É isso mesmo o que você leu. Qualquer ação ou pensamento é guiado pela nossa falta de ética. Desde o berçário, temos de fazer escolhas. O fato de você simpatizar com alguma coisa, escolher um lado ou defender uma cor, automaticamente, te surrupia qualquer nesga de honestidade. Invariavelmente, muitas pessoas pensam dessa forma equivocada.
Por exemplo: há quem acredite que um auditor ou promotor da Justiça Desportiva, por ser gremista ou colorado, vai beneficiar o clube do coração. Outros entendem que um jornalista que começou a gostar de futebol por torcer por um clube vai distorcer os fatos para prejudicar A ou B. Há os que têm certeza que um árbitro deixa se levar pela sua paixão do tempo em que era torcedor. Será que não dá para optar em ser honesto? Óbvio que dá. Noventa e nove por cento dos casos citados trabalham sob esta ótica.
Todo mundo teve um time, para o qual torcia, ia ao estádio etc. Ouço, costumeiramente, que acabaria a paranoia se os cronistas abrissem seus times de coração. Penso o contrário. Hoje, pelo menos, ainda existe a dúvida: será que o fulano é nosso ou deles? Com isso, muitas implicâncias são diluídas. Imaginem o momento em que determinado cronista ou apitador dizer: sou colorado. Não poderá nem passar na porta da Arena. E vice-versa.
Vai ficar aquela pulguinha atrás da orelha. "Ah, o fulano disse que foi impedimento, mas ele é gremista!" Infelizmente, não estamos preparados para isso. De lidar com o contraponto e ter discernimento de que as pessoas podem conduzir suas atividades com seriedade, correção e honestidade.
Vivemos do trabalho jornalístico. Quanto maiores coberturas fizermos, melhor para nós. Independentemente que seja o Grêmio, o Inter ou outra equipe. Estaria jogando contra o meu patrimônio. Por isso, ainda acredito na honestidade das pessoas. Que a paixão pode ser colocada de lado pelo jornalismo.
Ninguém é filho de chocadeira. Só que as nossas opções não devem fazer parte da boa condução do jornalismo praticado. É possível, sim, agir assim, nutrir grande afeição pelo "tradicional rival". Porém há quem não acredite. Que ache que somos um bando de vendidos, aproveitadores e corporativistas. A eles, eu deixo o direito de pensar o que quiserem, desde que respeitem a minha lisura e a condução profissional.
Eu não preciso ter lado. Posso muito bem executar minha profissão tendo os dois lados. É matemático: por que priorizarei agradar a 50% se posso ter quase o todo. É uma questão de inteligência. Terminando o texto digo: não sou gremista, não sou colorado, não sou xavante etc. E contrariando o título do artigo: sou honesto!