Não é só dos zagueiros rivais que ele tira o sono. Por 23 dias seguidos, Neymar perturbou minha cabeça. A Copa do Mundo chegando e ninguém tinha notícias dele! Cheguei a pensar no pior: nosso craque, a maior esperança brasileira de conquistar o Hexa na Rússia, estaria fora do Mundial. Isso seria um trauma irreparável lá em casa. Afinal, Lionel Messi e Cristiano Ronaldo já estavam confirmados.
— Cadê o Neymar, pai? Estou ansioso!
Foi assim que meu filho de sete anos me acordou durante o final de semana.
— Calma, Gabriel, ele vai aparecer.
— Manda um Whats pro Tite, pergunta pra ele...
Abracei meu piá e fomos à luta. Na primeira tentativa, nada. Na segunda, nada. Na terceira, vi o rosto do Gabriel petrificar. Arregalou os olhos, abriu a boca, mas não emitia som nenhum. Era como se fosse um gol na final da Copa que alguém tivesse apertado o pause.
Segundos depois, levantou a figurinha de número 371 como fez o capitão Bellini em 1958 e bradou:
— É ele! É ele! Neymar, Neymitooooooo!
Enfim, nosso craque estava garantido na Copa. Sim, porque estamos disputando uma Copa do Mundo para completar o álbum de figurinhas da Rússia 2018. E o camisa 10 da Seleção era o mais desejado e ninguém tinha para trocar. Mas a sorte nos brindou e ele apareceu dias atrás.
Tirando esta saga, estamos nos divertindo muito em busca de finalizar o álbum que precisa de 681 figurinhas. Até baixamos a versão digital da brincadeira, mas a graça é imensamente inferior. Não há interação com amigos, com vizinhos. No pátio da escola, a gurizada faz rodinha para trocas. Adultos fazem algo parecido em seus locais de trabalho. Conversam com colegas que nunca viram para ver seus álbuns se completando:
— Faltam quantas pra ti? Pra mim, 45.
— Ih, não cheguei à metade ainda...
— Troco uma prateada por 20 jogadores!
E eu, muito orgulhoso, digo que já estou na fase final. Sinto friozinho na barriga a cada nova conquista. Compartilho no Whats com vários contatos as figurinhas que me restam. A cada noite que chego em casa com uma nova, Gabriel faz uma festa que não tem preço. E meu olhar de pai se enche de emoção a vê-lo sabendo tudo sobre as histórias da Copa e das 32 seleções classificadas. Adoro contar histórias e relembrar as conquistas do Brasil. Ele ficou impressionado com minha memória ao citar todos os países campeões, de 1930 até 2014. Em seguida ele decora também.
Será sua primeira Copa a ficar registrada na memória. E a torcida é forte para que o cara da figurinha 371 levante a taça.
Por ora, Gabriel já sente orgulho de sua conquista no álbum:
— Eu estou só por 15 prateadas! — disse ele na escola, mostrando o papelzinho com os números 04, 06, 07, 72, 132, 192, 252, 432, 492, 512, 552, 632, 652, 674 e 677.