A cada quatro jogos da Copa Paulo Sant’Ana, três têm mais gente em campo do que na arquibancada. A média de público das 19 partidas cujos borderôs foram divulgados é de 62 pagantes por partida. Se considerarmos que cada time leva pelo menos 20 jogadores e quatro integrantes de comissão técnica, mais o quarteto de arbitragem, agentes da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), maqueiros e gandulas (e nem contamos os repórteres), estima-se que haja pelo menos 65 pessoas no gramado. Assim, é possível dizer: na Copinha, tem mais gente atuando do que torcendo.
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De acordo com os relatórios disponíveis no site da FGF, o maior público se deu em Pelotas x Guarany-Ba. Naquele domingo, a Boca do Lobo, com capacidade para mais de 20 mil torcedores, recebeu 274 pessoas. Apenas esta e mais três partidas passaram de cem pessoas, enquanto outros 12 jogos não chegaram a 50 – e nesses, estão incluídos todos (sim, to-dos) os duelos do Grupo C.
Ainda que tenha como principais atrativos uma vaga para a Copa do Brasil e outra para a Série D do ano que vem, a Copa Paulo Sant’Ana não mexe com as comunidades. A resposta do público desaponta dirigentes e profissionais. Mas reflete a situação do futebol do Interior.
– Antigamente, o Gauchão era disputado o ano inteiro. Agora, são dois ou três meses de Gauchão ou Divisão de Acesso e mais dois meses de Copinha. Não tem como fazer um planejamento maior – lamenta o presidente do Aimoré, Paulo Costa.
A opinião ganha força do outro lado do Estado. Pedro Trindade Martins, o Sabella, presidente do Guarany-Ba, é mais pessimista com o quadro atual:
– O futebol do Interior está morrendo. Na verdade, estão nos matando. Há muita desunião entre os clubes. Quem está no Gauchão, não pensa na Divisão de Acesso. Quem está no Acesso, não pensa na Terceirona. Nós, mesmos, só jogamos porque temos parceria com o São Gabriel e com o Avenida, dividimos os salários. E ainda assim, está atrasado.
O Três Passos é um clube que está neste caminho. Sem conseguir adequar o novo estádio às normas exigidas pelos órgãos de segurança, precisou mandar partidas no Vermelhão da Colina, em Frederico Westphalen. Os constantes prejuízos obrigaram a direção a desistir do futebol profissional a partir do ano que vem.
– Tentamos de todos os jeitos liberar, nas poucas vezes em que atuamos, nunca tivemos problemas. Não dá para manter assim – lamenta o presidente Edílson Müller, o Milla.
Gerente de futebol do Nova Prata, Eduardo Capelari considera que poderia ser pior:
– A situação é difícil, mas aqui no Rio Grande do Sul ainda é melhor para os clubes do que em outros Estados. Trabalho em Santa Catarina e no Paraná, e só aqui a Federação paga arbitragem. Isso diminui bastante os custos.
O que fazer para mudar o cenário?
O Bagé até está buscando uma solução. Pelas mídias sociais, o clube e o Guarany-Ba trocam provocações para fomentar a rivalidade e fortalecer o bairrismo.
– A concorrência é dura, com tantos jogos disponíveis na TV. Mesmo assim, acreditamos que não tem outra saída a não ser jogar. Se parar, aí mesmo é que não vamos ter torcedores – alega o presidente do Bagé, Rafael Alcalde.
O presidente da FGF, Francisco Novelletto, crê em um cenário mais otimista na próxima fase, que começa na semana que vem.
– Isso tudo espelha nossa situação no país e no Estado. A TV também está tirando muita gente dos estádios, principalmente à noite. Imagino que, nos mata-matas, a média de público melhore.