Neste sábado, no sintético do Passo D'Areia, o São José poderá encaminhar o capítulo mais brilhante dos seus 104 anos de vida. A partir das 15h, recebe o Atlético-AC, no jogo de ida das quartas de final da Série D. Um bom resultado deixa o Zequinha a um passo do sonho de jogar a Série C e, enfim, ter um calendário garantido no segundo semestre. Conversei com o técnico China Balbino sobre o jogo, que também é o maior desafio em seus dois anos de carreira, todos à frente do São José.
Como buscar informações do Atlético-AC, já que a Série D não tem transmissão na TV?
Sabemos que essa equipe se classificou em primeiro lugar no grupo, têm um ataque muito forte e quatro ou cinco jogadores que fazem diferença do meio para a frente. Esse time tem jogadores que atuam desde os 12 anos juntos com o mesmo treinador, o Álvaro Miguéis.
Conseguir essas informações exige quase um trabalho de detetive, não?
Temos relacionamento com muitas pessoas dentro do futebol. Foram elas que nos passaram sobre o poder de ataque do Atlético-AC. Também buscamos vídeos no Youtube. Tu tens uma ideia do treinador, do estilo de futebol que ele adota, e essa ideia não muda. Os analistas das outras equipes querem nos ajudar. O do Gurupi (eliminado pelo Atlético-AC nas oitavas) me ligou. Os caras do Rio Branco, rival deles no Acre, me ligaram, assim como os do Princesa do Solimões, do Amazonas. Isso é muito legal. Depois da partida em São Bernardo, os caras do clube se colocaram à disposição para nos ajudar. O mesmo haviam feito os do Ituano, lá na primeira fase. Eles viram que estavam saindo por uma que fez por merecer.
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O gramado sintético é o trunfo do São José?
Não, não penso assim. O nosso trunfo é que jogamos na nossa casa. Nossa história nesta Série D nos deixa otimista. Estamos sem levar gol há três jogos. Nos classificamos em um grupo em que havia o Ituano. Depois, tiramos no mata-mata o Brusque, que tinha um ataque muito forte. Pegamos o São Bernardo, um dos maiores investimentos da competição. Não vamos mudar nossa maneira de jogar. Agora, se quisermos entrar para a história, temos de passar dificuldade.
O jogo de Porto Alegre é fundamental, já que decidirá lá em Rio Branco, com calor e outras adversidades criadas pelo ambiente?
Assim como nós jogaremos no calor, eles vão enfrentar frio aqui. Cada jogo é uma história. Digo para os jogadores que cada treino é decisivo, cada jogo é decisivo. Quando empatamos em 0 a 0 com o São Bernardo aqui, todos achavam que não íamos passar porque decidiríamos no ABC Paulista. Temos de buscar o resultado como sempre. São 180 minutos, tudo pode acontecer, independentemente de ser aqui ou no Acre.
Como lidar com a ansiedade antes do jogo do século do São José?
Temos controlado muito bem isso, todos os atletas estão cientes do que podem fazer e do que já fizeram. É o maior desafio para nós por ser em nível nacional, mas já passamos por momentos decisivos nestes quase dois anos aqui. Todos os anos temos estado em decisões. A euforia, a gente deixa para os torcedores, a direção. Sabemos que é a história da nossas vidas e de uma agremiação de 104 anos. É dessa maneira que contemos ansiedade
É o jogo mais importante da sua curta carreira, afinal.
Sim são 15 dias que podem mudar as histórias das nossas vidas. Esse processo era importante na minha carreira, para conhecer o Brasileirão. Que Deus me dê saúde para coroar com os jogadores, a comissão e a diretoria. Será importante para todos, para o Estado, para o São José e para nossos familiares, que estão torcendo muito.
Você tem conseguido dormir direito nesta semana?
Eu durmo muito pouco normalmente. Na semana passada também tivemos muito pouco tempo para relaxar. Procuro trazer todas as informações para o grupo, para que possam saber o que fazer em campo em casa situação. Entro noite adentro estudando o adversário, vendo as melhores possibilidades. Tudo isso vale a pena quando, ao final dos 90 minutos, dá resultado. Na segunda feira, fui dormir às 5h da manhã. Estava projetando o jogo, vendo vídeos. Estamos vivendo isso de forma intensa.
E a faculdade. Tem ido às aulas?
Curso educação física na Ulbra. Estou começando o quarto semestre. Tenho de agradecer aos professores e coordenadores, que têm o entendimento da minha profissão. Estava de férias, as aulas foram retomadas há uma semana. Na próxima semana começa a Copa FGF e vai ficar ainda mais apertado.
Quanto serve de inspiração a coragem do zagueiro Wagner, que precisou se afastar para iniciar tratamento contra o câncer?
O Wagner é um líder. Para ter uma ideia, me ligou na segunda-feira, do hospital, onde está fazendo a quimioterapia. Ele me pediu: "Professor, quero me fardar, quero participar." Só mostra o quanto está comprometido. É isso que falo da responsabilidade. O cara está em um momento difícil na vida dele, mas quer estar presente, lutando. Hoje, o São José é uma família aguerrida. Isso que aconteceu com ele nos fez refletir a cada momento, agradecer a Deus por ter saúde, por poder trabalhar. O Wagner sempre foi uma liderança. Temos certeza de que em breve estará conosco, jogando.