guardadas na bolsa. E na hora do gol (de Luan), nós também não comemoramos. Meu filho me perguntou: "Mãe, foi gol do Grêmio?". Aí eu disse que sim e, quando ele foi vibrar, coloquei a mão na boca dele para que não gritasse gol — revela.
Na última terça, a família foi convidada para visitar o CT Luiz Carvalho, onde conheceu os jogadores e o técnico gremista. Desta vez, a situação foi inusitada para o pai, Lucas Baía, que é colorado. Na ocasião, inclusive, eles foram convidados para assistir dos camarotes da Arena à partida contra o Libertad, pela Libertadores.
— Tu és colorado. Tu queres que teu filho seja colorado. A mulher que empurrou minha mulher acabou com meu sonho porque transformou meu filho em gremista. Os caras deram 10 camisas do Grêmio para ele. E o Igor, que é o (filho) mais velho, dormiu com a camisa do Grêmio no outro dia. Estou ferrado — disse Lucas Baía, em um momento de descontração.
Internamente, o Inter abriu um procedimento disciplinar na Comissão de Ética e Disciplina do Conselho Deliberativo e não descarta a exclusão do conselheiro e da sócia identificadas nos vídeos. Os nomes não foram divulgados pelo clube e nem pela 20ª Delegacia de Polícia Civil, que concluiu inquérito após colher depoimentos de testemunhas e o encaminhará ao Ministério Público até o fim desta semana.
— Como pai e marido, se eu disser o que eu quero que aconteça, vou dizer uma barbaridade. Como cidadão, quero que eles paguem como a Justiça acha que deve ser, porque não sei qual a pena para isso. Como colorado, quero poder levar meu filho para o estádio sem precisar ser sócio. Não é para eu levá-lo e minha mulher apanhar. Isso não é normal — conclui o marido da torcedora gremista.