A empatia dos brasileiros com a mais nova sensação do circuito mundial de tênis não se justifica somente pelo talento. Os longos cachos loiros, a faixa no cabelo e o backhand de uma mão fazem com que seja inevitável a comparação do grego Stefanos Tsitsipas, de 20 anos, com o ídolo Gustavo Kuerten, o Guga.
No entanto, não é apenas pela semelhança com o brasileiro que o jovem tenista tem ganhado os holofotes pelo mundo. Desde a última temporada, o grego tem chamado a atenção da elite do tênis pelas importantes vitórias, mas foi na madrugada desta terça-feira (22) que Tsitsipas conquistou um feito inédito. Ao derrotar o espanhol Roberto Bautista Agut, por 3 sets a 1, o atleta garantiu vaga na semifinal do Aberto da Austrália. Aos 20 anos, ele é o primeiro representante da Grécia a chegar tão longe em um Grand Slam.
Em 2018, a promessa colecionou grandes vitórias. Alcançou a semi do Masters 1000 de Toronto passando por Novak Djokovic e Alexander Zverev — números 1 e 4 do mundo, respectivamente. Iniciou o ano como 91° do ranking e encerrou na 15ª posição da lista, além do título do Next Gen Finals. Na atual temporada, para chegar à semi em Melbourne, teve que derrotar Roger Federer nas oitavas de final do torneio, no qual o suíço é hexacampeão.
Tsitsipas nasceu em Atenas, na Grécia, e desde criança respira intensamente o esporte. Filho de pais tenistas e com irmãos que também praticam a modalidade, seria quase impossível para o garoto não se inserir no meio. Inclusive, seu avô, Sergei Salnikov, foi jogador de futebol e medalhista de ouro com a União Soviética em 1956, nos Jogos de Melbourne, na Austrália.
Mas foi pelas mãos de seu pai, Apostolos, que o jovem entrou no caminho das vitórias. Foi ele quem lhe ensinou seu backhand plástico. Em quadra, Tsitsipas mostra um estilo de jogo agressivo combinado com lances bonitos.
— Apesar das brincadeiras, a semelhança é apenas física e pelo fato de bater o revés com uma mão. Mas o estilo de jogo dele é totalmente diferente se comparado ao Guga. É um jogador versátil, de tênis moderno, pra frente. Sem dúvida, é a maior surpresa do Australian Open — declarou o gaúcho André Ghem, ex-tenista e comentarista dos canais ESPN.
Assim como a maioria da nova geração do tênis, o grego cresceu vendo Roger Federer jogar e, com isso, tem o suíço como seu maior ídolo. Aliás, sua vitória diante do atual número três do mundo veio com ajuda da tecnologia. A carreira de Tsitsipas é um espelho da nova fase do tênis moderno.
Desde que tinha seis anos de idade, o atleta assistia a vídeos na internet do ídolo em ação. Aprendeu e decidiu bater o backhand de uma mão inspirado em Federer. Para vencê-lo em Melbourne, teve que estudar bastante. E conseguiu.
Muito ativo nas redes sociais, ele tem se tornado um dos jogadores queridos pelo público. No YouTube, mantém um canal onde posta vlogs de suas viagens pelo mundo. No Instagram e no Twitter, acaba interagindo mais com os fãs — é ele mesmo quem responde às mensagens. A comemoração da vaga na semifinal veio com um pedido diferente. O tenista youtuber aproveitou o momento para angariar seguidores no seu canal.
— Eu assistia muito (vídeos no YouTube) e achava essa plataforma única, perfeita para se expressar. Eu amo cinematografia, fotografia. Acredito que há muitos modos positivos de utilizá-los, é algo que me relaxa. Eu me conecto com meus fãs e pessoas que se interessam por mim. Pessoal, se vocês não se inscreveram, por favor, inscrevam-se — disse aos risos após a partida diante de Bautista Agut.
Agora, o carismático tenista tem de enfrentar mais um grande nome do circuito para brigar pelo título em Melbourne: na semifinal, irá encarar o espanhol Rafael Nadal, número 2 do mundo. A partida está marcada para a próxima quinta-feira (24), às 6h30min (no horário de Brasília).
— Eu acho que o Tsitsipas já passou de um menino que é uma zebra para um cara que pode conseguir ganhar de qualquer um. O problema é o estilo de jogo. O Nadal tem um estilo de jogo complicado para qualquer um, principalmente para o Tsitsipas. Mas, falando de nível de tênis, óbvio que ele tem chances. No entanto, o favorito é o Nadal, com certeza — analisou o ex-tenista Fernando Meligeni.
A campanha na Austrália dá indícios do futuro de Tsitsipas. Aos 20 anos e 168 dias, ele é o atleta mais jovem a atingir a semifinal de um Grand Slam desde 2007, quando Djokovic ficou entre os quatro no US Open.
E, para seguir gravando os grandes momentos de sua carreira, o grego transformou-se no protagonista de sua própria história dentro de quadra. Aguardemos os próximos vídeos.