Há mais ou menos seis meses — para a felicidade do Renato, meu pai — parei de roer as unhas. Não foi fácil, demorei pouco mais de 25 anos para conseguir tal façanha. Mesmo assim, as mantenho sempre bem aparadas. Unha grande não combina comigo. E nem com jogador de futebol.
Em 5 de outubro de 2017, já na reta final da temporada, Cícero chegou ao Grêmio. O meio-campista, escanteado por Dorival Júnior no São Paulo, teria apenas seis jogos da Libertadores para mostrar seu valor por aqui. Nem no Brasileirão ele poderia ser inscrito. Pois não é que foi o suficiente para marcar seu nome na história gremista? Ouso dizer que o gol dele na final contra o Lanús, naquela partida truncada, em que a bola só entrou aos 37 minutos do segundo tempo na Arena, foi mais importante do que o de Fernandinho e o de Luan. Não fosse ele, talvez Renato — dessa vez, o Portaluppi — não teria a coragem de armar um time mais ofensivo na Argentina. E aí, bom, não sabemos o que poderia acontecer.
Então, Cícero passou de jogador escanteado no Tricolor paulista a herói de título no Tricolor gaúcho. Depois da "volta por cima", permaneceu em Porto Alegre. Até quebrou um galho como centroavante, mas foi no meio-campo que mais atuou em 2018. Muito em virtude da saída de Arthur para o Barcelona, pelas lesões de Michel e Luan, e pelos problemas físicos de Maicon, o "curinga" foi um dos atletas mais utilizados no ano passado. Polivalente, participou de 44 jogos, e fez seis gols.
No período de férias, a unha cresceu. O Grêmio fez uma proposta de renovação por mais um ano. A contraproposta assustou os dirigentes, e o negócio morreu ainda em dezembro. Ficou praticamente dois meses sem saber onde iria jogar. Nesta segunda, mesmo ainda sem um anúncio oficial, Cícero foi regularizado pelo Botafogo no Boletim Informativo Diário da CBF. Com todo o respeito, é bastante improvável que seu novo clube brigue por algum título em 2019.
Já foi eliminado, inclusive, da disputa da Taça Guanabara. Será que seu novo salário supera o que pretendia ganhar em Porto Alegre? Aliás, na gigante crise em que quase todo o futebol do Rio se encontra, há grandes chances de que sua remuneração atrase. Aos 34 anos, Cícero poderia brigar por títulos, mas preferiu brigar contra o rebaixamento. Faltou cortar as unhas.