Temos um assunto premente para ser debatido: a arbitragem no futebol. Comparo com aquelas fotos de icebergs, em que só a ponta aparece. Enquanto não repassarmos a atitude do jogador brasileiro atual, não iremos entender o decréscimo do nível do nosso futebol (e, por tabela, da arbitragem). A cada rodada, criticamos os árbitros – sem percebermos realmente o grande vilão desse filme.
Para desvendar o mistério, vai uma pergunta: por que o jogador brasileiro é um dos mais religiosos do mundo se ele passa o jogo tentando enganar o árbitro para obter vantagens? Um contrassenso: reza antes dos treinos e dos jogos, agradece a Deus nas comemorações dos gols e nas entrevistas, reza após as partidas – e passa os 90 minutos tentando simular faltas e agressões. Isso é Cristão?
Neymar, recentemente, deu ao mundo o maior exemplo desse viciado costume brasileiro quando, durante a Copa do Mundo, simulou tanto que já não se sabia o que era agressão e o que era teatro ensaiado. O futebol brasileiro já foi bem maior do que a tentativa de vencer por meio da simulação. É necessário um grande processo de reflexão para apurar as causas e as consequências desse tipo de atitude. Uma discussão que reúna STJD, árbitros, treinadores, jogadores e dirigentes. Talvez até a própria imprensa esportiva. Algo que envolva a análise dos lances de modo completo, comparando-os com a própria personalidade do cidadão brasileiro atual e o pós-jogo – a punição à simulação deve ser o ponto de partida para a solução do problema.
Temos que nos desvencilhar da "Lei de Gérson". A malícia sempre fez parte do jogo brasileiro, temos vários exemplos ao longo da história. Mas não se pode basear toda a atuação em repetidas tentativas de ludibriar a arbitragem. Para alcançarmos novamente o protagonismo mundial, o nosso futebol tem de voltar a ser baseado no drible, na habilidade técnica e na capacidade de improviso do jogador brasileiro – fatores que nos levaram a cinco conquistas em Mundiais.
De quebra, vamos recuperar o alto nível da arbitragem brasileira – que, atualmente, preocupa-se mais em estudar o comportamento individualizado do jogador e tentar diferenciar o que é real do que é teatral. A tarefa do juiz é outra, ele deve apenas interpretar e aplicar as regras do jogo. A entressafra é um ótimo período para esse tipo de discussão.