Vocês podem até não acreditar, mas Daniel Alves era um cara tímido. O mesmo jogador que hoje em dia aparece com roupas extravagantes em eventos badalados e concede entrevistas fortes já foi um atleta discreto e introspectivo.
O baiano de Juazeiro, criado na roça, pouco chamava a atenção no começo de caminhada na Seleção Brasileira, uma década e meia atrás. O tempo, os títulos, o sucesso e a fama o impulsionaram a ser o líder do time de Tite em busca do nona conquista da Copa América.
O relato é do ex-lateral do Grêmio Gilberto, que dividiu concentrações com o único atleta da atual lista a ter sido campeão continental, em 2007. Os dois estavam juntos naquela campanha na Venezuela. Daniel era defensor do Sevilla, buscando espaço entre os grandes da Europa. Chegou como reserva de Maicon, então unanimidade na posição, no grupo de Dunga.
— Daniel não falava muito, era um cara na dele. Em campo, jogava com naturalidade, disputava tudo até o final, tinha personalidade. Mas fora era bem discreto — atesta Gilberto.
O ex-lateral garante não ter sido surpreendido pela volta que o mundo deu em torno de Dani Alves. A saída do Sevilla para o Barcelona, os títulos, o talento, a Juventus e o PSG, a presença em duas Copas do Mundo (2010 e 2014), no entendimento de Gilberto, abriram a cabeça do jogador.
De títulos, aliás, Daniel entende: são 39 troféus em 19 anos de futebol profissional, um recorde. Com esse currículo, vestir casaco diferentão, óculos engraçado, calça rasgada viram extravagâncias que ajudam sites a caçar cliques e a marcas a arrebanhar seguidores. Os 36 anos são mais do que isso.
Ao site The Player's Tribune, que coleta relatos de personalidades do esporte, contou como é sua preparação para conter Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo, na sua visão, "os melhores atacantes do mundo":
— Estudo as suas forças e as suas fraquezas como uma obsessão, e então planejo como vou atacar. Meu objetivo é mostrar ao mundo que Dani Alves está no mesmo nível. Talvez eles me driblem uma ou duas vezes. Certo, tudo bem. Mas eu irei para cima deles, também. Não quero ser invisível. Eu quero o palco.
Foi essa personalidade que Tite levou em conta para lhe dar a faixa de capitão, depois de Neymar ter agredido um torcedor ao final da Copa da França. A qualidade de seu futebol foi vista em Porto Alegre há poucos dias, nos cruzamentos que deu aos atacantes contra Honduras. Mas o que ele tem mesmo é a força mental.
— Minha personalidade é essa, o sorriso é o reflexo da alma, e minha alma está sempre feliz. É preciso encarar as coisas com responsabilidade, sem esquecer de sorrir — disse na coletiva.
Quem se acostuma a vencer faz isso.
— Sei como ganhar. E sei como perder. Ou seja, quando tento dizer alguma coisa, só gostaria que as pessoas me seguissem. Não é porque sou maior do que todo mundo, não sou maior do que ninguém. É só porque eu já fiz.