Os gaúchos já conheciam Ronaldinho. No imaginário do Rio Grande do Sul, Ronaldo de Assis Moreira era o irmãozinho mais novo de Roberto de Assis Moreira, o craque gremista do final dos anos 1980, que havia saído cedo para jogar na Suíça, mas deixado uma promessa: “Vocês precisam ver o que joga meu irmão”.
Quando cresceu, mostrou o talento que se imaginava. Havia um fenômeno em Porto Alegre. E em 30 de junho de 1999, o Brasil soube disso da melhor forma possível. A Venezuela, também. Da pior forma possível.
A estreia da equipe na Copa América era contra a Venezuela. Ronaldinho ficou no banco até os 25 minutos do segundo tempo, quando entrou no lugar de Alex. Quatro minutos mais tarde, Cafu foi à linha de fundo, cruzou. E a descrição do que veio a seguir fica a cargo de Jorge Rojas, um dos venezuelanos que foram buscar a bola dentro do gol.
— Ele dominou a bola e deu um “sombrerito”, como chamamos aqui. Na sequência, passou pelo zagueiro que tentou não fazer pênalti. Nem adiantou, porque ele achou espaço e fez um golaço. Era um gênio, um dos melhores da geração que tinha Riquelme e Aimar. E ele era melhor — diz o meia de 41 anos que até hoje ainda joga futebol profissional, no Caracas, da primeira divisão venezuelana.
Da cabine do Estádio Antonio Sarubbi, em Ciudad del Este, Galvão Bueno ficou alucinado. O drible, o domínio, a condução e a conclusão do ex-gremista deixaram o narrador da Globo sem expressão. Empolgado, eternizou a transmissão do gol aos gritos de: “Olha o que ele fez! Olha o que ele fez!”.
— Nunca pensei em nenhum bordão, as coisas saíram na hora. Era um garoto, chegando, e a jogada foi um espetáculo. Está guardado na emoção de todos nós. Ele mesmo fala que mudei o nome dele. Porque era o Ronaldinho, mas já tinha um Ronaldinho (Ronaldo Nazário). Então ficou o Ronaldinho Gaúcho. Tenho orgulho disso, tenho muito carinho. Só me assusta que já se vão 20 anos — brincou a voz do esporte na TV brasileira, ao falar sobre o lance durante sua estada em Porto Alegre para acompanhar Brasil x Paraguai.