O Brasil encerrou o último Campeonato Mundial de Judô com cinco medalhas. Destes pódios, três tiveram a participação de atletas da Sogipa. Mayra Aguiar ganhou a única medalha de ouro, Maria Portela fez parte do time vice-campeão na disputa mista, assim como Erika Miranda, que também foi bronze na categoria meio-leve.
Atleta das mais experientes, Erika Miranda já tem em seu currículo seis medalhas em campeonatos mundiais, quatro delas individuais, além de um ouro e duas pratas em Jogos Pan-Americanos. Porém, a judoca de 30 anos ainda busca sua primeira medalha olímpica, após duas participações que não terminaram como ela imaginava, com uma eliminação na estreia em Londres-12 e a derrota na disputa pelo bronze no Rio-16.
Em conversa com a Rádio Gaúcha e Zero Hora, Erika falou sobre a escolha por continuar a carreira defendendo as cores da Sogipa, "para beber dessa água de campeões mundiais" e também abordou a crise do esporte brasileiro, especialmente após as denúncias envolvendo compra de votos para os Jogos Rio 2016, o que a deixou "decepcionada em saber o modo como a Olimpíada veio para o Brasil", que segundo ela "não foi feita para o povo brasileiro".
Terceiro-sargento da Marinha, Erika Miranda acredita que "provavelmente tudo que foi utilizado na Olimpíada possa ter sido adquirido de forma ilícita". A atleta disse acreditar que "um legado ficaria, que tudo iria ser diferente" depois dos Jogos.
Confira os principais trechos da entrevista com Erika Miranda:
Como foi a conquista de uma nova medalha no Mundial de Budapeste?
Foi uma medalha bem disputada. Um ano após um resultado que eu não queria na Olimpíada (ficou em quinto, após perder disputa do bronze), ganhar essa medalha tem um significado muito importante, ainda mais em uma nova casa com tradição, como a Sogipa.
O que trouxe para a Sogipa, depois de muitos anos atuando pelo Minas Tênis Clube?
A Sogipa tem uma tradição muito grande em campeões mundiais e em medalhas olímpicas. Eu até brinquei com o sensei Kiko (Antônio Carlos Pereira, técnico da Sogipa), que eu queria beber dessa água dos campeões mundiais, essa água dos gaúchos. Ganhei o bronze e ele me disse que tenho que beber um pouquinho mais. Então vamos treinar para que venha o ouro.
Como tem sido para o atleta de judô esta constante troca de regras, que busca deixar a modalidade mais atrativa?
É um pouco confuso para quem assiste e também para quem luta, porque todos os anos umas regras permancem e outras acabam mudando e você tem que se adaptar. A ideia é o judô fique mais atrativo e que quem assiste a luta, entenda o que está acontecendo. Essas mudanças ajudam alguns atletas pelo estilo, mas prejudicam outros também. Mas no geral, o judô ficou muito mais competitivo, muito mais físico. Então na basta er só uma boa técnica, tem que ter um bom condiconamento físico e uma estrategia adequada.
Como atleta, como você analisa todas as denúncias de corrupção que surgiram envolvendo os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro?
Surpreendida e decepcionada em saber o modo como a Olimpíada veio para o Brasil, como isso aconteceu. O sonho de todo atleta é participar dos Jogos. No Rio, nada foi feito para o povo brasileiro, o preço dos ingresso foi absurdo, a estadia era cara, tudo era exorbitante. E depois de um ano que tudo foi feito de forma ilícita é uma chateação. Eu pensei que iria ficar um legado, que tudo iria ser diferente, mas parece que está pior. Se tivesse na mesma, você iria levando, mas piorou. Depois da Olimpíada, quem ganhou medalha não teve melhora nenhuma de vida. Projetos sociais estão fechando as portas porque não tem investimento. E do outro lado você dinheiro sendo gasto com outras coisas, um rombo gigante, que poderia ser utilizado de forma correta e não está. É realmente decepcionante.
Os atleta se sentiram usados com o discurso de que a Olimpíada mudaria tudo, investimento, etc...?
Não me sinto usada, porque quem pratica esporte olímpico, independente de recursos, ama o esporte e seguirá. Mas o que traz a maior chateação mesmo é saber que as coisas aconteceram dessa forma, que os recursos poderiam estar sendo utilizados com jovens, crianças e não estão sendo. E o pior é que a gente nem sabe para onde foi esse dinheiro. Então imagina ainda o que vai acontecer? Infelizmente mais coisas (denúncias) virão à tona.