Contratado em 7 de março para evitar o que se avizinhava como uma iminente queda do Juventude à Divisão de Acesso no Estadual, Gilmar Dal Pozzo não resistiu à série de quatro derrotas consecutivas na Série B e, após a 31ª rodada, foi demitido. O curioso é que a brusca queda de rendimento da equipe ocorreu justamente quando o primeiro objetivo foi cumprido: chegar aos 45 pontos, o número mágico para escapar da Série C. O time que chegou a liderar o campeonato no primeiro turno, deixando o favorito Inter na poeira, parou. Com a demissão de Dal Pozzo, o ex-goleiro do Juventude Márcio Angonese, assumiu como interino.
Zero Hora conversou com Dal Pozzo. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Como você recebeu a notícia da demissão?
Com surpresa. Quando fui contratado foi me dada uma missão pela diretoria: que, por favor, eu não deixasse o Juventude cair para a Segunda Divisão (gaúcha). Tínhamos que ganhar do Inter e, se não ganhássemos, o risco de cair seria grande. O segundo objetivo era o de formar novos jogadores, de contratar jogadores do nosso conhecimento para manter o time na Série B nacional. Consegui cumprir com os meus objetivos, ao menos saio em paz com isso. É claro que gostaria de ter terminado o meu trabalho, mas entendi que a situação havia ficado um tanto insustentável. Ficamos oito rodadas na liderança, mais 24 rodadas no G-4. O trabalho foi muito bom.
Faltou elenco para sustentar uma campanha em um campeonato longo?
Foram vários fatores. Tivemos até problema de caxumba. Faltaram peças de reposição naquele momento. Tínhamos um orçamento limitado e precisávamos trabalhar dentro dele. A saída do Ruan foi muito sentida. Além de uma queda de rendimento técnico dos jogadores, o nível de concentração baixou um pouco, mas foram vários fatores.
Em Caxias do Sul, se disse que houve até um certo ranço da torcida do Juventude pelo fato de você ter tido uma carreira no Caxias.
Acho que no final houve algo tendencioso nesse sentido. Quando assumi houve uma pesquisa e se disse que era um sonho da torcida a minha contratação. Não se pode dizer isso. A torcida apoiou e ficou feliz quando estreamos com vitória sobre o Inter no Gauchão. É claro que, depois, que o resultado não vem começa a se associar a outras coisas. Mas sempre tive postura com a torcida, com a imprensa. Ter sido ídolo no Caxias é difícil, claro que é. Houve um pouco de maldade nesse tipo de comentário. Mas foram poucos.
Há pouco mais de um mês o Juventude venceu o Inter com autoridade no Jaconi. O que houve de lá para cá?
É...(suspiros) tivemos aquele momento bom, depois oscilamos, depois retomamos a campanha com o Inter. Depois, ganhamos do Criciúma e engrenamos de vez. Tivemos uma sequência boa, com cinco partidas de invencibilidade. Depois de chegar aos 45 pontos tivemos uma queda de rendimento e é até difícil de explicar, pois pensava que brigaríamos até o fim pelo acesso.
A gestão do Juventude é muito elogiada, mas por acaso houve atraso de salários?
Não. A gestão do Beto (o presidente Roberto Tonietto) é exemplo no Brasil todo. A gestão do presidente do Juventude é exemplo. A do presidente. É um visionário e, olha, estou saindo do clube. Mas tenho de falar a verdade. Foram poucos assim, ele, o Sandro Pallaoro (ex-presidente da Chapecoense, morto na tragédia aérea de Medellín)...
O quanto aquela ideia de estruturar o clube para subir a partir de 2018 atrapalhou o time?
Não dá para falar isso agora, pois quando estávamos na liderança ninguém disse nada. Para o Juventude entrar na Série A tem de melhorar muito ainda. Mas isso não foi determinante. Lideramos o campeonato com o mesmo grupo. Houve uma queda de rendimento. Todos os times oscilam, mas oscilamos na reta final. E foi fatal. O Corinthians está oscilando, mas tem mais gordura do que tínhamos e um orçamento bem maior para se manter na liderança.
O Juventude pode se remontar por completo no ano que vem e, daí, sim, conseguir o acesso para a Série A?
Se seguir o modelo de gestão do presidente, sim. Mas tem de mudar alguns departamentos.
Com o que você está incomodado?
Estou incomodado, mas não vou falar. No futebol, há a figura do presidente e ele delega funções em todos os departamentos. E tudo tem de funcionar. A ideia é o modelo do presidente, que deve ser seguido em todo os setores. Mas o Juventude ainda tem de melhorar muito em alguns departamentos. É um processo de reconstrução do clube, é algo normal de quem esteve lá embaixo. Eu queria deixar como legado um time-base, com 50%, 60% do elenco para a temporada seguinte, mas não sei como vaio ficar agora.
Pelo que você viu até agora na Série B quem serão so quatro clubes que subirão?
O Inter, com certeza, e devendo subir como o campeão. Está sobrando. O América-MG sobe também. Pela regularidade. E aí vêm forte Paraná, Ceará e Vila Nova. Duas vagas para três. O Oeste corre por fora.
Você assumirá um time agora ou dará um tempo até o fim do ano?
Esse ano eu não trabalho mais. Vou começar algo no ano que vem. Foi um ano muito desgastante. Formei o Ceará, que está para subir. Agora quero viajar e fazer alguns cursos, me reciclar.