Quando cheguei à Sogipa, eu era apenas um menino agitado que tinha asma. A prática do judô, que começou por indicação médica justamente para aplacar o problema respiratório, acabou sendo a minha vida. Porém, nada do que me ocorreu depois, incluindo a carreira esportiva, os dois títulos mundiais e vida pública, seriam possíveis se este clube que agora completa 150 anos não tivesse aberto as portas para mim.
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Sou fruto de uma proposta acolhedora, que enxerga o esporte como uma forma de integração entre as pessoas e de promoção da saúde e da educação. Ao ser integrado primeiro à escolinha e, em seguida, à equipe de judô, juntei a minha personalidade, mesmo que sem consciência na época, valores como respeito ao próximo e às regras, disciplina, generosidade, dedicação e companheirismo. Aprendi a procurar aos erros e a trabalhar para corrigi-los. Aprendi a cair e a levantar.
Acabei me transformando em um atleta de renome, que conquistou dois títulos mundiais e representou o Brasil nas mais importantes competições do planeta, como os Jogos olímpicos, mas fui uma exceção. A grande maioria de meus companheiros levaram os ensinamentos do esporte para a vida que tiveram depois daquelas nossas primeiras quedas no tatame da Sogipa. Foram e são melhores pais que seriam sem o esporte. E são grandes engenheiros, médicos, jornalistas, advogados...
Comecei a praticar judô por acaso e me transformei em atleta. Corri o mundo lutando, defendendo as cores do Brasil e da Sogipa. Me orgulho de ter recusado vários convites de outros clubes e de jamais ter deixado a minha casa, que é aquele tatame sogipano. Fui fiel ao Kiko, meu treinador desde sempre, e a essa grande família que me acolheu quando eu tinha só 6 anos. E essa fidelidade é minha maior medalha.
Na Sogipa, naquele tatame sagrado que tantos campeões fabricou, tem muito suor meu. Ali tem uma parte de mim que nunca sairá de lá e que com certeza será reencontrada por meus filhos Benício e Isabela. Sim, porque eu quero que eles vivam o que eu vive dentro da Sogipa. E que se não sejam grandes atletas, que sejam grandes cidadãos. Eu estarei, como pai, satisfeito.
Pena, pena mesmo, que não existem dezenas de Sogipas espalhadas pelo Brasil. Se houvesse, as escolas estariam mais cheias e as penitenciarias mais vazias. E as pessoas seriam mais realizadas e felizes. Como eu fui e sou.