Sem clube desde sua demissão do Palmeiras, Roger Machado está morando novamente em Porto Alegre. O treinador participou do Bola nas Costas desta terça-feira (4) e falou, entre outras coisas, sobre seus trabalhos, Felipe Melo e Renato Portaluppi. Felipão, que assumiu a equipe paulista após sua saída também foi assunto no programa.
— A característica da personalidade do treinador entra dentro do campo. Trabalhei com o Felipão em duas passagens. Uma, no começo da carreira, que digo que foi quando o Felipão me forjou como um lateral mais defensivo. Eu tinha o apoio pelo espaço, receber a bola em profundidade e cruzar. E depois, fui convocado por ele para a Seleção em 2001. Eu aprendi mais com ele na segunda passagem. Na primeira, com 18 anos, naquele ambiente, tu só quer sobreviver. Depois, na Copa América, pude aprender mais com ele. Eu torço muito pelo Felipão, pra contrariar os que disseram que depois da Copa de 2014, ele estava morto e acabado porque era um péssimo treinador.
Confira outros trechos da participação de Roger Machado no Bola nas Costas:
Demissão do Palmeiras
No futebol brasileiro, a média de permanência de um treinador no cargo é de cinco meses. No futebol europeu, que já foi de 14, 15 meses, diminuiu para 11. Esse fenômeno não é só nosso. Neste ano, até a metade do Campeonato Brasileiro, foram demitidos 19 treinadores, o maior número desde 2003. E eu tenho uma tese: a mudança e a diluição das competições eliminatórias, fazendo com que elas terminem no final do ano e que o campeão seja conhecido apenas em novembro ou dezembro, fazem com que ninguém ganhe nada na metade do ano. Isso cria uma pressão muito maior. O fato de tu não ganhar, ou não estar nas fases mais adiantadas da Libertadores e da Copa do Brasil, e não estar entre os três primeiros no Brasileirão, joga uma pressão excessiva em cima do trabalho. E vai acontecer mais vezes, tu não ganha o Brasileirão no primeiro turno.
A torcida do Palmeiras é uma torcida bastante exigente. Perder o clássico para o Corinthians, daquela maneira, depois de ter ganhado o primeiro jogo em Itaquera, jogou uma pressão maior em cima do trabalho. Mas como eu disse, pra mim, no futebol brasileiro, o treinador acaba naturalmente absorvendo a maior parcela de responsabilidade e isso não vai mudar. A gente precisa se adaptar.
Sobre o bom trabalho de Renato no Grêmio e Felipão no Palmeiras
O que eu costumo sempre dizer é que no futebol brasileiro, dificilmente tu pega um trabalho do zero. A gente sempre herda algo importante do antigo treinador. Quando assumi meu primeiro clube, que foi o Juventude após minha saída de auxiliar do Grêmio, eu substituí o Delamore, que foi por muito tempo auxiliar do Tite. Eu herdei dele uma base tática que me permitiu antecipar muita coisa e não desperdiçar tempo com outras questões. Naturalmente, quando você sai, ou quando você chega, você herda alguma coisa. Se não for de parte tática, é da técnica ou das escolhas. Quando eu cheguei no Grêmio, eu substituí o Felipão. Todos aqueles meninos que eu usei e que até hoje estão dando retorno pro clube, seja financeiro ou técnico dentro de campo, foram usados pelo Felipão. Talvez tenha sido pela inexperiência de alguns desses jogadores que a saída dele tenha ocorrido naquele momento. Talvez, se eu tivesse chegado antes e tivesse feito todas aquelas apostas, talvez acontecesse a mesma coisa. Por um lado, há uma satisfação de você contribuir com o trabalho do sucessor. Mas o Renato chegou há dois anos, ganhou tudo, e alguns ainda atribuem o trabalho ao treinador anterior.
Sobre o tempo ideal para se avaliar um trabalho
Pra mim, o saudável é tu começar e finalizar uma temporada. Começo, meio e fim. Muitas vezes quando me dizem que no Atlético não deu certo e no Palmeiras não deu certo, eu respondo: não deu certo por quê? Eu não vejo problema nenhum em assumir o insucesso, mas me deixa terminar. Insucesso eu tive no Campeonato Paulista. Fomos até a final e perdemos. Encerrou o ciclo e teve o insucesso. Mas atribuir o insucesso ao treinador que foi tirado do cargo no meio da competição, não.
Sobre Felipe Melo
Quando voltei pra São Paulo, após a Copa, eu chamei o Felipe e disse que pergunta que eu mais respondi em Porto Alegre foi como era trabalhar com o Felipe Melo. É muito, mas muito tranquilo trabalhar com o Felipe. É um cara do dia a dia, proativo, treina pra caramba, é um baita de um líder. Mas carrega muita coisa do passado e algumas atitudes dele dentro de campo corroboram o que pensam a respeito dele. Mas é muito fácil trabalhar com jogador de alto nível.
Ele é viril. As estatísticas dele, desde o começo do ano, são muito boas. Pra mim foi muito tranquilo trabalhar com ele. Todas as vezes em que eu precisei chamar a atenção dele dentro de campo, ele dizia: "Professor, você está correto, vou tentar evoluir no que você está dizendo".
Se Felipão e Renato ligaram após assumirem Palmeiras e Grêmio
Eu estive lá (no Palmeiras) um ou dois dias depois para me despedir de todos. O Paulo Turra e o outro auxiliar estavam lá e conversamos. Mas com o Felipão não falei. Falei com o Renato umas duas vezes. Se fala da questão do ambiente, de como os jogadores estão.