A polêmica no fim do jogo entre Grêmio e Lanús apenas trouxe à tona uma discussão que ocorreria, mais cedo ou mais tarde.
A ideia do árbitro de vídeo no futebol é boa e necessária, mas precisa de uma fórmula. Não é necessário que seja uma invenção extravagante – basta adotar modelos que já fazem parte da cultura de outros esportes. Hoje em dia, várias modalidades já usam a tecnologia para revisões. A presença dos desafios são recorrentes no futebol americano, vôlei e tênis, por exemplo.
Pela minha experiência na cobertura de NFL, é preciso que os responsáveis pelo futebol coloquem à mesa um debate mais claro e definam pontos importantes em vez de tentar aplicar, de maneira apressada, uma tecnologia que só serve para aumentar as discussões em torno do apito.
O primeiro ponto é que, no formato atual, a revisão fica totalmente sob responsabilidade dos árbitros. Se por ego ou hipotética má intenção, por exemplo, o juiz principal não quiser revisar um lance ou quiser manter o erro, ele pode. Fica evidente que o desafio tem que partir, também, dos treinadores. No futebol americano, por exemplo, cada técnico pode pedir dois desafios. Se acertar ambos, ganha um desafio extra.
É preciso também que se defina e se divulgue claramente quais são os lances passíveis de revisão ou não. Na NFL, há uma lista de jogadas que podem ser desafiadas – posicionamento da bola, ver se um jogador saiu ou não de campo, conferir se um passe foi ou não completo. Mas a maioria das faltas, por exemplo, não pode ser mudada, já que os árbitros têm a visão do momento dos lances. Diferentemente do futebol, no futebol americano a revisão se sobrepõe à marcação do árbitro principal, concorde ele ou não.
Outro ponto: ninguém teve a garantia, na hora do jogo, de que o árbitro chileno Julio Bascuñan pediu a revisão. Ninguém sabe se o lance do pênalti sobre Jael foi revisado. É preciso ser mais transparente. Quando um lance é avaliado pelo árbitro de vídeo, é preciso que fique claro que ele foi analisado. Na NFL, o árbitro principal sempre anuncia para todos qual o resultado da revisão – mesmo que a marcação de campo tenha sido mantida.
O árbitro de vídeo é necessário e bom para o esporte. Mas não pode, como tudo parece ser no futebol, autoritário, desorganizado e inconsistente.