D'Alessandro no Inter. Marcelo Grohe no Grêmio. Marcos no Palmeiras. Rogério Ceni no São Paulo... E Alexandre no Avenida.
O meia, que ganhou o apelido de "canhota mágica", por sua habilidade e sua precisão no pé esquerdo, vai para a 13ª temporada no time de Santa Cruz do Sul. Aos 33 anos, renovou seu vínculo para jogar o Gauchão de 2018 pelo clube do Estádio dos Eucaliptos.
Mas é preciso contextualizar duas situações que deixam a marca de Alexandre Camargo ainda mais impressionante. A primeira: é muito mais fácil criar vínculo com um time grande, que tem altos salários, calendário cheio e contratos longos. Conseguir isso em um clube do Interior é uma raridade. Para se ter uma ideia, Claudio Milar, o maior ídolo do Brasil-Pel, um caso de amor e identificação, esteve seis anos em Pelotas.
A segunda situação é uma consequência da primeira. Como o Avenida quase nunca jogou o ano todo, Alexandre teve passagens por mais de uma dezena de times, do Interior e do Exterior. Mesmo assim, sempre voltou para Santa Cruz.
E tudo começou meio por acaso. Em 2005, estava até pensando em largar o futebol após passar pela categoria de base do Inter quando foi levado aos Eucaliptos. À época, Jair Eich havia assumido a presidência do clube com o único objetivo de manter em atividade. Assim, Alexandre e os demais jogadores moravam no alojamento do estádio. Lá morou nos dois primeiros anos, até conhecer Thiara, sua namorada. Com a mudança de status de relacionamento, pediu ao clube para morar em um apartamento.
A troca foi justa. No ano que se mudou, foi o principal destaque do time. E começou sua peregrinação. Funcionava assim: Alexandre assinava com o Avenida e era emprestado para disputar o Gauchão por outro time. O primeiro foi a Ulbra, com Beto Campos. Na volta, levou o Avenida ao Gauchão com o vice-campeonato da Divisão de Acesso. Sua participação no Estadual (o único acesso do clube que não teve rebaixamento imediato, aliás) chamou atenção de empresários europeus, que o levaram para o Gil Vicente, de Portugal.
— Foi uma experiência boa, apesar da crise econômica que atrasava nossos salários. Mas fiquei amigo do Hulk, que jogava no Porto, jantávamos na casa dele — lembra.
Dois anos depois, a volta ao Rio Grande do Sul foi para o Avenida, é claro. E para os clubes-satélites que o adquiriam por empréstimo. Assim, vestiu as camisas de Brasil-Pel, Brasil-Far, Panambi, Guarani-VA, Novo Hamburgo, Passo Fundo e Guarany-Ba. Não teve região nesse Estado que o meia natural de Ibirubá não tenha representado.
Nesse tempo, realizou um sonho quase impossível para um jogador do Interior. Em 2011, assinou um contrato de cinco anos com o Avenida. O acordo era relativamente simples: quando o Avenida jogava, Alexandre vestia verde e branco. Quando parava, era emprestado ao clube que pagasse ao menos uma parte de seu salário. Ou, como agora, disputava campeonatos amadores da região. Ganhou tanta moral e confiança que passou a morar em um apartamento do presidente Jair Eich. Por isso, apesar de ter recebido propostas para sair, preferiu jogar os três campeonatos de várzea em que está inscrito ao mesmo tempo.
— Me sinto muito bem aqui. É difícil criar tanta ligação com um clube, com uma cidade. Em 2010, morava em Portugal e acompanhei o Gauchão ouvindo rádio e falando com as pessoas. Sou um torcedor. E fico feliz de ter participado dos quatro acessos mais recentes do Avenida.
Com tamanha identificação, foi impossível não perguntar: jogaria no Santa Cruz, arquirrival?
— Não tem como. A essa altura da carreira, fazer isso só mancharia minha imagem. É até um desrespeito ao Avenida, que é o clube do povo.