Quando defendeu o Flamengo, Clemer passou cinco temporadas morando no Rio de Janeiro. Nesta semana, o ex-goleiro ficará hospedado na Cidade Maravilhosa mais uma vez. Porém, não será para aproveitar as praias cariocas. Na próxima sexta-feira (7), assim como vários outros treinadores brasileiros, ele inicia um curso na sede da CBF. Já são cinco anos na nova profissão, tendo passado pelas categorias de base e pelo grupo principal do Inter, Glória de Vacaria, Sergipe e Brasil-Pel - onde, antes de ter a passagem interrompida em meio à Série B, foi vice-campeão gaúcho. Agora, o ídolo colorado se prepara para o próximo desafio, sonhando com o dia em que receberá a oportunidade em um grande clube.
Este curso que você vai fazer é o mesmo que Tite, Dunga, Mano Menezes e outros treinadores brasileiros estão fazendo?
Na realidade, eles estão fazendo a Licença Pro, que é para os técnicos que já passaram pela Licença A. No ano passado, fiz a primeira etapa e, agora, vou concluir a segunda. Isso é muito importante, pelo aprendizado e convivência com outros treinadores do país, como o próprio Odair Hellmann, Rogério Ceni. A gente trabalha não só a teoria, mas também a prática. Não é porque a gente foi atleta que não precisa aprender mais. Um treinador tem que estar sempre se atualizando, até para os novos desafios.
Para muita gente, pode parecer estranho um técnico que já está no mercado e, no seu caso, que teve a experiência de atuar como atleta, ainda assim sentar em uma sala de aula. O que exatamente é tratado nestas aulas?
Trabalhamos a teoria, como esquemas táticos, transições, e depois vamos para a prática. Debatemos como se fazer um planejamento de pré-temporada, a organização de treinamentos para a semana, aprendemos sobre a parte médica, da fisioterapia, para não lesionar jogadores. As pessoas acham que é só chegar lá e dar treinamento. Mas tem todo um planejamento da semana para preparar o time. E temos palestras com treinadores mais experientes, interagimos com outros treinadores que estão fazendo o curso, cria-se um ambiente de troca de conhecimento. É um crescimento fora do normal.
Você trabalhou com Odair na base do Inter. Como vê a ascensão dele agora como técnico da equipe principal, sendo até elogiado publicamente por Tite?
O Odair foi meu auxiliar na base. Depois, ele fez a transição, foi auxiliar fixo do clube. Trabalhou com vários treinadores, mas ele tem todos os méritos, porque pegou o time na Série B, num momento difícil, em que a obrigação era ser campeão, e conseguiu levantar o astral dos jogadores. E esse ano ele fez um baita campeonato. Conseguiu trazer o grupo para ele, fazer bons jogos. Oscilou numa parte, mas isso faz parte. No geral, foi o treinador revelação do campeonato.
Você obteve muito sucesso como técnico das categorias de base do Inter. Qual foi a maior dificuldade em fazer a trajetória para a categoria profissional?
Quando você tem vida longa como atleta, atinge alguns objetivos através da disciplina, comprometimento e trabalho. Mas quando você vira comandante de uma equipe, é diferente. Ainda mais quando se tratam de jovens, porque você é um formador e educador, além de treinador. Foram quase cinco anos de categorias de base. Aprendi errando ali, e isso é fundamental. Na transição para o profissional, você precisa comandar atletas já formados, alguns em alto nível, e encontra muitas diferenças. Penso que não se chega a um grande clube da noite para o dia. É preciso começar de baixo. Hoje, faço uma análise da minha carreira e percebo que foi precoce esta minha transição. Cometi alguns erros, até por ter vindo da época de jogador, em que me deixava afetar pela emoção, de motivar os atletas pelo "vamos juntos". Isso me atrapalhou um pouco. Agora, cinco anos depois, estou mais maduro para um desafio maior.
Neste ano, você foi vice-campeão gaúcho com o Brasil-Pel. O que aconteceu na Série B para que não conseguisse permanecer no clube?
A ideia era de renovação do elenco. Deixamos alguns jogadores antigos para fazer a mescla entre atletas jovens e mais experientes, que pudessem comandar dentro de campo. Conseguimos fazer um bom Brasileiro em 2017. No Estadual, chegamos até além do que estávamos pensando, que era ser campeão do Interior e ficar entre os quatro primeiros. Fizemos a melhor campanha, conseguimos passar para a final e, infelizmente, pegamos um time que estava imbatível naquela época que era o Grêmio. Para o Brasileiro, tínhamos que reforçar a equipe. Os reforços demoram para chegar, a gente foi levando e a equipe começou a oscilar ao longo do campeonato. Você sabe como é a cobrança. No futebol, independentemente do que se faz, a vitória é que manda. Mas não tenha nada a reclamar do pessoal do Brasil. Graças a Deus, veio o (Rogério) Zimmermann, deu uma ajustada, trouxe alguns jogadores e tirou o time daquela situação.
Como está avaliando seu futuro? Tem recebido contatos de outros clubes? Algo para 2019?
Pretendo pegar um clube para trabalhar. Não sei se é agora que vai acontecer. Estou buscando este espaço e, enquanto isso, estou me aprimorando cada vez mais. Acho que estou pronto para pegar um clube e colocar para fora tudo que estou aprendendo. Você não pode é ficar parado. O mercado do futebol mexe muito, então a gente fica sempre na expectativa.
Tem surgido novos nomes no mercado. Tiago Nunes, Thiago Larghi, o próprio Odair. Como você vê a renovação de treinadores?
O que eu vejo é muito dirigente que se prende ao currículo do treinador. Tem treinadores que passaram por vários clubes e, às vezes, não conseguiram muitos objetivos, mas pelo fato de terem experiência, parece que fazem o dirigente ter mais segurança para contratá-lo. Vejo uma disputa entre treinadores novos e mais velhos. Não desmereço ninguém. Não se conquista alguma coisa sem ter conteúdo, então, a gente tem que respeitar. E os novos que busquem conhecimento para não cair de paraquedas.
Pelos títulos conquistados como goleiro ou como treinador das categorias de base, é inegável sua identificação com o Beira-Rio. Sonha em treinar o time principal do Inter futuramente?
Não só o Inter, mas qualquer outro clube grande. Se for o Inter, Flamengo ou Corinthians, vai depender do que eu conseguir na minha carreira. Quando você consegue superar obstáculos e conquistar títulos, que é o principal, o mercado se abre. Mas, antes disso tudo, precisa-se de oportunidade.