O réu foi declarado culpado. A condenação inédita por corrupção para alguém que comandou o futebol brasileiro se concretizou nesta sexta-feira (22). O veredito anunciado pela Justiça dos Estados Unidos foi direcionado a José Maria Marin, presidente da CBF entre 2012 e 2015. O ex-dirigente foi considerado culpado em seis dos sete crimes nos quais foi enquadrado e terá de aguardar a sentença, que deve sair em 2018, no presídio, conforme determinou a juíza Pamela Chen. Ou seja, ele foi responsabilizado por três crimes de fraude — nos esquemas da Copa América, Libertadores e Copa do Brasil —, dois de lavagem de dinheiro — Copa América e Libertadores — e por integrar uma organização criminosa dentro do futebol, que se espalhou pelas Américas do Sul, Central e do Norte.
A única acusação pela qual Marin foi inocentado é a de lavagem de dinheiro no esquema da Copa do Brasil. José Maria Marin foi acusado de receber US$ 6,5 milhões em propinas durante o período que passou na CBF e fez parte do círculo da Conmebol, substituindo Ricardo Teixeira.
O júri popular no Tribunal Federal do Brooklyn, em Nova York, também decidiu pela condenação de Juan Ángel Napout, ex-presidente da Conmebol, por dois crimes relacionados às Copas América e Libertadores. O terceiro réu do processo, o peruano Manuel Burga, ainda não sabe qual veredito receberá.
Apesar de terem sido declarados culpados, Marin e Napout não sabem qual a sentença exata que terão que cumprir. Esse passo será dado posteriormente. A condenação é em primeira instância e cabe recurso.
Aos 85 anos, Marin já estava preso desde o fatídico 27 de maio de 2015, quando foi capturado na Suíça, assim como outros dirigentes. Desde que foi transferido para os Estados Unidos, o brasileiro ficou em prisão domiciliar na Trump Tower, um dos endereços mais valorizados do Nova York.
No julgamento, a defesa do ex-presidente da CBF tentou jogar para o atual mandatário, Marco Polo Del Nero, a responsabilidade pelas decisões e arranjos na época. Del Nero e Marin andavam muito juntos, mas Marco Polo, que não é réu e não viaja, garante que é inocente.
Relembre o Fifagate
O Fifagate estourou em maio de 2015. Na ocasião, o FBI deflagrou uma operação de investigação por casos de corrupção no mundo do futebol. Vários dirigentes foram presos na Suíça por suposta participação em esquemas de propina na venda de direitos de transmissão de torneios de futebol.
Entre os brasileiros investigados estavam os ex-presidentes da CBF Ricardo Teixeira e José Marin Marin, além do atual mandatário da entidade, Marco Polo Del Nero, que está suspenso provisoriamente pela Fifa de todas as atividades relacionadas ao futebol.
Marin era julgado por fraude, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Marin foi preso em 2015, na Suíça. Depois, foi extraditado para os Estados Unidos e acertou o pagamento de US$ 800 mil à Justiça para aguardar o julgamento em prisão domiciliar.
As investigações foram focadas especialmente em associações continentais, como Conmebol e Concacaf — e em torneios regionais como a Copa América e a Copa Ouro. Os valores das propinas são estimados em US$ 150 milhões.
Além de Marin, Teixeira e Del Nero, outros dois brasileiros são investigados: José Hawilla e José Marguiles, da empresa Traffic. Os dois empresários, no entanto, declararam-se culpados.
Marin, que negava as acusações, teria recebido R$ 25,5 milhões em propina, segundo os investigadores.
José Maria Marin, de 85 anos, foi vereador, deputado estadual, vice-governador em São Paulo. Chegou a assumir o governo do estado entre maio de 1982 e março de 1983. Marin foi presidente da Federação Paulista de Futebol de 1982 a 1988. Depois de ser vice-presidente da CBF durante a gestão de Ricardo Teixeira, assumiu a presidência da entidade nacional em 2012, quando Teixeira renunciou ao alegar problemas de saúde. Marin ficou no cargo até 2015, quando Marco Polo Del Nero assumiu a presidência.