Quando ainda comandava o Borussia Dortmund, em novembro de 2013, na véspera de um confronto diante do Arsenal pela Liga dos Campeões, Jurgen Klopp concedeu à imprensa inglesa uma de suas mais célebres entrevistas. À época, comparou o estilo de seu time, então bicampeão alemão, ao do adversário da noite seguinte:
— Wenger (técnico do Arsenal) gosta de ter a bola, jogar futebol, dar passes. É como uma orquestra. Mas é uma música silenciosa, não é? Eu gosto de heavy metal.
Para Klopp, um germânico de 1m93cm, que quando jogador era grosseiro tal qual um zagueiro do interior gaúcho, futebol é contra-ataque, pressão na bola e riscos. Em Dortmund, levou um clube à beira da falência à final da Liga dos Campeões. Em Liverpool, trouxe o que a torcida mais pediu nos últimos anos: a volta das noites europeias.
Maior campeão europeu entre os ingleses, o Liverpool está com um pé na final da Liga dos Campeões da Europa. Para garantir isso, enfrenta a Roma no Estádio Olímpico da capital italiana podendo perder por até dois gols de diferença para avançar.
Depois de quase uma década longe do mata-mata da principal competição do Velho Continente, o clube volta embalado pelo talento da tríade ofensiva Mané, Firmino e Salah. Desde a última conquista, a fatídica remontada em Istambul diante do Milan, o clube foi vendido, passou por temporadas de pouco investimento e ficou relegado ao ostracismo.
Klopp trouxe o vigor do heavy metal a um time que hibernava. O alemão trocou a gravata empolada e a passividade dos antecessores pelo abrigo e o caos à beira do campo. Klopp tem muito de Liverpool: um clube nascido do operariado portuário, que historicamente está mais ligado ao chão de fábrica do que à subserviência à família real britânica. Talvez a Jurgen Klopp nunca seja condecorado pela coroa inglesa como Sir, mas ele é exatamente aquilo que a torcida precisava: um promotor do descontrole.
O Liverpool é um time de basquete num campo de futebol. Pressiona o adversário, toma a bola e liga o ataque com o mínimo de toques possíveis. E faz isso mesmo ganhando. Põe-se em risco constantemente, termina o jogo na exaustão física e mental e quase sempre percorre mais quilômetros do que seus adversários. É uma máquina de atacar.
Para muitos, um futebol camicase, para outros tantos o barulho necessário para acordar um gigante europeu. Na terra dos Beatles, o soft rock deu lugar ao som ruidoso e enfático da guitarra distorcida.