Luiz Eduardo Jard de Carvalho define Neymar, o jogador de 222 milhões de euros, com uma palavra:
– Perfumado.
Como assim, perguntei, numa tentativa de buscar mais detalhes:
– Ele é perfumado, muito perfumado.
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Luiz Eduardo fala com autoridade. Ele é o menino que furou o bloqueio da segurança na noite de sexta-feira, quando a Seleção Brasileira deixava o Radisson Hotel e se despedia de Porto Alegre. Acostumado a driblar zagueiros na escolinha do Grêmio, o guri só não conseguiu escapar do segurança da Seleção Brasileira.
A roupa com o perfume de Neymar é só uma das lembranças daquela noite fria de sexta-feira no altos da Lucas de Oliveira. Luiz Eduardo proibiu a mãe de lavar a camiseta preta. Ela está guardada no roupeiro, como um troféu. Mas Neymar deixou mais para o guri. Uma selfie e uma emoção tamanha que perturbou seu sono. Naquela noite, sonhou quase o tempo inteiro com seu craque. Se viu com a camiseta amarela da Seleção Brasileira trocando passes com o ídolo e fazendo um estádio lotado de torcedores rugir. No meio do sonho, diz, acordava, de sobressalto. Voltava a dormir e retornava ao campo dos sonhos em que ele, atacante pela direita, formava ataque com Neymar.
– Como era esse sonho? – indaguei.
– Era como no tempo em que ele jogava com o Messi – respondeu Luiz Eduardo, de forma simples e direta.
O Messi, no caso do seu sonho, era interpretado por ele. Luiz Eduardo, do alto dos seus 10 anos, não vê disparate nisso. Acredita que o sonho tenha origem por ter características parecidas às de Neymar. É ambidestro, joga pelo lado buscando o meio para o arremate e faz gols. Muitos gols. Foi por eles que veio para o Grêmio em novembro. No ataque da seleção de Corumbá, disputou o campeonato sul-mato-grossense da categoria em Dourados. Fez 13 gols em cinco jogos. O técnico da escolinha local, a Pró-Gol, indicou-o para um teste no Grêmio. Ele veio, passou e ficou.
Desde o final do ano, mora com a mãe, Lediane, e o irmão, Victor Luiz, em um apartamento no Cristal. O pai, Wando Luiz, é sócio em uma firma de sistema de segurança eletrônica e ficou em Corumbá para cuidar do negócio da família. A cada dois meses, vem a Porto Alegre. Dessa vez, teve de antecipar. Na terça-feira, a mãe levou Luiz Eduardo para ver o treino da Seleção no Beira-Rio. Mas era fechado, e eles bateram com a cara na porta. O guri voltou para casa aos prantos. E assim passou a noite.
Lediane não teve outra saída a não ser recorrer ao pai. Wando fez seis horas de ônibus de Corumbá até Campo Grande. E mais sete de avião até Porto Alegre. Na manhã de sexta-feira, desembarcou em Porto Alegre. O filho estava mais calmo. Mas não se esquecia de Neymar. No final da tarde, saíam do Cristal quando ele pediu para ir ao hotel da Seleção. Não foi sozinho. Além do irmão, a trupe ainda contava com os parceiros de Grêmio Caio, Arthur e Kevin.
Depois de duas horas de plantão, os primeiros jogadores saíram. Luiz Eduardo subiu no gradil e apoiou o pé. estava pronto para saltar assim que aparecesse o ídolo. Veio Willian, ele não pensou duas vezes e pulou. A segurança o agarrou. Willian se sensibilizou e pediu que o deixassem se aproximar. Ganhou selfie e autógrafo em um boné presenteado pelo assessor de imprensa da CBF, Vinícius Rodrigues.
Faltava Neymar. Mas ele passou a ser vigiado pelas duas seguranças do hotel que ajudavam a controlar a torcida.
– Aqui você não entra mais – avisou uma delas.
Foi quando o irmão mais velho sugeriu-lhe que fosse para o outro lado. O pai nem havia percebido a movimentação do guri. Ele ficou quietinho, pé apoiado no gradil e corpo posicionado para o salto. Quando Neymar despontou, ele saltou. O segurança o reteve, mas Neymar parou. Pediu que o deixassem se aproximar. Luiz Eduardo ficou tão nervoso que se esqueceu do que tinha ensaiado para falar. E também da caneta para ganhar o autógrafo. O diálogo foi curto e rápido:
– E aí? – disse.
– E aí – respondeu o ídolo.
– Posso tirar uma foto com você? – pediu.
– Claro, vamos lá.
Por sorte, a bateria do celular, que estava por um fio, foi suficiente. O guri ainda caminhou dois ou três passos pendurado no pescoço de Neymar. Até se separarem.
– Tchau, Neymar – disse.
– Tchau – despediu-se o craque.
Luiz Eduardo pulou a grade e ainda concedeu entrevista ao vivo para o programa Tá na Área, do SporTV. Atendeu a outros repórteres e tomou o caminho de casa. Com o cheiro de Neymar na roupa, uma selfie no celular e uma noite pela frente em que sonharia ser Messi e faria dupla com o jogador mais caro do mundo.