Na noite em que Porto Alegre abandonou um certo "ranço" e voltou a apoiar a Seleção, os "gaúchos" foram decisivos para classificar o time à semifinal da Copa América. As aspas no gentílico do Rio Grande do Sul vão porque nem todos nasceram entre o Chuí e o Mampituba. Mas apareceram para o mundo trabalhando aqui. O Brasil segue na competição muito pelo que fizeram Alisson, Arthur, Everton e até Tite.
Por ordem de importância, talvez ninguém tenha superado Alisson. Identificado com o Inter por ter passado grande parte da adolescência e o início da idade adulta no Beira-Rio, poderia haver certa resistência por jogar na casa do Grêmio. Que nada. O goleiro do Liverpool foi aplaudido desde o anúncio de seu nome no telão. E correspondeu às palmas.
No primeiro tempo, impediu que Derlis González abrisse o placar, ao fazer uma defesa importante, em um chute alto e forte, quase à queima-roupa. Nos pênaltis, transmitiu tranquilidade aos jogadores brasileiros quando espalmou a primeira cobrança, de Gustavo Gómez. Diante dos olhos de seu irmão, e espelho, Muriel, também ex-Inter, teve, incrível, o nome gritado na Arena, o que foi exaltado por ele ao final.
— Alisson vem superando limites, no Liverpool e na Seleção fez grande defesa. Não temos conseguido nos ver tanto, mas comemoro muito as conquistas — declarou Muriel ao repórter Duda Garbi, na transmissão da Gaúcha.
A brincadeira foi inevitável, e partiu de Diori Vasconcelos, analista de arbitragem: no duelo com o goleiro Gatito, ganhou o goleiro Gatão.
Mas só Alisson não seria suficiente para salvar a Seleção. No meio, Arthur dominou. Primeiro ao seu estilo. Ficou com a bola, girou, tocou curto, apareceu. Ditou o ritmo. Depois, quando o Brasil ficou com um a mais, arriscou-se à frente. Bateu duas vezes, uma por cima outra defendida pelo goleiro paraguaio.
— O caminho é esse, brincaram comigo: "faz o seu". É engraçado, no jogo você está concentrado e só foca no jogo. Teve uma bola que sobrou para mim, falei: "É agora". Chutei, mas o goleiro fez a defesa. O importante, mesmo, foi a classificação — declarou.
Só que só defender e controlar não seria suficiente para avançar. Então havia Everton. O xodó nacional estava em casa. Sentiu-se como quando tem seu nome anunciado no estádio antes de entrar em campo pelo Grêmio. Com uma novidade: em seu clube, o mais aplaudido é Renato Portaluppi. Na Seleção, foi ele.
Cebolinha manteve sua característica. Partiu para cima desde o primeiro lance. Mas, no primeiro tempo, não teve jeito. Piris, seu velho conhecido de Libertad, conseguiu contê-lo. Chegou a trocar de lado com Gabriel Jesus. Nada feito. No segundo tempo, aí, sim, teve vantagem. Foi dentro de quem aparecia e, agora, mais inteiro do que os adversários, era quase imparável. Criou por dentro, pela linha de fundo. O tempo foi passando, passando e até ele se precipitou, chutando para fora. Teve a bola do jogo nos acréscimos, mas um zagueiro bloqueou o caminho do gol.
Seguro atrás, controlado no meio, ousado na frente, o Brasil teve certa organização. Até excessiva? O time não se desajustou, girou de um lado para o outro. Não teve muito lance individual, é verdade. Tite, o gaúcho da Serra, teve, neste jogo, uma demonstração do que uma defesa forte pode fazer. É possível que mexa no time para a semifinal.
Mas se teve segurança, controle, ousadia e organização. O que faltou? Gol. Isso não veio dos atletas "daqui". No final das contas, a decisão ficou nos pés de Jesus. Mas Jesus não é o filho de Deus? Todo mundo sabe que "Deus é gaúcho", já ensinou Teixeirinha.
Tomara que os mineiros façam a parte deles.