Melhor fase na carreira, classificação na Liga dos Campeões e elogios de Pep Guardiola. A temporada de Fred, meia do Shakhtar Donetsk, pode ser traduzida em sucesso. O jogador é um dos pilares da equipe ucraniana e vem sendo enaltecido em vários cantos da Europa, principalmente na Inglaterra.
Apesar de ter apenas 24 anos, Fred já viveu um misto de emoções na carreira. Títulos, suspensão por doping e até veto do clube ucraniano para disputar a Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016. Tudo ficou no passado e agora o jogador, já convocado por Tite, sonha em estar no grupo da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo.
Desde a temporada 2013/14 no Shakhtar, Fred vê seu nome ligado ao Manchester City, cujo treinador já o colocou como o substituto ideal de Fernandinho e Yaya Touré. Em entrevista, o meia diz que vê com bons olhos uma possível transferência para os Citizens e fala sobre suas chances na Seleção Brasileira.
O Shakhtar voltou a comandar o futebol ucraniano após dois anos de domínio do Dínamo de Kiev. Qual é a importância do técnico Paulo Fonseca para esse crescimento do time?
A chegada dele para o nosso time foi excelente. O Shakhtar cresceu tática e tecnicamente. Melhoramos bastante. Fizemos uma grande primeira fase da Champions e ele foi um dos principais destaques, pois nossa equipe mostrou um grande futebol em campo.
Você vive uma das melhores - senão a melhor - fase de sua carreira, aos 24 anos de idade. O que foi fundamental para o seu crescimento no futebol?
A chegada na Europa me fez crescer bastante, amadureci muito, tive algumas desavenças, mas aprendemos com os erros. Estou mais maduro agora, mais tranquilo. Vivo a melhor fase da carreira e agora só tenho a desfrutar. Quando cheguei ao Shakhtar, fiquei um tempo sem jogar para me adaptar e, depois, isso acabou me ajudando.
Esse crescimento do time tem ligação direta com a excelente fase dos brasileiros do time?
Os brasileiros estão em fase excelente no Shakhtar, conseguimos avançar na Liga dos Campeões, que é um campeonato de nível muito elevado. Era um grupo muito difícil, com dois excelentes times, que são Manchester City e Napoli, e uma boa equipe, que era o Feyenoord. Conseguimos avançar em segundo. É muito bom para ser visto também, pois é uma grande vitrine.
Como você viu os elogios do técnico Pep Guardiola, após a vitória do Shakhtar sobre o Manchester City na Liga dos Campeões?
Depois da vitória sobre o Manchester City, encontrei com o Guardiola e ele me deu parabéns pela classificação. Vi depois que ele elogiou muito o Shakhtar. Para mim, é uma grande satisfação ser elogiado pelo melhor técnico do mundo. É uma alegria imensa, vejo que o trabalho está sendo bem feito. É manter os pés no chão e continuar jogando bem para que possa melhorar cada dia a mais.
Como foi vencer o time inglês, que tinha de longa invencibilidade na temporada?
Para nós, foi maravilhoso. Uma equipe como o City, invicta, e a gente precisando da classificação. Foi uma vitória fantástica. O Tite estava no estádio vendo o jogo, conseguimos fazer uma grande partida. É uma vitrine muito grande, ainda mais com a uma equipe como o City, que é uma das melhores do mundo. É continuar fazendo o nosso trabalho, vamos pegar a Roma agora nas oitavas de final e vamos tentar chegar o mais longe possível.
Segundo a imprensa inglesa, Guardiola vê você como substituto de Yaya Touré e Fernandinho na equipe. Houve algum contato do técnico ou do City por você?
Ainda não houve nenhum contato. Só ouvi pela imprensa também. Mas é uma felicidade imensa ouvir isso do Guardiola. Espero que mais para frente possa vir uma proposta e que algo seja concretizado.
Há alguma negociação para esta ou a próxima temporada? Vê com bons olhos atuar ao lado de craques como Gabriel Jesus, Agüero, De Bruyne...?
Meu agente ainda não chegou a me passar nada e, que eu saiba, não tem nada ainda. Mas claro que vejo com bons olhos. Não tem como não ficar entusiasmado, é uma grande equipe, é o líder do Campeonato Inglês. É uma felicidade ser elogiado por um treinador como o Guardiola, que fala que eu tenho condições de jogar em um time como esse. Então, sempre verei com bons olhos.
Além de Guardiola, José Mourinho também gostaria de contar com você. O que você preferiria: ser treinador pelo espanhol ou pelo português?
É uma sinuca de bico, né? É difícil escolher. São dois treinadores que hoje são alguns dos melhores. Não tenho como dizer, eles estão entre os três principais técnicos do mundo. Guardiola, Mourinho e Tite estão em grande fase... É difícil escolher, teria que conversar, sentar, pesar, colocar no papel o clube no qual eu jogaria mais vezes. Não tem como eu falar agora qual seria melhor.
O Shakhtar Donetsk caiu em um grupo difícil na Liga dos Campeões e, mesmo assim, avançou às oitavas de final. O que passou pela sua cabeça após o sorteio, quando viu que enfrentaria City e Napoli?
Quando soubemos os adversários, falamos: "poderia ter sido um grupo mais fácil". Mas o Paulo Fonseca fez um grande trabalho com a gente taticamente, conseguiu bater de frente com Manchester City, Napoli e Feyenoord. No começo, foi difícil, mas dentro de campo demos o nosso melhor e conseguimos sair com a classificação.
