Não é comum ter Mayra Aguiar em Porto Alegre. A bicampeã mundial de judô é refém das viagens, seja para competições ou treinamentos especiais no Brasil ou Exterior. Nem lembra da última vez em que competiu no seu Estado. Nos últimos dias ela está vivendo um raro momento de treinos na sua "casa", o tatame da Sogipa, onde fez sua vida esportiva que a colocam mais uma vez como esperança de ouro para o Brasil no próximo campeonato mundial e sonho dourado para a Olimpíada de 2020.
Totalmente descontraída, diferente da garota tímida que sofria com entrevistas na sua primeira Olimpíada , em 2008, Mayra participou do programa Cardápio do Zé na última segunda-feira (23) no Gaúcha Sports Bar. Durante uma hora ela lembrou passagens de sua carreira, falou de sua vida fora do tatame, exaltou a paixão por praticar sua modalidade e garantiu que estará competindo em território gaúcho duas vezes antes do mês de setembro, quando tentará o tricampeonato mundial em Baku, no Azerbaijão em setembro.
— Não me lembro quando lutei pela última vez aqui. Agora terei a disputa do estadual (dia 12 de maio em Dom Feliciano) e depois em agosto o Troféu Brasil Interclubes em Canoas. Estou feliz com esta volta — revela a campeã.
Com 26 anos, Mayra tem a possibilidade clara de disputar as próximas duas Olimpíadas, chegando assim a cinco, desde sua primeira participação. Acumulou duas medalhas de bronze e mantém muito claro o sonho do ouro, mesmo sabendo que a próxima olimpíada é no Japão, a "terra do judô".
— Vai ser muito difícil. Os japoneses não querem perder nada em casa. Estão muito bem preparados, investindo muito. Deram uma baixada no nível em 2012, mas voltaram fortíssimos nos Jogos do Rio. Isto é desafiador. Ganhei de duas japonesas no mundial passado (Mayra foi campeã). Tenho que manter este desempenho.
Questões pessoais são tratadas com naturalidade pela judoca.
— Sou tranquila. Estou enrolada no momento (risos), o namorado mora em São Paulo, é judoca, entende o que acontece. Não penso ainda em constituir uma família. O atleta por vezes tem que ser meio egoísta para manter o foco na carreira. Curto muito estar no meu canto, em Porto Alegre ou em Curumim, minha praia e um lugar muito tranquilo.
Mesmo cuidando permanentemente da questão física , Mayra Aguiar, diz que se permite em períodos de folga a comer "de tudo", não dispensando a feijoada caseira ou um bom churrasco. Também se mostra vaidosa, mas sem exageros.
— Não tenho este negócio de ser a melhor do Brasil sem uma concorrente próxima no ranking. Tenho que continuar focada. Esteticamente não tem como lutar maquiada, embora tenha algumas que lutam. Eu me borraria toda (risos). O cabelo vive desarrumado. Já em ocasiões especiais, aí sim. Gosto de me arrumar. A gente fica irreconhecível no bom sentido. As gurias ficam lindas .
Mayra vê o judô como um esporte "feminino", mesmo com o uso da força e brinca com temas como a "tensão pré-menstrual".
— É horrível competir com TPM. A gente sente física e emocionalmente a alteração, ficando mais forte e mais sensível. Eu, por exemplo, fico chorona. Choro por tudo. Tem que saber controlar isto, mas aí a gente lembra que contra nós está alguém que pode estar na mesma situação.
Com a participação também do treinador de Mayra, Antônio Carlos Pereira, o Kiko, o Cardápio do Zé tem muitas outras histórias sobre a mais vitoriosa atleta do Rio Grande do Sul em esportes individuais em todos os tempos.