Agora, o Shakhtar vai enfrentar a Roma. O sorteio, desta vez, estava ao lado do Shakhtar?
A Roma é uma grande equipe, vi alguns jogos. Vai ser muito difícil, ela se classificou em primeiro em um grupo com Chelsea e Atlético de Madrid. Não digo que o sorteio estava do nosso lado, mas os confrontos estão bem equilibrados e temos chances de avançar e chegar ainda mais longe.
Mas vocês escaparam de gigantes como PSG, Barcelona, Manchester United...
É, isso é bom, né? Deixa esses gigantes mais para o final. São grandes equipes, já joguei contra o Bayern, Real, PSG... É difícil marcar esses times, mas caímos no grupo com o City, que é muito complicado. Mas tenho certeza que contra a Roma será um grande duelo.
Nos últimos anos, o Shakhtar vem sendo um trampolim para os brasileiros, como o Willian, Fernandinho, Alex Teixeira... Você acredita que já tenha chegado a sua hora?
Nós trabalhamos para isso. Penso em jogar campeonatos grandes, como o Inglês, bem maiores que o da Ucrânia. Penso bastante nisso. Mas tenho que continuar fazendo o meu trabalho para que isso seja possível.
Logo após a Copa América de 2015, você acabou sendo suspenso por doping. Como foi esse período para você, que ficou longo tempo afastado do futebol?
Foi um período muito difícil, ficar afastado dos gramados. Mas tinha a cabeça tranquila, fiquei ao lado da minha família, que me apoiou bastante. Não fiquei parado, continuei treinando com o Shakhtar. Voltei muito bem e agora estou em uma fase excelente. E isso para mim é muito bom.
Apesar do problema do doping, o Shakhtar renovou o seu contrato. Como você viu essa atitude do clube ucraniano? Sentiu ainda mais vontade de permanecer na equipe depois dessa demonstração?
Claro. O clube me ajudou muito em todos os momentos e logo depois renovou meu contrato. Eu tenho um carinho muito grande, respeito muito. Só tenho a agradecer ao Shakhtar e ajudar dentro de campo, fazer meu trabalho bem e pretendo ficar trabalhando até ter um proposta de verdade.
Em 2014, você chegou a se recusar a voltar ao Shakhtar por conta do clima de guerra no país. Como você vê a situação política da Ucrânia?
Hoje não prejudica. No início, foi muito difícil, ficamos com medo, pois nunca tínhamos visto isso. Mas logo depois o clube nos tranquilizou, deu todo o suporte para trabalharmos sem problemas. E até hoje não tivemos nenhum contratempo.
Em que pesa para vocês jogadores o fato de morar em Kiev e jogar em Cracróvia, tendo que viajar até em jogo que possui o mando de campo?
Cansa mais, pois todo jogo nós temos que viajar. Mas estamos nos acostumando com isso, temos que tirar de letra. O clube vem nos ajudando bastante, dando todo o suporte, nos dá tudo de melhor para que tenhamos apenas de nos preocupar em jogar bem.
Você chegou a ser chamado para a Olimpíada de 2016, mas o Shakhtar não o liberou para a competição. Foi frustrante para você, principalmente após a conquista da inédita medalha de ouro?
Claro, fiquei triste. Gostaria de ter participado da Olimpíada, principalmente por ter sido realizada no Brasil. Estive em todas as convocações com o Micale, era titular dele, mas faz parte do futebol. Não pude ir, o clube não liberou. Mas não abaixei minha cabeça, segui fazendo o meu trabalho e fui convocado de novo pelo Tite. Torci para o Micale, para meus companheiros conquistarem esse título inédito para o Brasil.
Nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018, você foi lembrado pelo técnico Tite. Ainda dá para disputar o Mundial ou você vê o grupo da Seleção fechado?
Com certeza dá. Ele mesmo disse que há algumas vagas abertas na equipe. Então, vou continuar fazendo meu trabalho no Shakhtar, ainda há jogos da Liga dos Campeões antes da Copa do Mundo, que podem me ajudar a estar entre os convocados para o Mundial.
O treinador já conversou algo com você sobre o Mundial?
Não, mas eu tenho bastante esperança de estar na Copa do Mundo. Tenho feito um trabalho muito bem feito no Shakhtar e sei que o Tite está olhando com bons olhos para mim. Ainda tenho alguns jogos pela frente para que ele possa ver antes de divulgar a lista final da competição.
Jogar a Copa do Mundo seria um sonho para você?
Com certeza. Acho que todos os jogadores do mundo querem disputar uma Copa do Mundo, representar o seu país. E comigo não é diferente, jogar a Copa do Mundo é um sonho. Quem sabe eu possa estar realizando esse sonho com meus companheiros.
Você acompanha o Inter aí da Ucrânia?
Conseguimos acompanhar alguns jogos por aqui, escutamos as notícias. É um clube que aprendi a gostar muito. Sempre que dá assisto às partidas, acompanho o Inter, e tenho a certeza que esse ano será melhor que 2017.
Como foi ver o Colorado na Segunda Divisão?
Nunca imaginei ver o Inter na Segunda Divisão. Uma equipe que ganhou tudo, de ponta. Ver o Inter na Série B foi muito difícil. Quem estava lá fez um grande um grande trabalho e conseguiu voltar com o Colorado para elite, de onde o Inter nunca deveria ter saído.